A fogueira pagã de São João

Campina Grande, 5 de junho de 2013

Os festejos populares que se concebem durante todo o mês de junho e fazem parte da tradição e, principalmente, da identidade sociocultural da região nordeste, tiveram muitos de seus pilares erigidos nas eras mais ancestrais. Historicamente, a celebração instituída em homenagem a São João Batista pela Igreja Católica no século VI, se confunde com os cultos de povos pré-cristãos em tributo à família, a fartura da colheita e a fertilidade dos campos e animais.

Há registros que datam por volta do ano 1250 a.c., na Europa antiga, onde diversos grupos como celtas, germânicos, e sumérios praticavam cerimônias e exaltavam seus Deuses. Várias simbologias e ritos já se destacavam nesta época, como a fogueira em honra ao Solstício de Verão e o “Deus Fogo”.

Durante sua expansão e consolidação no velho continente, a igreja não conseguiu suplantar a realização dessas manifestações, que coincidiam com o nascimento de São João no dia 24 de junho. Dessa maneira, as festas acabaram se fundindo e sendo adaptadas ao calendário católico.
Séculos depois – carregada de vários significados e representações – a festa que hoje chamamos de “Junina” chegava ao Brasil, juntamente com os portugueses, e rapidamente assimilada pelos nativos também absorveu as influências do nosso povo, moldando-se à nossa cultura.

Desde então, cristianismo e paganismo (ou como muitos referem-se sobre o tema: sagrado e profano) coexistem em meio a esta espessa mistura de tradições, crenças, simbolismos, e, sobretudo, perante o imaginário popular. O tema é bastante rico, gerando o debate entre estudiosos e religiosos. Por este motivo, devemos considerar ambas as partes.

O Solstício e a Cultura Pagã

A comunidade Neopagã, apesar de restrita, se encontra presente na Paraíba há muito tempo. Há grupos espalhados por todo o estado que se constituem basicamente de pessoas que não se identificam com as religiões da nossa época, e que de alguma forma tentam resgatar as crenças antepassadas. É o caso de Marcílio Diniz da Silva, membro do grupo Castro da Parahyba.

Criador do blog Parahyba Pagã, o professor de filosofia de 26 anos diz que o projeto surgiu a seis anos, da necessidade de ter um espaço para a divulgação de informação relacionada à sua ideologia. Além disso, a plataforma é um meio de reflexão sobre os ritos praticados pela comunidade pagã, dentre eles, o Solstício de Verão.

“Esse é um fato astronômico antes de tudo. Está relacionado há a ação da luz do sol. É quando nós temos o maior período de duração solar, ou seja, o maior dia”, afirma. Ainda segundo com o professor, o modo como se observa e se significa este fenômeno, é algo de que diverge de cultura para cultura, mas que tem um fundo simbólico muitas vezes similar.

O rito se assemelha em partes com o Solstício de Inverno, a maior noite do ano. “Os dois eventos acontecem simultaneamente nos hemisférios norte e sul. Enquanto na Europa se festeja em junho o Solstício de verão, no Brasil ocorre o de inverno. O contrário acontece no Solstício de Inverno, que se realiza em dezembro”, completa.

O folguedo e a Comunidade Cristã

Os ritos de São João também possuem vital importância para a Igreja Católica Apostólica Romana, segundo o Padre Artur Figueiredo de Lima Neto da paróquia Sagrada Família, localizada no bairro das Malvinas em Campina Grande. De acordo com o Vigário Paroquial, essas manifestações representam a crença em Deus, são uma forma da comunidade católica estar diretamente ligada com ele.

“Nos utilizamos das liturgias igualmente para que possamos compreender nossa própria fé e tudo aquilo que nós acreditamos”, assegura. Ele explica que o costume de se acender a fogueira nas festas de junho representam acima de tudo o “fervor espiritual” que levou os grandes discípulos de Jesus a evangelizar o mundo. A fogueira também denota, segundo a igreja, o “fogo do Espírito Santo”.

O Padre Artur afirma que as festividades de junho possuem relevância além da espiritual. “Religião também é alegria e incentivamos para que nossos fiéis se divirtam nesse período. Não se pode desprezar o lado social da festa que tem sua inegável importância”, conclui.
Sagrado e profano se encontram em Campina

Conhecida por deter o título de “Maior São João do Mundo”, Campina Grande é o exemplo de que cada doutrina pode conviver em pleno equilíbrio. Vários espaços são dispostos, muitas vezes afora o Parque do Povo, para que os mais diversos cultos sejam representados, dando o sentido ecumênico da Festa. Celebra-se assim, a fé, a cultura e respeito entre os povos.

Edição: Carmem Nascimento

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