Engenho Tanque, zona rural de Alagoa Grande. Foi neste pedaço de chão paraibano que, em 31 de agosto de 1919, nasceu um dos maiores ícones da cultura nordestina: José Gomes Filho, o rei do ritmo Jackson do Pandeiro, internacionalmente reconhecido pela obra que transcende os limites dos estilos musicais, filho de José Gomes e Glória Maria da Conceição, artesão e cantadora de coco.
Foi da mãe que ele herdou o gosto pela música. Flora cantava coco com um grupo pela região de Alagoa Grande para pagar as despesas domésticas e costumava ensaiar as canções do repertório em casa, enquanto Jackson acompanhava tudo de perto. Aos 8 anos realizou sua primeira apresentação em público, quando substituiu um integrante do grupo tocando zabumba.
Com a morte do esposo em 1932, Flora mudou-se com os filhos para Campina Grande, onde José Gomes Filho passa a trabalhar como entregador de pães, engraxate e posteriormente, aos 20 anos, inicia sua carreira musical fazendo dupla com José Lacerda usando nome artístico de Jackson, que ele adotara por conta de brincadeiras da infância.
“O meu nome é José Gomes Filho. Por que Jackson? Isso é uma pergunta que muita gente me faz. Por que esse nome de Jackson? Esse nome de Jackson pegou desde o tempo em que você não era nascido ainda, entende? Do tempo do cinema mudo. Você já viu falar em cinema mudo, num já? Pois bom. Então, no cinema mudo tinha muito artista com o nome de Jaque, Jaques, Jackson, Era uma ‘imundice’ de Jackson. Então eu, moleque, brincando de artista, escolhi um nome daquele, era um fã daqueles, então escolhi o nome de Jack”, disse Jackson do Pandeiro em entrevista ao programa MPB Especial da TV Cultura.
Em 1944 Jack trocou Campina Grande pela capital João Pessoa. Lá foi contratado pela Rádio Tabajara e passou a comandar, ao lado de Rosil Cavalcanti, o programa Café com Leite, que fez muito sucesso na época. Anos mais tarde, após o falecimento de sua mãe, Jackson muda-se novamente para Recife, contratado pela rádio Jornal do Commércio e passa a usar de vez o nome artístico Jackson do Pandeiro, e passa a fazer grande sucesso depois de apresentar-se em um programa pré-carnavalesco cantando a música Sebastiana, composta pelo amigo Rosil Cavalcanti e por Almira Castilho, sua futura esposa.
Em 1953 o rei do ritmo recebe o convite da gravadora Copacabana para gravar seu primeiro LP, e com ele alcança as paradas de sucesso nacionais com as músicas “Sebastiana” e “Forró em Limoeiro”. No ano seguinte vai morar no Rio de Janeiro, se separa de Almira e casa-se com Neuza Flores, com quem viveu até os últimos dias.
Após uma série de shows em Pernambuco e Brasília/ DF, já com a saúde debilitada, Jackson enfim voltava para o aconchego de sua casa, quando sentando em uma cadeira do aeroporto passa mais mal mais uma vez. Seus companheiros de banda o notam desacordado, ele é socorrido e internado em estado grave, mas no dia 10 de julho de 1982 o eterno rei do ritmo vem a óbito, deixando muita tristeza em fãs e admiradores.
O menino pobre, nascido no interior da Paraíba, encerrava ali sua missão, mas a carreira que construiu com muita luta deixou valiosos frutos que até hoje fazem parte de seu legado: os seus seguidores.
Seguidores de Jackson:
Biliu de Campina – Ilustre seguidor da musicalidade deixada por Jackson, Severino Xavier de Souza, mais conhecido como Biliu de Campina, é formado em direito, mas nunca exerceu a profissão. Foi na música que fez carreira, defendendo as tradições populares com alegria e originalidade em suas interpretações musicais. Seu forró tem grande influência da obra jacksoniana e as músicas eternizadas na voz do alagoa-grandense fazem parte do repertório de Biliu.
Isaías Vicente – Conterrâneo de Jackson do Pandeiro, Isaías Vicente, 23 anos, é dançarino, ator e costuma interpretar o Rei do Ritmo em alguns espetáculos realizados na cidade de Alagoa Grande. Ele teve o primeiro contato com a obra de Jackson ainda criança, quando foi escolhido para representar a escola em que estudava como cover de Jackson em uma mostra estudantil de teatro. Em 2014 participou do espetáculo “A Ópera do Pandeiro”, que contava nascimento, obra, vida, sucesso e morte de Jackson do Pandeiro. Daí em diante vem fazendo apresentações no teatro e também recepcionando os turistas que vão para Alagoa Grande conhecer um pouco da vida e obra do rei do ritmo, contada no memorial que leva seu nome.
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