Exposição na Casa Estação da Luz celebra vida e obra de Alceu Valença

Campina Grande, 8 de julho de 2024

Com curadoria de Rafael Antonio Todeschini, a mostra  ‘Alceu Valença, uma Geografia Visceral Nordestina’ remonta a trajetória e apresenta a vida e obra de um dos maiores artistas pernambucanos, bem como a sua relação com o Nordeste e o seu olhar carregado de regionalismo. A coordenação do projeto foi feita por Yanê Montenegro, enquanto Natália Dantas Reis fez a coordenação geral e Erika Martins assinou a direção de arte.


Repórter: Samya Amado

Fotógrafa: Gabryele Martins

Editora: Gabryele Martins


Homenageado pela exposição, o cantor pernambucano celebrou 78 anos no dia 1º de julho. Foto: Gabryele Martins/ Repórter Junino

O antigo casarão que hoje abriga a Casa Estação da Luz é original do Século XIX. O lugar, que foi comprado por Alceu Valença e transformado em um centro cultural em 2021, recebe a exposição mais importante até então: a do seu patrono. No Salão principal, quem chega é impactado por obras que se interligam de forma atemporal: os quadros de Sérgio Lemos que inspiraram Alceu na música ‘Tropicana’; a “Chuvas de Cajus”, do curador Rafael Todeschini e as xilogravuras de J. Borges. Além das peças, cada planta, cor, elemento ou textura traz o Agreste para o coração da mostra.


A exposição celebra vida e obra de Alceu Valença. Foto: Gabryele Martins/ Repórter Junino

A cronologia presente na exposição nos leva a conhecer o Alceu do passado, reconhecer as nuances do artista no presente e traz  também o desejo de que a sua arte perpetue em um futuro multicolorido, como os carnavais nas ladeiras fervilhantes de Olinda.

Foram anos de pesquisa para que a exposição fosse, enfim, materializada com mais de duzentos itens. São seis salas completamente carregadas de história, com vídeos, fotos, pinturas e demais peças do acervo pessoal do artista. O livro “Pelas ruas que andei” também serviu de apoio bibliográfico, bem como entrevistas e publicações da imprensa desde a década de 1960. 


A história de Alceu é contada na mostra desde o nascimento, em São Bento do Una (PE). Foto: Gabryele Martins/ Repórter Junino

Além das icônicas fotografias de Cafi, a mostra reúne um acervo fotográfico pessoal e fotos de diversos artistas como Toinho Melcop, Léo Aversa, Mário Luiz Thompson, Carlos Horcades e Tânia Quaresma. Obras de J. Borges, Bajado, Aline Feitosa, Sérgio Lemos, Véio, Sérgio Ricardo, Marisa Lacerda, Getulio Mauricio, Wellington Virgolino e Marcos Cordeiro também estão dispostas pelas salas da exposição.

Na primazia da sua obra, o artista não apenas defende, mas exalta a Cultura Popular Nordestina. As diversas fases e faces de um Alceu plural – em formas, amores e expressões artísticas – e ao mesmo tempo tão único, reverberam através do tempo, com a força de quem tem os pés fincados no Nordeste e o corpo solto no mundo. As feiras, violeiros, maracatus, emboladores de coco, repentistas e as cores do agreste que o inspiraram, podem ser vistas em cada detalhe da mostra. 


“Salve ó Terra dos altos coqueiros”. Foto: Gabryele Martins/ Repórter Junino

Pelas ruas que andei

Da fazenda Riachão na infância de Alceu em São Bento do Una ao Cine Rex, o visitante pode acompanhar a trajetória não apenas artística, mas política de quem sempre viveu à frente do seu tempo e que é tão multifacetado que chega a ser indecifrável. O Valença ator, em ‘A Noite do Espantalho’ e o cineasta em ‘Luneta do Tempo’, também estão presentes na mostra. Sua relação – quase que familiar – com Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga pode ser vista e sentida para além da produção musical.


Alceu e Jackson do Pandeiro eram amigos e performaram juntos muitas vezes. Foto: Gabryele Martins/ Repórter Junino

Depois de ter a sua música ‘Talismã’ censurada durante a ditadura e de ter se refugiado na França, ele retorna ao Brasil e leva ao primeiro Rock In Rio a música ‘Anunciação’ e esse, sem dúvida alguma, é um dos pontos altos não apenas da exposição, mas da carreira do artista.


Em 1985, Alceu cantou, em primeira mão, para o público do Rock In Rio a música “Anunciação”. Foto: Gabryele Martins/ Repórter Junino

“Alceu Valença, uma Geografia Visceral Nordestina” é uma ode ao que temos de melhor no Nordeste: a História e Cultura do nosso povo, sendo ela escrita não apenas através das músicas, mas de cada detalhe contido no ordinário. 

A Casa Estação da Luz não está apenas rodeada pela atmosfera sagrada de Olinda, mas se faz templo, onde a arte – que pode ser subversiva, profana e também sagrada – crava no tempo a mensagem de que só viver não basta, é necessário subverter o caos cotidiano com o prisma de quem faz de qualquer dia cinza um verdadeiro carnaval.

Viva Alceu Valença! Viva a Cultura Popular Nordestina! 


Alceu é mistério, segredo e muito mais. Foto: Gabryele Martins/ Repórter Junino

Serviço



Exposição “Alceu Valença, uma Geografia Visceral Nordestina”
Data: até 18 de agosto
Local: Casa Estação da Luz – Rua Prudente de Morais, 313, Carmo, Olinda
Ingressos a partir de R$ 10 no Sympla
Visitação de terça a sexta: das 10h às 17h // Sábados e domingos de 10h às 14h
Informações: Instagram @casaestacaodaluz

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