Há 28 anos, Campina Grande realiza o Maior São João do Mundo, evento hoje conhecido nacional e internacionalmente. Porém, mesmo com esse reconhecimento, muitas pessoas se perguntam se os festejos juninos não tem perdido sua identidade nos últimos anos.
Cléa Cordeiro, ex-presidente da Empresa Paraibana de Turismo(PBTur), idealizadora e mantenedora do Museu do Maior São João do Mundo, espaço que guarda grande acervo da nossa festa, acredita que o SJ de Campina Grande precisa se reinventar, pois a cada dia a concorrência aumenta, cidades como Caruaru (PE), Mossoró (RN) e Patos (PB) investem massivamente em seus festejos juninos. Para ela essa reinvenção se daria através do resgate da cultura nordestina, que a própria afirma ter se perdido durante a história do evento.
Ela relembra com saudosismo o “Beco 31”, local que existia anos atrás no centro de Campina Grande, especializado em vender comidas típicas e artesanatos de nossa região. Clea relembra que a expressão “Vamos brincar São João!”, hoje quase não falada, representava fielmente a alma da festa, onde todos se reuniam para dançar quadrilhas, comer milho, primeiramente em seus bairros e logo depois no palhoção, que deu origem ao Parque do Povo.
“Forró antigamente era considerado coisa de matuto, quem escutava rock é que era descolado, hoje o forró é moda”, por mais que não seja o autêntico pé de serra. Logo no inicio de junho criticavam muito a escolha das atrações musicais, falavam da organização por não trazer nomes famosos, então, “O São João se resumirá apenas as bandas?”, indagou.
“No ano em que Luiz Gonzaga é o grande homenageado da festa, como é que um espaço montado especialmente para resgatar sua história (Casa de Gonzaga) é inaugurado quando o evento já passa do seu 15° dia?” Questiona Cléa, que também é professora na Área de Marketing. Ela ainda comenta sobre o espaço reservado as quadrilhas juninas no Parque do Povo, que antes se apresentavam em um tablado localizado na parte de cima, e a alguns anos foram deslocadas para a Pirâmide do Parque do Povo, onde o público assiste a apresentação na mesma altura dos integrantes da quadrilha, impedindo assim a percepção de todos os detalhes.
Sobre a Vila Nova da Rainha, ambiente criado no PP para demonstrar um pouco do artesanato e também da história de Campina Grande, Cléa enfatiza, “é o elemento mais fotografado pelas revistas que fazem matérias sobre o nosso São João”. Para ela isso significa que a procura do turista é pela “Essência e tradição” e que se deve investir nessa área, hoje carente.
Durante visita ao Memorial do Maior São João do Mundo, conversando com nossa equipe, o economista, Abramo Donelli, observa que a parte superior do Parque do Povo tem quase 70% de sua área ocupada por grandes empresas, de maquiagem, TV à cabo, marcas de cerveja, e também barracas especializadas no ramo alimentício, mas que em seu cardápio não se encontram muitos pratos típicos da região Nordeste, enquanto crepes, yakisoba, entre outros são o carro chefe dos estabelecimentos. Abramo ainda sugere que nesse espaço sejam montadas barracas de comidas típicas, como pamonha, bolo de milho, tapioca e pé de moleque, inclusive ensinado os turistas mais dispostos a aprenderem o processo de produção dos pratos.
Para Cléa, em Campina Grande deveria haver uma preparação maior para o São João, preparação essa no sentido cultural. O ensino para crianças da tradição e da cultura junina deveriam se tornar política pública junto às escolas, evitando assim que os costumes se percam no tempo. Pois “A cultura faz a diferença, só assim o Maior São João do Mundo voltaria a ser um evento histórico, turístico, cultural”.
A Grandeza das festividades juninas em Campina Grande é inegável, a capacidade que esse evento tem de atrair público, gerar emprego, renda, é muito grande, e tudo isso nasceu de fenômenos e representações culturais. Cléa ainda ressalta a importância dessa cultura de raiz como prolongadora do sucesso. “A tradição faz a diferença. Nossa cultura não pode passar de protagonista à coadjuvante”.
Edição:Mayara Medeiros
Fotos:Jaime Guimarães e Felipe Valentim