Especial Luiz Gonzaga: 70 anos da Asa Branca que eternizou o Rei do Baião

Campina Grande, 2 de agosto de 2017  ·  Escrito por Érica Ribeiro, Ana Inês Almeida e Frankllin Alves  ·  Editado por Juliana Rodrigues

No dia 02 de agosto de 1989 o Brasil e o mundo se despediam de um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira, Luiz Gonzaga. O pernambucano de Exu fez história com sua sanfona branca e seu chapéu de couro, eternizando-se como o Rei do Baião.

Jurani Clementino. Fonte: Arquivo pessoal.

Jurani Clementino. Fonte: Arquivo pessoal.

Gonzagão, como também ficou conhecido, é lembrado e admirado por pessoas que cresceram ouvindo suas letras e que, hoje, enaltecem sua vida e obra.  O gonzaguiano Jurani Clementino, autor da obra bibliográfica Zé Clementino – O “matuto” que devolveu o trono ao rei, relata que há quem diga que se não fosse Gonzaga, o Nordeste não existiria. “Isso faz sentido do ponto de vista de que Gonzaga leva uma imagem que, às vezes, parece equivocada, mas que se constitui para o Sudeste e pro Sul como a imagem do Nordeste através da vestimenta, das letras das músicas e pronúncia, uma maneira de falar muito atribuída ao nordestino.”, relatou Jurani.

 

Autêntico representante da cultura nordestina, Luiz Gonzaga manteve-se fiel às suas origens mesmo seguindo carreira musical no sudeste do Brasil. Admirado por grandes artistas da Música Popular Brasileira, Gonzagão levou ao cenário nacional canções memoráveis como “Baião”, “Siridó”, “Juazeiro”, “Qui Nem Jiló”, “Baião de Dois”  e “Asa Branca”. Esta última tida como a canção emblemática de sua carreira e que, esse ano, completa seus 70 anos de criação.

Asa Branca, o hino não oficial do Nordeste.

Composta em 3 de Março de 1947 em parceria com o advogado cearense Humberto Teixeira, a canção retrata a seca do nordeste brasileiro que, muito intensa, faz migrar até mesmo a ave asa- branca. A  música relata ainda a partida de um rapaz para outra região do país, prometendo voltar um dia para os braços do seu amor. Segundo Jurani Clementino, a toada Asa Branca traduz os sentimentos dos nordestinos no Sudeste (Rio e São Paulo). “Uma letra que fala de amores perdidos, de saudade, de lembranças de alguém que deixou algo”.

Luiz Gonzaga contou e cantou essa história de saudade. Primeiro falou da partida sofrida do Nordeste, com a sua primeira gravação de Asa Branca tornando-se, assim,  um hino. Há ainda, uma continuação da música, intitulada A Volta da Asa Branca, que trata do retorno do retirante e de sua nova vida no Nordeste.

José Nobre. Fonte: arquivo pessoal

José Nobre. Fonte: arquivo pessoal

A gravação de Asa Branca, um dos maiores clássicos de todos os tempos da Música Popular Brasileira, têm versões em dezenas de idiomas, inclusive em japonês e coreano, sendo também, familiar a brasileiros de qualquer região. “É sabido que Asa Branca é um tema que remonta do século XIX não com essa roupagem e com esse estilo.  Gonzaga nunca negou que Asa Branca é de domínio popular. Na primeira gravação da música, ela foi gravada como toada, um lamento”, analisou José Nobre de Medeiros  Diretor fundador do Museu Fotográfico Luiz Gonzaga de Campina Grande.

 

Asa Branca é um sucesso do Rei do Baião cantada dentro e fora do Brasil. Em Nova York, na seção de música brasileira, permaneceu por muito tempo nos rankings das músicas mais ouvidas. São poucas canções da MPB que têm tantas versões. Asa Branca também já foi cantada por vários outros artistas, entre eles: Fagner, Caetano Veloso, Elis Regina, Tom Zé, Chitãozinho e Xororó, Ney Matogrosso, Maria Bethânia e tantos outros.

O Eterno Cantador

Luiz Gonzaga é admirado e eternizado no coração de muitos brasileiros. Como é o caso de Antônio Costa, autor de vários livros sobre a vida e obra do Rei do Baião e que diz ser “o advogado do forró”. Para ele o rei tornou-se imortal pela sua obra. “Gonzaga foi um empreendedor nato, por criar um meio de sobrevivência e de sustentabilidade”, comentou. Antônio afirma ainda que “Luiz Gonzaga revolucionou a música brasileira quando aperfeiçoou a cultura musical nordestina, transformando o baião com o apoio do compositor Humberto Teixeira”.

Museu construído pelo garoto Pedro Lucas. Fonte: arquivo pessoal.

Museu construído pelo garoto Pedro Lucas. Fonte: arquivo pessoal.

Pedro Lucas, jovem cearense, apaixonado pela vida e obra de Gonzaga, resolveu aos 10 anos, criar o Museu Luiz Gonzaga. O mais novo fã do Rei do Baião exibe o espaço no distrito de Dom Quintino no Crato – CE. “Eu sempre gostei do Gonzaga, desde os meus 5 anos. Em 2013 eu fui visitar o Museu do Gonzagão em Exu – PE e tive essa ideia de criar o Museu Luiz Gonzaga aqui na minha cidade”. Pedro explica sua admiração e reitera que “Luiz é importante porque, ao contrário de muitos cantores de hoje, ele cantava sua terra, o Nordeste, onde ele vivia. Ele foi um homem que divulgou nossa região para o mundo, comentou o jovem.

Luiz, em cada canção, deixou sua marca e narrou sua trajetória, como ele mesmo já dizia:

‘‘Se só o verso

Dos que eu vivo cantando

Fizer feliz

O coração de alguém

Por esse pouco

Que eu vou acrescentando

Meu coração será feliz também’’  – música Eterno Cantador  

Assim, imortalizou-se o Rei do Baião (1912-1989).

Abaixo você confere nossa reportagem especial, em vídeo, sobre os 70 anos da música Asa Branca.

 

 

 

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