Marinês, uma mulher de garra e coragem

Campina Grande, 24 de julho de 2016  ·  Escrito por Amandha Freire  ·  Editado por Erivaldo Laurindo

Quando se fala em emponderamento feminino, lembra-se logo de uma artista que foi a frente do seu tempo, Marinês. A rainha do xaxado como ficou conhecida depois de receber o título de Luiz Gonzaga, foi esposa, mãe, atriz e cantora. Quem o definiu assim foi o seu filho Marcos Farias que herdou da mãe o talento artístico. Ele foi produtor, parceiro e maestro de Marinês, sua ligação com a rainha do xaxado era muito profunda, a ponto de transmitir pensamentos.

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Em toda sua carreira Marinês lançou 30 discos entre Lp’s e CDs

Inês Caetano de Oliveira, nome de batismo de Marinês, é natural de São Vicente Férrer (PE). Nascida numa família que já possuía contato com meio musical, filha de um seresteiro e de uma cantora de igreja, começou sua carreira aos 10 anos, quando participou de um programa de calouros. Depois desse, surgiram vários outros programas de rádio e para fugir da vigilância dos pais colocou Maria em seu nome. E foi durante um programa de rádio que ao ser anunciada, o locutor acabou chamando-a de Marinês. Ela gostou e adotou o nome artístico.

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Marinês e Abdias formavam uma dupla de sucesso na música. Abdias foi responsável por produzir varios trabalhos da cantora

Aos 14 anos Marinês casou com o sanfoneiro e produtor Abdias, e em 1949 formou o “Casal da Alegria”, que logo em seguida juntou-se com o zabumbeiro Cacau e formou um trio de forró pé de serra. Nos anos 50 o trio começou a atuar na Patrulha de Choque do Rei do Baião, que realizava apresentações em várias cidades onde o Luiz Gonzaga iria tocar, cantando músicas do seu repertório.

Quando Luiz Gonzaga ficou sabendo da existência, uniu-se ao trio e fizeram um show juntos. Com o apoio dele, ela aprendeu o xaxado e sua carreira tomou impulso. Em 1956, Marinês gravou o seu primeiro disco intitulado de “Marinês e sua Gente”. Na ocasião, gravou com Zé Dantas a música “Quadrilha é bom”. Em 1957, gravou seus dois grandes sucessos, “Peba na pimenta” e “Pisa na fulo” que vários outros artistas regravaram. Foi nessa época que Luiz Gonzaga a levou para o Rio de Janeiro e se apresentaram por diversos programas de rádio e Tv. Em 1958, Marinês gravou “Aquarela Nordestina” e “Saudade de Campina Grande” de Rosil Cavalcanti.

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Marcos Farias Sabrina Vaz fizeram uma homenagem a Marinês na 6ª Edição do Gente Nossa UEPB

Marinês também participou do filme “Rico ri à toa”, embora não tenha feito escola de teatro, ela tinha uma boa expressão facial, além disto ela também se apresentou em teatros da periferia do Rio de Janeiro no projeto Pixinguinha. Embora Marinês se apresentasse muito na região sudeste do Brasil, ela enfrentou preconceito por ser mulher e nordestina e, lutava pelos seus direitos. Como mulher, chegou quebrando essa barreira no mundo do forró, botando chapéu de couro, tocando triângulo e dançando xaxado. Representando a mulher no cenário social, se apresentando com o marido e o filho, ela mostrou que a mulher podia ser várias coisas, multifacetada.

Segundo Marcos, ela era a autêntica mãe sertaneja, daquela que deixava de fazer suas coisas para cuidar dos filhos. Marinês também se formou em direito para poder entender melhor questões jurídicas acerca de contratos de seu trabalho. Na vida, Marinês era uma mulher viril, dentro e fora de casa. Trabalhou na fábrica de armas com o pai na infância dela. Ia para feira vender coisas, ajudava a mãe em casa.

Trabalhos e Premiações

Em 1960 recebeu o troféu Euterpe no Teatro Municipal do Rio de Janeiro como melhor cantora regional. Em 1962 recebeu novamente o troféu Euterpe pelo LP “Outra vez Marinês”, além de ter ganhado o prêmio de melhor vendagem. Em 1986 lançou o LP “Marinês e sua Gente” com a participação de Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Jorge de Altinho. Em 1988 estreou na Continental com o disco “Feito com amor” e regravou sucessos dedicados às festas juninas. Recebeu discos de ouro pela música “Bate coração” e “A dama do Nordeste”. Ainda gravou músicas polêmicas para a época como “Peba na pimenta” e “Pisa na fulô”. Por conta disso teve problemas com os católicos. Depois que se separou do marido e produtor Abdias, ficou alguns anos sem gravar e mesmo assim lançou 30 discos entre Lp’s e CDs.

Uma mulher de temperamento forte, destemida e perseverante, sempre teve orgulho da sua música, do seu Nordeste, da sua gente, e sempre com toda sua simplicidade, em qualquer lugar que chegasse, não tinha vergonha de dizer que era nordestina e forrozeira. Marinês deixou um dos legados históricos culturais mais referenciados no mundo artístico conquistando a todos com seu jeito humilde de ser. O Nordeste hoje agradece pela grande contribuição que essa figura feminina deu a cultura do seu povo, abrindo espaço para as vozes femininas atuais.

 

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