ESPECIAL: Flávio José, o Rei do Xote

Campina Grande, 20 de junho de 2014  ·  Escrito por Bruna Morais e Giordani Matias  ·  Editado por Giordani Matias  ·  Fotos de Emanuel Messias e Luan Marcos

Flávio José durante o “Gente Nossa”.

Flávio José Marcelino Remígio nasceu na cidade de Monteiro, Cariri do Estado da Paraíba. Começou a tocar e cantar ainda na infância, influenciado por grandes nomes da música nordestina. Aos cinco anos de idade acompanhou a um show de Luiz Gonzaga e se encantou pelo instrumento de trabalho do Rei do Baião: o acordeon. Desde então carrega consigo as características musicais do mestre, além de nomes como Marinês, Trio Nordestino e Dominguinhos, que também foram fontes de inspiração, contribuindo para a sua formação, sensibilidade e ouvido apurado na juventude.

Flávio José nasceu numa família humilde de músicos. Graças às influências de casa e às suas referências musicais de qualidade começou a se aventurar no universo mágico das teclas com sete anos. Aos dez já tocava o seu primeiro fole de vinte e quatro baixos, animando festas da região. Apesar do apoio da família lhe faltava condições de custear bons estudos. Diante disso, Flávio José decidiu, ainda na adolescência, prestar concurso para bancário. Determinado, dedicou-se durante um ano. Nesse período contou com a ajuda de um amigo que lhe ensinava os conteúdos em troca das aulas de violão. Assim, teve êxito.

 

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Programa “Gente Nossa” apresenta: Flávio José

 

Flávio José aos 10 anos de idade.

Durante 23 anos foi funcionário do Banco do Brasil, dividindo o trabalho com a sua vida musical. Junto a seu irmão integrou a banda baile “Os Tropicais de Monteiro” e, posteriormente, seguiu carreira solo levantando a bandeira do forró de qualidade, exaltando a identidade cultural nordestina através de suas composições e interpretações, sagrando-se um predestinado documentarista melodioso do seu tempo e um veemente defensor da autêntica música regional.

A música “Que nem vem vem”, do compositor Maciel Melo, foi o seu primeiro grande sucesso. Também merece destaque “Tareco e Mariola”, originalmente “Meu mungunzá”, de Petrúcio Amorim. A importância de sua obra é indiscutível.

São 8 LPs solo, 3 LPs com a banda baile “Os Tropicais” e 20 CDs gravados com músicas remetem à raiz, aos costumes interioranos, aos casos e acasos do povo nordestino e aos corações apaixonados. Vai de encontro ao ‘jogo’ da indústria cultural e aos sucessos pobres e passageiros. Graças a sua voz marcante, às melodias regidas pela dança dos dedos sob as teclas da sanfona e às parcerias, Flávio José foi consagrado “Rei do Xote”, reunindo multidões em seus shows, consolidando a sua carreira eperpetuando a sua produção através das gerações.

 

Discografia completa em Vinil e Compact Disc do cantor e compositor Flávio José (arte e pesquisa: Giordani Matias)

 

Sanfona da fabricante “Brandoni”.

O xodó do “Rei do Xote” – Durante a sua carreira o cantor e compositor Flávio José sempre utilizou instrumentos profissionais. Porém, as sanfonas e acordeons – que chegam a pesar em torno de 12 a 13 quilos, acabaram lhe causando alguns problemas. O peso somado às horas de shows e apresentações começou a prejudicar sua coluna. A questão seria amenizada após a sua viagem à Itália.

Durante o Festival de Acordeons da cidade de Castelfidargo um instrumento chamou a sua atenção pela qualidade e beleza: o acordeon Brandoni. Contudo, embora estivesse exposto numa das vitrines da cidade, não estava à venda.

Apesar de ter visitado a fábrica, voltou de mãos vazias para o Brasil. Posteriormente, realizou alguns contatos e se ofereceu como divulgador da marca no país em troca do instrumento desejado. Um dos proprietários da Brandoni, Jean Paolo, estava disposto a negociar e pediu a visita do paraibano. A partir do contato os laços se estreitaram permitindo ao cantor lhe fazer um pedido ousado: a empresa seria capaz de desenvolver um instrumento menor com a mesma qualidade do tradicional? Flávio José alegou que os músicos europeus tocavam sentados enquanto os brasileiros de pé, posição que também é cobrada pelo público. A Brandoni aceitou o desafio e produziu um instrumento que, segundo o cantor, é bonito, não deve nada a nenhum acordeon profissional e pesa aproximadamente 11 quilos. “Me aliviou um bocado”, disse.

 

Flávio José acredita na música nordestina e a qualidade do seu trabalho conquista multidões.

 

De “Meu Mungunzá” a “Tareco e Mariola” – Quando Flávio José começou a se aventurar pelos acordes da música nordestina tinha consigo um propósito: gravar músicas de qualidade. “Eu posso demorar muito tempo para ‘estourar’, mas quando acontecer será com uma música de qualidade. Há pessoas que não têm paciência, não entendem que as coisas acontecem no tempo de Deus (…). Vou gravar apenas coisas boas pra ficar na história. Nunca gravei uma música por gravar”, afirmou. O seu comprometimento com a identidade nordestina e a boa música fez com que suas canções e interpretações conquistassem o público. “Tareco e Mariola” é uma prova disso.

“Eu estava em casa quando chegou Bira, filho do poeta Zé Marcolino, dizendo que havia uma música de Petrúcio Amorim – poeta caruaruense, que se eu regravasse bastava enviá-la para as rádios e esperar a ‘bomba’, o sucesso. Aí eu perguntei o nome da música e ele disse “Meu mungunzá””, contou. Num primeiro momento Flávio José buscou informações sobre o compositor e, posteriormente, fez o contato. O encontrou no Recife e teve autorização para trabalhar a música. Em 1994 renovou os arranjos e a gravou. No ano seguinte o cantor se apresentou em Manaus, no Amazonas. “Meu mungunzá” era a quinta música do repertório. “E nós fizemos o show na vaquejada e quando eu estava me despedindo cinco ou seis pessoas se aproximaram e começaram a pedir uma das músicas do início que fala ‘não sei o que mariola’. Aí eu disse: esse é o nome da música”, afirmou. Petrúcio Amorim autorizou a mudança e, assim, “Tareco e Mariola” tornou-se um dos maiores sucessos da carreira de Flávio José.

 

A mensagem do poeta cantador – Flávio José se disse feliz pela homenagem, agradeceu o convite e as mensagens enviadas durante o programa através das redes sociais pelos internautas. O cantor convidou os jovens a conhecerem melhor e dar valor a música nordestina e elogiou àqueles que, embora nunca tenham vindo ao nordeste, admiram a nossa cultura, tocam e dançam o verdadeiro forró. De acordo com Flávio José, “o que é bom é para sempre”. “Quero agradecer a Deus por esse momento maravilhoso e dizer a vocês muito obrigado e até a próxima”, concluiu.

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