Elba Ramalho: o amor pelo São João e pela preservação da Cultura Nordestina

Campina Grande, 24 de junho de 2024

Repórter: Samya Amado

Fotógrafa: Marília Duarte

Editora: Gabryele Martins


O São João é o réveillon dos nordestinos. Queima de fogos é a tradição na virada do dia 23 para o dia 24. Foto: Marília Duarte/Repórter Junino

A tradicional noite de véspera de São João é o momento em que o povo nordestino se reúne para fortalecer os laços familiares, seja ao redor de uma fogueira ou juntando amigos e vizinhos em uma celebração única, com comidas de milho, bebidas tradicionais e o desejo de que essa memória nunca se apague. 

Marco Junior, músico campinense, relembrou suas memórias com os seus avós: “Eu e os meus primos íamos pra Coremas (PB) e a minha avó mandava fazer uma roupa pra gente se arrumar pro dia de São João; o meu avô fazia fogueira, tinham os fogos e a sementinha foi plantada.”, comentou.

N‘O Maior São João do Mundo, em Campina Grande, a noite é marcada pela queima de fogos, enquanto Elba Ramalho entoa o hino “Olha Pro Céu”, do mestre Luiz Gonzaga. Pessoas do mundo inteiro se encontram no Parque do Povo para celebrar o Santo Padroeiro, em uma festa marcada por muito forró e valorização da Cultura Popular.

Elba Ramalho nasceu em Conceição (PB) e não é apenas cantora, atriz ou multi-instrumentista.  A sua vivência ultrapassou a Rainha da Borborema e a Capital do estado, onde pôde beber de diversas fontes da Cultura Nordestina. Da atuação em “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto aos “Corais Falados Manuel Bandeira e Cecília Meireles”, a multiartista teceu com muitas mãos uma colcha cultural que, embora tenha tantas referências, é singular por onde quer que a sua arte chegue.


Elba Ramalho subiu ao palco e homenageou vários artistas nordestinos. Foto: Marília Duarte/Repórter Junino

A artista, que carrega o nome da Paraíba mundo afora, externa o sentimento de poder representar o seu povo de forma tão singular: “É uma responsabilidade e como toda responsabilidade a gente procura fazer, cumprir o compromisso, cumprir a agenda. […] Quando eu chego em Campina Grande o frenesi é diferente: é a minha terra! As minhas referências artístico-culturais são daqui; meu primeiro palco, aos 14 anos, foi aqui! […] É a cidade que se expressa nessa festa com mais força. […]”, disse.

Cada fã carrega um sentimento único e com Marco não foi diferente: “O show de Elba no São João, para mim, tá associado à minha liberdade como ser humano. Foi em uma véspera de São João que eu saí de casa pela primeira vez, que eu falei para a minha mãe: ‘estou indo para o Parque do Povo com os meus amigos’ e eu associei isso à minha liberdade.”, disse. 

O músico pontuou ainda que além de celebrar a sua cultura, voltar a esse lugar faz com que o pacto com a sua liberdade seja renovado. “Eu amo o São João, amo a festa da gente, porque ela é uma coisa que é muito democrática, é de fácil acesso. Torço muito para que os encontros sejam favoráveis e possíveis, e peço sempre à Deus para que eu possa estar sempre em Campina Grande na véspera de São João pra viver essa emoção todo ano.”, finalizou.


Elba embalou o público com muitos sucessos. Foto: Marília Duarte/Repórter Junino


“Eu sou uma grande defensora da nossa cultura popular. Eu acho que isso é uma coisa preciosa! […] O povo daqui tem que saber e ter orgulho de carregar essa música regional, porque quanto mais regional, mais universal se torna.” – Elba Ramalho


O MELHOR E MAIOR DO MUNDO

Como dizem popularmente “O Parque do Povo é igual ao coração de mãe: sempre cabe mais um.”. O espaço, que tem vários palcos, bares, restaurantes e stands com brincadeiras e brindes, está sempre de braços abertos para receber todos que amam um bom forró e desejam experienciar 33 dias de festa, em uma programação diversificada e que ultrapassa Campina Grande, seguindo para os seus distritos, sendo plural e democrática, como o São João deve ser.

Estevão Felix, campinense que reside em São Paulo (SP) veio assistir ao show do seu tio, o cantor Amazan e aproveitou para se reconectar ainda mais com a sua cultura: “Eu amo a noite de São João! Eu não poderia passar em outro lugar que não fosse n’O Maior São João do Mundo.”, afirmou.

A turista Fernandina Carvalho, veio de Senhor do Bonfim (BA) para conhecer a tradição paraibana: “Eu nunca perdi uma festa de Senhor do Bonfim, mas queria muito conhecer o São João daqui e de Caruaru. Para mim, são os 3 melhores do Brasil: Bahia, Paraíba e Pernambuco.”, disse. 


De Senhor do Bonfim (BA) para O Maior São João do Mundo. Foto: Marília Duarte/Repórter Junino

André Felipe veio de Pernambuco e explicou o motivo pelo qual escolheu a festa em Campina Grande: “Aqui tem mais opções na programação, enquanto em Recife é mais restrito. Eu já tinha vindo no ano passado para conhecer e resolvi voltar. A diversidade de coisas acontecendo simultaneamente chamam a minha atenção. Você pode aproveitar várias coisas. Quer um rolê tranquilo? Tem também.”, pontuou. 

Se engana quem acha que a tradição junina é apenas uma fogueira no interior, Glaucia de Oliveira é campinense e há mais de dez anos tem um ritual com a sua família: “A gente é daqui e já é tradição da nossa família vir na véspera de São João para o Parque do Povo. O que mais gostamos é de dançar um forró, ir pras barracas e ganhar os brindes.”, comentou animada. Isabeli Vieira, que não conhecia a festa paraibana, veio de Pernambuco para aproveitar a noite de São João em Campina Grande: “É o melhor do mundo! Eu troquei Caruaru, Arcoverde, Petrolina pra vir pra cá.”, comentou a turista. 

Apesar do clima de festa que ultrapassa os 33 dias, o acolhimento do povo paraibano e a alegria que é típica de quem ama o São João, faz com que o turista se sinta em casa, em uma grande família, como expressou a turista Hana Daniele, paulistana que chegou recentemente à Paraíba: “Como eu sou de São Paulo, é tudo muito diferente, o ritmo é muito frenético, então aqui eu tô mais tranquila. Eu tô achando lindo, a galera é unida e eu vejo todo mundo feliz.”, disse ela.


EU SÓ QUERO UM XODÓ

A noite da véspera de São João não serve apenas como uma reconexão dos laços familiares para quem é nordestino, mas a chama da fogueira aquece vários corações apaixonados, que veem na festa um motivo para celebrar o amor e pedir aos Padroeiros que zelem por esse sentimento todos os anos, como é o caso de Naína Carvalho e Wesley Cavalcante: “A gente tem a história de amor mais bonita do Parque do Povo! A gente se conheceu há 14 anos atrás, aqui, exatamente quando o palco era na parte de baixo.”, explicou Wesley.

Como canta Elba Ramalho durante a queima de fogos: “Foi numa noite igual a esta que tu me deste o coração. O céu estava assim em festa porque era noite de São João.”. Ele, que é campinense, não perdeu tempo na hora da conquista. Naína, que é baiana, teve o seu coração fisgado e o seu amor abençoado n’O Maior São João do Mundo: “Eu vim passar o São João e a partir disso eu mudei a minha vida! O São João é um marco na nossa história, porque depois disso a gente construiu uma sequência de fatos memoráveis, então é por isso que é tão importante passar essa data aqui.”, comentou ela.

Wesley explicou que a sua história de amor com o São João não parou por aí. O casal, que reside em Campina Grande, viu o seu amor frutificar e para completar ainda mais essa paixão junina, nasceu João Henrique, filho do casal que ganhou o nome em homenagem ao Santo Padroeiro dessa festa que encanta o mundo todo.


Família que se formou a partir do São João. Foto: Marília Duarte/Repórter Junino

“Se tu quiser basta me dizer
Que eu irei correndo
É só me avisar que tu tá me querendo
E o mundo vai saber
O que é um grande amor…” – Xico Bizerra

O São João em Campina Grande se tornou palco para histórias de amor, de liberdade, resistência e um baluarte para a preservação da Cultura Popular Nordestina. Que os Padroeiros continuem fortalecendo o sentimento de pertencimento desse povo que não abre mão do xote, xaxado, baião, milho verde e da vontade de arrumar um xodó pra chamar de seu. Viva Santo Antônio, São João e São Pedro! 

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