Muita gente acredita que essa seja uma prática já esquecida, devido ao tempo em que foi criada ou por não ter tanto espaço na grande mídia, mas a cada dia aumenta o número de grupos que se dedicam a pesquisa, leitura e escrita do Cordel . Aqui em Campina Grande, duas professoras aposentadas acabam de fundar um grupo de declamadores de cordel, intitulado de “Nordestinidade”.
“Trabalhando no Sítio São João vi tantos grupos de dança e senti falta do cordel no palco. E disse: vou fazer um grupo de declamadores de cordel amanhã”, revelou Almira Araújo Cruz, uma das idealizadoras do projeto. No dia seguinte ao que teve a ideia, juntou-se a sua irmã Adeilma Araújo Maia, convidou algumas meninas e começou a ensaiar.O grupo deu inicio as suas atividades no mês de junho deste ano, contando com oito componentes, todas mulheres com idade entre 9 e 22 anos, a maioria da família das duas irmãs (sobrinhas, netas e filha), na companhia de duas vizinhas. Os objetivos principais são a leitura dramática, declamação e a encenação do cordel.
O Amor pelas rimas
“Comecei a rimar quadrinhas românticas aos 16 anos para meu namorado” contou Almira. Há 29 anos ela escreveu seus primeiros poemas para um concurso da rádio Campina FM em parceria com uma marca conhecida de aguardente. “Escrevi todos em homenagem ao Maior São João do Mundo”, ressaltou a poetisa popular e cordelista.
A professora expõe em sua residência a coleção de 12 banners que trazem estes poemas, que também integram o primeiro livro dela, “Porta aberta a poesia popular”, editado pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), publicado em junho de 2010 pelo Clube do Repente, do qual ela faz parte.
“Nesta vida temos que deixar alguma semente plantada, como sou professora, a cultura é a principal semente deixada por mim”, enfatizou Almira, que acaba de concluir mais um cordel. “A Dimensão do Amor”, que terá seu prefácio desenvolvido pela conhecida escritora paraibana Lourdes Ramalho.
Adeilma está com três cordéis para serem publicados. Atualmente eles estão na biblioteca Átila de Almeida (UEPB), que tem um projeto voltado à poesia popular. “A greve da universidade foi o que atrasou a publicação, mas devem sair agora em agosto”, destacou a também professora. A obra das duas irmãs contempla em sua maioria, a regionalidade, literatura infantil e conteúdos educativos.
De geração para geração
A estudante Jordiana Lima, 18 anos, aceitou o convite para participar do grupo porque gosta de rimas, preferencialmente as de temática romântica. Já a filha de Almira, a estudante do curso de letras Rayanna Araújo, 22 anos, relatou que o interesse em participar do Grupo Nordestinidade surgiu através do seu gosto pela leitura.
A prova de que o talento é transmitido no sangue da família, está na pequena Alice Araújo, que apenas com 10 anos de idade, já tem mais de cinquenta poemas escritos. Ela afirmou que ainda não decidiu se irá cursar universidade para medicina ou letras, mas de uma coisa tem certeza absoluta, “também quero ser escritora”, enfatizou a menina.
Conheça o trabalho
A primeira apresentação do “Grupo Nordestinidade – Declamadores de Cordel” acontece neste sábado (06) às 13h no Sítio São João. Outras apresentações já estão agendadas para o mês de agosto em uma escola durante a Semana da Cultura Popular e em setembro, durante a Semana do Ancião no Instituto São Vicente de Paulo. O grupo também está com o projeto de gravação de um DVD para divulgação em breve.Para quem se interessou pelos cordéis, Almira vende exemplares dos seus no Sítio São João na “Tipografia Estrela da Poesia”, por apenas R$2,00.
Sobre o Cordel
Segundo a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), a prática deste tipo de escrita existe desde a colonização da Península Ibérica (Portugal e Espanha) pelos povos greco-romanos, fenícios, cartagineses, saxões, etc., por volta do século XVI. Mas apenas em 1750 foi que apareceram as primeiras manifestações da literatura de cordel oral.
Fotos: Felipe Valentim
Edição: Lidianne Costa