REPORTAGEM ESPECIAL – Bira Marcolino, a resistência de um poeta

Campina Grande, 7 de julho de 2015  ·  Escrito por Emanuelle Carvalho e Luana Gregório  ·  Editado por Anthony Souza  ·  Fotos de Emanuelle Carvalho

“Minha saudade é regada pelas tardes na fazenda

A minha vó sentadinha, cantando, fazendo renda

Velhas faces na parede sem dizer a sua idade

E minha lembrança encostada na porteira da saudade

O velho fogão de lenha, a comida na panela

Minha mãe me abençoava e eu beijando o rosto dela

Porta, batente e janelas deste velho casarão

Vivem dentro do meu peito batendo em meu coração”.

Porteira da Saudade

Intérprete: Irah Caldeira
Compositores: Bira e Fátima Marcolino

 

Em meio à desvalorização e esquecimento das nossas raízes, retratar em forma de poesia e música a beleza do nordeste e do seu povo se torna um trabalho árduo. Esse é o legado do poeta Bira Marcolino, que traz consigo as suas raízes e ensinamentos do grande poeta, compositor e seu pai, Zé Marcolino.

Quando se fala em festejos juninos, Bira é mais um dos que acreditam que neste mês é importante preservar a tradição e o forró autêntico. Mesmo com toda preponderância do forró estilizado nesse período, ainda há quem preserve e goste do forró tradicional. “A música raiz, o forró autêntico nunca se acaba”, ressaltou.

Cantor e poeta Bira Marcolino

Cantor e poeta Bira Marcolino

Bira se preocupa em cantar para um público que valoriza a sua música, como a dos demais cantores que preservam a tradição. Ele destacou que a quantidade não é motivo para lhe tirar o prazer de tocar, “o meu show é o mesmo, tanto faz se é pra uma pessoa ou duzentas. Se tiver dez pessoas eu vou tocar para elas”.

O forró se tornou um dos símbolos da cultura popular nordestina, e a ele estão associados outros ritmos, que se tornaram conhecidos e respeitados pelos seus admiradores. O xaxado, baião, xote, coco, entre outros, abrilhantam ainda mais a nossa cultura.

Porém, a verdadeira essência das comemorações vem perdendo um pouco de espaço e sendo colocado em segundo plano, assim também como os artistas que seguem a linha do forró tradicional. Ao ser questionado sobre esse cenário, Bira conta sobre as dificuldades que são encontradas no decorrer na estrada.

“Eu não vivo de música, eu vivo de comidas típicas, pamonha, canjica e bolo de milho verde. Amanhã, quando sair daqui, eu não vou tocar em outro canto, tem um monte de espiga de milho me esperando”, disse o cantor, antes de cantar nos Festejos Juninos de Sumé. O que soa contraditório pelo fato de residir em uma região onde o forró lhe é característico.

Em meio a esse cenário, alguns cantores saem de suas raízes para se modernizarem, como uma forma de se sustentarem por meio da música. Diante dessa realidade, realizar eventos que busque resgatar os artistas e priorizar o que faz parte da nossa cultura popular, se torna um importante instrumento de resgate ao contexto histórico-cultural, para que esta seja mantida pelas gerações futuras.

O nordeste é um celeiro de artistas, em termos culturais é uma região muito rica. Mas, é preciso investir mais em politicas voltadas a valorização da cultura e das suas manifestações. Temos muitos talentos escondidos, que englobam vários segmentos artísticos e culturais, que só precisam de um incentivo.


Um pouco da história do poeta

Bira Marcolino também é cantor e compositor, nasceu na cidade da Prata, Paraíba, mas fincou raízes em Serra Talhada, Pernambuco, onde mora até hoje. Seu pai, teve influência direta nos seus primeiros passos na música. Quando Zé Marcolino fazia shows entre Paraíba e Pernambuco, o filho quase sempre o acompanhava. Além das semelhanças na aparência e na voz, Bira, assim como o seu pai, aprendeu a utilizar do cotidiano do povo nordestino e das coisas simples do sertão para compor músicas que representam e enaltecem esta gente.

Bira cantando nos Festejos Juninos de Sumé

Bira cantando nos Festejos Juninos de Sumé

Teve seu primeiro trabalho lançado em 1989, o LP “Jeito Gostoso” pelo estúdio DB3 em Recife, tendo composições suas e de seu pai. Pouco tempo após a morte de Zé Marcolino, que ocorreu em 1987, ele lança o seu segundo LP intitulado “Quero Rever Meu Nordeste”, também contendo músicas autorais e de seu pai. Uma composição sua que mais se destacou neste LP, e sendo regravada por diversos artistas, como Santanna, O Cantador, foi a “Caminhos de Sonhos”, em parceria com o poeta Miguel Marcondes e  Duda da Passira.

Em seus 23 anos de carreira, acumula dois LPs, quatro CDs e um DVD, além de vários sucessos à exemplo de “Siá Filiça”, “Jeito Cativo”, “Semelhança” entre outros, gravados nas vozes de grandes nomes da música nacional como Margareth Menezes, Nordestinos do Forró, Irah Caldeira, Flávio José, Alcimar Monteiro, Santanna, O Cantador.

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