REPORTAGEM ESPECIAL: Xote Menina, a quadrilha que marcou época e fez história em Campina

Campina Grande, 18 de junho de 2015  ·  Escrito por Cristina Ângela, Natacha Cabete e Thaís Mendonça  ·  Editado por Anthony Souza e Ivan Andrey  ·  Fotos de Divulgação

“Na minha quadrilha só tem gente que brilha
Só tem gente que brilha na minha quadrilha

“Simbora” moçada
segura a pisada
só na sanfonada
só na zabumbada

Tem quadrilha, tem festa lá no arraiá
Nós vamos dançar vamos botar pra quebrar
Requebra pra lá
Requebra pra cá
Nós vamos ganhar em primeiro lugar…”

Festrila
Alcymar Monteiro

 

Uma ideia que se concretizou
Primeira apresentação da Xote Menina

Primeira apresentação da Xote Menina

Uma quadrilha lembrada pela exuberância e marcada pelo tradicionalismo, assim era a Xote Menina, que surgiu no ano de 1982, no bairro da Liberdade na cidade de Campina Grande, composta por moradores do próprio bairro. Um dos idealizadores do grupo foi Sonaldo Barros, o único integrante residente no centro da cidade, que apostou na ideia de uma quadrilha padronizada, incomum para apresentações da época, mas que resultou em grande sucesso.

Em seu primeiro ano de existência, a quadrilha se apresentava na R. Rio de Janeiro, mas por falta de apoio da comunidade, passou a se apresentar no centro da cidade, onde permaneceu de 1983 até 1999. Raimundo Formiga era um dos seus marcadores, função hoje conhecida como coreógrafo.

Segundo Sonaldo, ainda no primeiro ano, a formação da Xote era feita apenas por adultos, mas devido ao sucesso, a partir do quinto ano, aconteceu a expansão para as categorias infantil e juvenil. Em média se apresentavam com cerca de 10 a 20 casais.

Da chita à seda

Os primeiros vestidos da quadrilha Xote Menina foram confeccionados com tecido de chita, criticado por muitos pela sua popularidade. Nos anos seguintes, o gibão, a estopa e os sacos de açúcar deram formato às novas vestimentas. A responsável pela confecção do figurino da quadrilha era Maria de Souza Batista, mais conhecida como Dona Branquinha.

Fagner e dois destaques da Xote

Fagner e dois destaques da Xote

Natural de Serra Branca, começou a costurar aos 14 anos de idade e, durante os 17 anos de existência da quadrilha, foi a costureira oficial da Xote, como também de outras quadrilhas estilizadas. Segundo Dona Branquinha, essa época era de muito trabalho. “Eu fazia os vestidos e as saias de armação todos de uma vez. Meu trabalho começava em fevereiro e só terminava um dia antes das meninas se apresentarem”, disse.

Para ela, a parte ruim era passar de 10 a 12 dias sem dormir e os problemas de saúde, que mais tarde se agravaram, como sua labirintite e seus problemas de coluna. “Eu gosto de beleza, de boniteza. Eu almoçava e jantava na máquina quando estava perto do dia das primeiras apresentações”, nos contou.

Posteriormente, a quadrilha começou a introduzir em seu vestuário tecidos mais caros como o linho e a seda, e adereços carnavalescos com lantejoulas e o brilho, marcando assim a forte característica da Xote Menina. A partir daí, o grupo participou de edições do Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas, ganhando destaque em matérias na emissora Rede Globo de Televisão, em programas como Vídeo Show, Casseta & Planeta, Fantástico, entre outros.

A fórmula para alcançar o sucesso

Segundo Sonaldo, as entradas da quadrilha sempre tinham algo diferente a mostrar, pois, “as entradas triunfais” sempre foram o diferencial da Xote Menina, marcadas por fogos de artifício e artefatos. Ele cita como exemplo, a abertura de uma das apresentações em que os noivos chegaram em um carro todo estilizado, sem capota, chamando a atenção de todos os presentes. “O que nós tínhamos de diferente das outras era apresentar uma indumentária diferente, uma coreografia diferente apesar de todos os anos a coreografia ser montada em cima do Xote e depois o arrasta-pé”, disse Sonaldo.

Indumentária da quadrilha, abrilhantando as apresentações

Indumentária da quadrilha, abrilhantando as apresentações

Considerada como uma “quadrilha de elite”, a Xote Menina trazia mais um diferencial: a ornamentação do local de apresentação. A rua recebia uma decoração produzida pelos próprios integrantes, o que normalmente não era feito por outras quadrilhas devido ao alto custo que isto requeria. Pode-se dizer que ela deu início a várias tradições que hoje vemos nas demais quadrilhas.

O dinheiro que era usado para a confecção das vestimentas, dos sapatos e da decoração advinha de concursos infantis, bingos, feijoadas, rifas além de outros métodos criativos para arrecadar o montante mais rapidamente. Além disso, de dois a três mil camisetas também eram vendidas com o slogan da quadrilha, cujo objetivo principal era de arrecadar fundos, além de ajudar fazendo divulgação da mesma.

Começam a florescer os frutos

O número máximo de participantes da quadrilha era de 100 pessoas, a procura era grande, muitos estavam dispostos participar. O processo de seleção havia apenas para os mais jovens, que precisavam estar habilitados para dançar com os dançarinos mais experientes. Os ensaios aconteciam em vários pontos da cidade, alguns deles no Colégio 11 de Outubro, no colégio Pio XI e na quadra de esportes do bairro da Liberdade. Sonaldo nos contou que personagens como “Saci Pererê” e “Emília” também faziam parte da Xote Menina.

Xote Menina recepcionando Genival Lacerda no aeroporto de Campina

Xote Menina recepcionando Genival Lacerda no aeroporto de Campina

Devido ao seu grande sucesso, com o passar do tempo alguns patrocínios foram aparecendo e a Xote começou a participar de todos os concursos que surgiam, inclusive fora do estado. Em meados dos anos 90, a empresa São Braz proporcionava-lhe ajuda financeira para custear roupas, decorações das ruas e o trio de forró, que antes era feito pela prefeitura, diferente das quadrilhas atuais que têm sua própria banda e coreografia. Em troca, o grupo chegava a se apresentar até três vezes por dia no aeroporto da cidade para recepcionar os turistas que vinham para Campina Grande, atraídos pelo Maior São João do Mundo.

O sucesso marcante da Xote Menina a levou a desfilar no carnaval carioca pela Escola de Samba Unidos do Viradouro, no ano de 1996, com o enredo “Aquarela do Brasil Ano 2000”, onde 98 integrantes estiveram presentes. Além disso, a quadrilha ainda chegou a se apresentar em diversas cidades e capitais nordestinas, como Salvador, Fortaleza, Maceió e Natal. Ficaram de fora de Caruaru (PE), pois lá a disputa entre quadrilhas concorrentes era muito acirrada.

A paixão dos integrantes e admiradores

Agnaldo Ferreira da Silva é um dos integrantes da Xote Menina de 1989 a 1996. Ao longo desses sete anos, a quadrilha ganhou muitos concursos dentro e fora do estado. “Ganhamos o concurso de quadrilhas juninas em 1990 e fomos representar o estado no Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas, realizado em Salvador, no Ginásio o Balbininho. Detalhe, era 21 de junho e tinha nesta mesma data a missa de um ano de morte de meu pai. Deixei de ir à missa”, diz Agnaldo sobre os momentos marcantes na Xote.

Políticos paraibanos acompanhando apresentação da quadrilha

Políticos paraibanos acompanhando apresentação da quadrilha

Ao ver as fotos da época em que dançava, disse sentir saudades. “Sempre nesta época do ano, vem um filme dos anos vividos; viagens o mês de junho todo pelo interior do estado, e em outros estados também”, recordou. Hoje em dia ele é secretário do curso de Engenharia de Petróleo na UFCG.

A professora da Universidade Estadual da Paraíba e atual coordenadora do projeto Memorial do Maior São João do Mundo, Cléa Cordeiro Rodrigues, nos falou por telefone sobre Sonaldo com muito carinho. “Sonaldo é um apaixonado pela cultura, ele fez algo indescritível. Ele estava à frente de sua época”. De acordo com Cléa, ele sempre investiu e participou da construção das vestimentas, ornamentações e até mesmo na criação dos passos da quadrilha e, com o passar do tempo, ganhavam prêmios pelo belo trabalho.

Dever cumprido
Entrevista com Sonaldo Barros, um dos idealizadores da Xote

Entrevista com Sonaldo Barros, um dos idealizadores da Xote

Atualmente Sonaldo faz dança de salão em uma academia da cidade e se vê na permanência dessa atividade e de seu trabalho na locadora de carros que ele e os irmãos administram. Quando questionado sobre voltar a organizar a quadrilha, reunir uma equipe e fazer o nome da Xote Menina brilhar novamente nos tablados da cidade, Sonaldo foi taxativo e rejeitou a ideia.

Ele se vê desestimulado a esse trabalho por falta de tempo e também revelou a parte difícil de coordenar uma quadrilha de tanto sucesso. “Todo ano eu perdia em torno de cinco quilos, o estresse era muito grande, eu tinha crises de gastrite, úlcera, era bom, mas eu não voltaria a fazer de novo. O lado ruim era esse e o lado financeiro, da falta de apoio”, afirmou. Quando relembrou o tempo que coordenava a Xote Menina, Sonaldo, com um sorriso nos lábios, disse: “tudo valeu a pena”.

Um reencontro anunciado

A Prefeitura de Campina Grande cogita realizar, durante a programação d’O Maior São João do Mundo, uma homenagem às quadrilhas que fizeram parte da história da cidade. Segundo Agnaldo, esta homenagem resgata um tempo áureo dos festejos juninos de Campina Grande. Para ele, esta será a oportunidade de reencontrar grandes amigos quadrilheiros, como os coordenadores, marcadores e demais integrantes da Xote Menina.

 

Nos links abaixo, encontram-se disponíveis galeria de fotos, vídeos e mais informações sobre a quadrilha Xote Menina. Essa reportagem especial foi orientada pela professora Verônica Oliveira.

Facebook

YouTube

Grupo do Facebook

 

Comentários