RJ entrevista a solteirona mais famosa do Brasil

Campina Grande, 3 de junho de 2012

Socorro Luna

Você pode não a conhecer pelo nome, mas pelo título de “a solteirona mais famosa do Brasil” fica fácil saber quem é Maria do Socorro de Luna, ou simplesmente Socorro Luna. Criadora dos chás, essências e todas as simpatias que uma solteirona tem direito, Socorro já faz parte da cultura popular de Barbalha na tradicional festa do Pau da Bandeira, na Noite das Solteironas, um dos eventos que abre as celebrações da Festa de Santo Antônio, padroeiro da cidade, é a prova mais concreta disso.

Todos os anos, encalhadas de todos os cantos do país aparecem na Noite das Solteironas para fazer promessas e cumprir todas as etapas das simpatias preparadas por Socorro, em busca do mesmo objetivo: casamento. Em entrevista ao Repórter Junino, Socorro Luna explica desde o surgimento do título ao reconhecimento dos trabalhos em arranjar casamento para todos.

Repórter Junino: Além de carregar consigo o título de solteirona mais famosa do Brasil, qual a profissão de Maria do Socorro Luna?

Socorro Luna: Sou advogada. Sou especialista em direito familiar.

Repórter Junino: Barbalhense?

SL: Sou genuinamente barbalhense!

Repórter Junino: Como começou essa tradição da Noite das Solteironas dentro da festa de Santo Antônio?

SL: As quermesses sempre foram muito tradicionais em cidades pequenas, ao lado das igrejas, e eu sempre fui muito apaixonada por esse tipo de cultura. Na festa de Santo Antônio, elas tinham acabado. A festa tinha crescido muito, e com a criação do Parque da Cidade, tudo havia se concentrado nos grandes shows. Então, nós tivemos essa preocupação de resgatar essa nossa cultura, não podíamos deixar isso morrer por nada. Então, eu e um amigo meu também advogado, Josefá Magalhães, já falecido, de saudosa memória, tivemos essa ideia. Fomos ao lado da igreja, timidamente amarelos, pálidos, botamos dez mesinhas ali, com as cadeiras, e nós mesmos éramos garçons, cozinheiros, caixa.

Repórter Junino: Só vocês dois?

SL: Não. Tínhamos uma pequena equipe. Poucas pessoas, todos tímidos, e o trabalho era voluntário. E aí, num belo dia, esse meu amigo me falou que não podíamos deixar aquilo morrer, e então perguntou por que eu não assumia sozinha uma das noites. Eu resisti, por causa do trabalho que dá, mas aí ele falou: ‘Você deveria assumir uma noite. Você não é nem casada. Cadê a noite das encalhadas, das moças velhas?’. Aí resolvi aceitar, e fui pensar num nome: ‘A noite de que, das Protegidas de Santo Antônio, a Noite das Encalhadas?’. E fui procurando nomes. Acabou que escolhemos o nome de Noite das Protegidas de Santo Antônio – As Solteironas. Assumi a noite e fiquei pensando: ‘Bom, mas vai ser uma noite como qualquer outra. As pessoas vão chegar, comer, beber e depois vão para casa’. Eu queria algo diferente. Santo Antônio é tido como Santo Casamenteiro em todo o mundo, não é? Não somente em Barbalha. Nós já tínhamos a festa secular, a tradição e o hasteamento da bandeira que, comumente, foi chamando de Pau de Santo Antônio, e também já tinha a tradição de que, se pegasse no pau da bandeira, as pessoas descalhavam. E aí tive a ideia de pegar a casca da madeira do pau de Santo Antônio, que comumente é sempre medicinal, e fazer um chá, e então eu o intitulei de Chá Casamenteiro, e tive também a ideia de pegar a casquinha do paue fazer um kit. Criei as orações e ficou uma coisa bem interessante.

Repórter Junino: E o que tem nesse kit?

SL: Medalha, fitinha, oração a Santo Antônio.

Repórter Junino: E como foi a aceitação do público ao kit casamento?

SL: No começo eu saia vendendo de mesa em mesa, dizendo que era o kit de Santo Antônio, como usar e tudo.

Repórter Junino: Como as pessoas reagiam?

SL: Elas riam, mas acabavam comprando. Sou uma pessoa muito conhecida na cidade, e as pessoas começavam a comprar, ou pra me agradar ou pra se verem livres de mim nas mesas. Mas depois disso, o negócio foi crescendo. Eu já tinha ido para a TV, dar umas entrevistas a respeito da festa. E aí veio uma equipe de um programa de TV, ficaram instalados e acharam um sucesso as novidades da festa. E aí o kit e os produtos se tornaram um sucesso.

Repórter Junino: Esses kits dão mesmo resultado?

SL: Olhe, me ligam pessoas que eu nem conheço, e falam que amigas levaram o kit para elas, tomaram o chá e estão prestes a se casar. Você sabe que a natureza ajuda, não é? Você toma um chá desses e já sai de casa se achando poderosa. A auto estima está lá em cima.

Repórter Junino: Você tinha a pretensão de que virasse um sucesso tão grande assim?

SL: Por Santo Antônio, eu juro a você que nunca imaginei que isso tomasse essa proporção!

Repórter Junino: Quantos kis vocês vendem na festa?

SL: Você acredita que nós nunca contamos? Porque a renda é da paróquia. Nós tiramos o custo da despesa e o resto é da paróquia. Mas creio que vendamos cerca de 500 ou 600 kits. A cada ano eu renovo. Primeiro foi o kit, depois foi o Chá Casamenteiro e Contra Inflamação no Matrimônio. Tem bula e tudo! Depois criei a essência do amor, que é um banho perfumado. Tudo feito com a casca do pau da bandeira. E nós não fazemos nada de maneira irresponsável. Temos uma farmacêutica com doutorado que nos ajuda a fazer tudo no trâmite para a saúde das pessoas.

Repórter Junino: E para este ano, qual a novidade?

SL: Nesse ano, nós criamos as gotas milagrosas de Santo Antônio. É a nossa grande novidade! São gotas para adoçar a boca.

Repórter Junino: Tantas simpatias e produtos para casar, por que você ainda continua solteira?

SL: Santo Antônio é tão benevolente comigo, sabe o que eu quero e não me deixa faltar. Ele sabe o que me faz feliz. Gosto de namorar, adoro namorar, Santo Antônio sabe o quanto eu gosto, mas não quero casamento.

Direto de Barbalha, CE
Edição: Diógenes de Luna
Foto: Rafael Vilarouca

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