O Parque do Povo na visão de quem apenas consegue vê-lo de fora dos portões

Campina Grande, 9 de julho de 2018  ·  Escrito por Pâmela Vital  ·  Editado por Rafael Costa  ·  Fotos de Matheus Pereira
Kleyton Henrique finalizando seu trabalho no domingo de encerramento do Maior São João do Mundo - Foto Matheus Pereira

Kleyton Henrique finalizando seu trabalho no domingo de encerramento do Maior São João do Mundo – Foto: Matheus Pereira

Eles estão em todos os lugares a qualquer horário. Anônimos e discretos, até que se estacione em seu território. Os famosos flanelinhas, ou se preferir vigilantes, podem ser vistos pelos arredores dos principais locais de concentração de pessoas, cobrando pela segurança do seu veículo, seja em espaço público ou privado. No Maior São João do Mundo, não é diferente.

Indo contra o ideal de economia e maior mobilidade urbana que é propagada na atualidade, eles são a garantia de segurança, para aqueles tradicionalistas, que ainda preferem ir com seus carros para locais públicos, eventos e restaurantes. Com o aumento da insegurança nas cidades, pagar para ter seu carro protegido não é um pensamento inadmissível, segundo Keuton Henrique, 32, vigilante das vagas de um prédio privado nos arredores do Parque do Povo.

A parceria com o prédio é feita todos os anos, desde 2013,  Keuton conta com a ajuda de mais outros três colaboradores, que o ajudam na vigilância e também no monitoramento dos veículos . “Faz cinco anos que trabalho aqui. Alugamos o espaço, providenciamos segurança para os carros e lojas daqui desde o começo da festa, umas 19h, até o final”, comenta com a equipe do Repórter Junino ao finalizar a assistência de um veículo que acabara de estacionar em um dos locais sob sua responsabilidade.

Vigilantes utilizam coletes de laranja neon para serem identificados pelos motoristas - Foto: Matheus Pereira

Vigilantes utilizam coletes de laranja neon para serem identificados pelos motoristas – Foto: Matheus Pereira

Tendo presenciado os trinta dias de festa, o vigilante afirma que o São João deste ano foi bom para ele e que o dinheiro arrecadado será importante para a renda mensal de sua casa. Como líder, Keuton decide o preço das vagas de acordo com a atração principal do dia. “Pode ir de R$ 10,00 em dias mais calmos e até dobrar quando o show é de um artista requisitado como Wesley Safadão, Pablo ou Flávio José”, falou. No dia de encerramento, Bell Marques era o show de maior renome no quartel general do forró. Às 19h, o estacionamento já estava lotado, mesmo sendo R$ 20,00 o preço cobrado para estacionar. “O pessoal quer aproveitar as horas finais do São João”, comentou.

Sávio André, alagoano que mora em João Pessoa, veio a Campina Grande aproveitar o final de semana do Maior São João do Mundo. Para ele, é preferível pagar a quantidade pedida pelos vigilantes devido a proximidade com o evento e a segurança providenciada por eles. “Deixei meu carro por indicação de um amigo daqui que já guardava lá desde o ano passado. Não tenho o que reclamar”, falou em entrevista na sexta-feira.

Aos 18 anos, Kleyton Henrique já ajuda seu tio há dois anos. Responsável pela segurança dos veículos de uma parte do prédio, compartilha com a equipe a preocupação que tem de estar sempre presente no lugar de trabalho. Segundo ele, na semana passada, em um outro ponto dos arredores da festa, onde não tem nenhum vigilante, um carro foi violado e não puderam fazer nada. Para não ter problemas com os veículos que estão no seu raio de alcance, o flanelinha disse não envolver a polícia porque acredita que nem mesmo ela consegue conter tudo que acontece dentro e fora do Parque do Povo.

Kleyton Henrique finalizando seu trabalho no domingo de encerramento do Maior São João do Mundo - Foto: Matheus Pereira

Kleyton Henrique finalizando seu trabalho no domingo de encerramento da festa – Foto: Matheus Pereira

Ao ser perguntado sobre o que achava do São João, Kleyton confessou que, infelizmente, não conseguia assistir aos shows que queria, pois o dinheiro que ganhava guardando os carros era mais necessário que sua diversão. “Ficamos aqui sempre invisíveis para os que passam. Eles vêm, deixam o carro, às vezes pagam, outras não, curtem a festa, depois voltam pra pegar o carro e pronto. Acabou a noite. Os shows? Só ouvimos as músicas e escutamos o que falam depois”, desabafou ajustando o colete laranja fosforescente para se proteger de algum motorista desavisado que normalmente não o veria sem.

Como uma guarda invisível e mercenária, a realidade impôs inconscientemente suas presenças tanto em eventos grandiosos, quanto durante as situações do dia a dia. Uma coisa é certa. Se for pôr seu carro perto da festa, é melhor pagar e ter a segurança fornecida por eles ou sofrer as consequências de ir contra a tempestade, correndo o risco de perder muito mais que um valor simplório.

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