Em Campina Grande, no mês de junho, as sanfonas e pífanos murmuram melodias, as sandálias ficam prontas para o arrasta-pé. As moças colocam seus santos de cabeça para baixo, as quadrilhas preparam seu colorido para abrilhantar os festejos. Os poetas criam motes. O cheiro da comida de milho paira pelo ar. Campina Grande respira São João.
Desde 1983, a Rainha da Borborema realiza aquela que é conhecida como a maior festa junina do mundo. Sediando os festejos desde 1986, o Parque do Povo é uma espécie de feira de culturas, onde encontramos diversas expressões das raízes nordestinas. Seja na música, artesanato, poesia ou dança, o espaço abrange um mix cultural.
Além das famosas quadrilhas, tão evidenciadas no período junino, outros segmentos artísticos merecem grande destaque. Um exemplo são os grupos para-folclóricos. Eles ultrapassam as “barreiras” mostradas pela mídia. Um deles, genuinamente de Campina Grande, é o Grupo Caetés.
Fundado pelos professores Fláuber e Rosilene Gorgônio, em 1991, atualmente com 25 componentes e em fase de produção de seu mais novo espetáculo “PARAIBUCO – O sonho do mundo afora”, o Caetés representa a cultura nordestina e nos apresenta características que vão muito além do forró e do arrasta-pé. Mas, o que é observado ainda é a falta valorização destes e outros artistas da terra durante as festas juninas da cidade.
Mesmo com o espaço aberto para divulgação da cultura, através dos grupos para-folclóricos, quadrilhas e trios de forró, no período do Maior São João do Mundo, os artistas locais perdem a prioridade em relação aos artistas consagrados. “Nossos artistas estão sempre ‘enchendo linguiça’ nos palcos de artistas consagrados. O espaço dedicado na mídia e nos eventos para os artistas da terra é pífio, vergonhoso.”, comentou Fláuber Gorgônio.
A questão da valorização destes artistas sempre gera grandes debates. Uma espécie de conflito daquilo que está em destaque na mídia versus artistas que durante toda sua trajetória, e não só durante o período junino, produzem e mostram nossa cultura de raiz para o mundo, é gerado. “O poder da mídia é esmagador. Se tal expressão folclórica foi explorada na novela ‘x’, o espetáculo do grupo em destaque é um sucesso imediato.”, destacou Fláuber.
O fato é que através de grupos como Caetés, de artistas como Zabé da Loca ou Manoel Monteiro, é que a cultura realmente se mantém viva. Estes e outros artistas que devem ganhar o verdadeiro destaque por manter e passar para as futuras gerações, o que de fato é a cultura nordestina. Os festejos juninos, que são marcados por fatores históricos, devem enaltecer àqueles que fazem, repassam e preservam a história da arte nordestina.
Nas palavras de Fláuber, um autêntico matuto nordestino, como ele se auto denomina, podemos confirmar a grande importância da valorização da identidade cultural nordestina, da valorização de gente da nossa terra, afinal, representamos uma parte de grande significado da cultura de um povo, do povo brasileiro. “São eles que preservam a nossa identidade cultural de povo brasileiro. Não podemos nos entregar a culturas alheias. Somos brasileiros. Não somos americanos, alemães ou cubanos. Somos brasileiros e se chegar o dia de nossas crianças não conhecerem nossas tradições seremos, então, um povo miserável e teremos que esmolar a cultura dos outros.”, concluiu.
Edição: Nayara Clênia