Abdias do acordeon: nasceu com o dom de tocar

Campina Grande, 29 de junho de 2012

“Eu já nasci com esse dom de tocar, porque eu não fiz força… peguei o instrumento umas três ou quatro vezes. Comecei logo tocando Asa Branca”, disse Abdias que já conta 35 anos de carreira e nove CDs lançados, recordando os primeiros

Gravações do Gente Nossa com Abdias do Acordeom

contatos com seu apaixonante instrumento: a Sanfona. Além de cantar e tocar, Abdias já produziu onze CDs e um DVD do veterano cantor João Gonçalves, além de alguns trabalhos com Massilon Gonzaga, Amazan e Ton Oliveira.

Natural de Campina Grande, Abdias Alves Sousa nasceu no dia 12 de Abril de 1965, mas já com um ano de idade se mudou para o interior do estado, para a cidade de Teixeira. A razão da mudança foi justamente a união matrimonial de seus pais. O pai de Abdias era mais velho que sua mãe e também já tinha outra família, o que não foi nada agradável para o pai da moça. Não vendo solução para o caso, o patriarca “dos Alves Sousa” pegou um jipe e fugiu com a esposa.

Vivendo no interior, cresceu desempenhando atividades rurais junto com sua família, atividades que eram sempre acompanhadas por músicas cantaroladas pelo sanfoneiro. A noite, com instrumentos improvisados, ficava cantando nos lajeiros de pedra da região que morava. Começava assim a tomar gosto pela música. Em 1980 seu pai ganha uma sanfona vinda do Rio de Janeiro de um primo. O pai não quis tocar, mas Abdias já se arriscava nos acordes e nos baixos.

Foi em Teixeira sua primeira apresentação puxando o acordeom. O menino Abdias já estava famoso na região, até porque não existiam sanfoneiros por ali. A apresentação decorreu entre a feira de panelas e um pé de figueira. No término de sua exposição, um amigo passou com um pandeiro por entre os expectadores recolhendo o pró-labore.

Gravações Gente Nossa com Abdias do Acordeom

Por meio do rádio, Abdias tinha acesso aos grandes nomes da música nordestina e confessa que possuía grande facilidade para decorar os sucessos: “Tudo aquilo que eu ouvia na minha infância, continuo tocando até hoje” – disse atestando a excelente memória musical.

O início de sua carreira foi no Trio Danado de Bom. Antes de formar o grupo, tocou e cantou em vários grupos de Campina Grande, mas após uma “humilhação” por parte do dono de uma banda afirmou – “Não toco para ninguém mais!” – e decidiu formar o trio.

Ao longo de sua carreira foi firmando parcerias que, com o tempo, tornaram-se verdadeiras amizades, das quais ele destaca com apreço a de João Gonçalves, Massilon Gonzaga, Ajalmar Maia e o humorista Shaolim.  Este último acompanhava o mestre do Acordeom nas suas idas e vindas às emissoras de rádio campinenses. Um dos motivos de honrar o nome Abdias advém da admiração que tem por Abdias de Taperoá, pai do maestro Marquinho, grande amigo e esposo de Marinês, que disse uma vez já conservando grande afeto por ele: “Os Abdias me perseguem”.

Já tocou vários instrumentos. No extinto bar do Canarinho, na feira central de Campina Grande tocou contrabaixo – um pouco – bateria durante muito tempo, teclado e o violão, mas deixou bem claro: “o instrumento meu é esse aqui que eu amo” – falou Abdias apontando para a sanfona.

Mesmo sendo músico de paixão, Abdias do Acordeom não aconselha a nenhum de seus filhos trabalharem com música. Segundo Abdias para aqueles que já estão no mercado tudo bem, mas para os que desejam iniciar o caminho é muito difícil. “Letras e estúdio é fácil de conseguir, o complicado é divulgar e viver no meio da galera, por isso jamais aconselharia um filho meu entrar pra carreira de música” – disse. O mestre da sanfona também fala sobre a desvalorização que os artistas regionais vivenciam, sobretudo, aqueles que conservam a música de raiz: “As emissores não topam fazer músicas com belas histórias e sim quem canta ‘ai se eu te pego’” – concluiu.

Diante de tanto talento resplandece a humildade. Abdias reconhece que também a nova geração de sanfoneiros tem feito jus a tradição. Afirma que na Paraíba tem muitos bons tocadores e até cita três que se destacam em sua opinião: Edglei Miguel, Valter Pipoca e Vangines.

Dos sucessos gravados confessa ter algumas de preferências: Acariciar; Não vi, Não voga e Língua Grande. Os projetos para o futuro são modestos comparados ao talento de Abdias. O sanfoneiro deseja gravar um DVD com as músicas que marcaram sua carreira, algumas compostas por ele, outras de nomes consagrados da música nordestina, dos quais cita Pinto do Acordeom: “De Pinto do Acordeom eu gravaria várias” – disse.

Edição: Manassés Xavier
Fotos: Emanuel Messias/ Everton David

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