REPORTAGEM ESPECIAL: arte do barro é tema do Salão do Artesanato

Campina Grande, 19 de junho de 2014

Por  Thaís Mendonça, Deise Ribeiro e Antônio Andrade
Fotos: Antônio Andrade

 

O ARTESANATO É A POESIA DAS MÃOS…
O artesanato é a poesia das mãos…
Revela a alma daquele que sente…
Expressa os seus anseios e virtudes…
Sendo o fruto do trabalho do homem, é sagrado (…)
(Eloisa Rocia)

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As peças de barro são destaque esse ano no Salão do Artesanato. Foto: Antonio Andrade

O mês de junho se revela um período rico de visibilidade artesanal e dos produtos culturais culminando com os festejos juninos. É um momento consagrado para os artesãos mostrarem suas artes em várias nuances e habilidades. É com este intuito sempre no mês do São João é aberto ao público o Salão do Artesanato, um espaço voltado para a exposição e venda dos trabalhos realizados por cerca de 3.000 artesãos do Estado, sendo este resultado da parceria entre o Governo do Estado e o Sebrae Paraíba. E esse ano o salão está entrando em sua 20° edição com a temática “Da terra, a nossa arte”, onde o barro figura como destaque do evento e estão sendo expostas as várias peças que podem ser criadas a partir dessa matéria-prima.  Além disso,  passeando pelo salão é possível contemplar a exposição de outras tipologias como o couro, fibras, tecidos, algodão colorido, brinquedos e a madeira, que nas mãos dos artesãos viram peças belíssimas e de ótima qualidade. Em ano de Copa do Mundo no Brasil, o Salão ganhou um espaço extra, uma estrutura montada para os artesãos e visitantes acompanharem os jogos da competição, com transmissão em alta definição, “arquibancada” e tamboretes para a acomodação dos espectadores.

Para o diretor superintendente do Sebrae, Luiz Alberto Amorim, é um espaço adequado que ajuda na visibilidade das peças produzidas pelos artesãos. “Trabalhamos com os artesãos, oferecendo condição de trabalhar o design, o produto, e melhorar a apresentação, que é onde entra a parte de vendas, do qual o salão faz parte”, destacou Luiz afirmando que a valorização cultural está em todos os aspectos, uma vez que considera “o artesão como um artista, a produção de peças com alcance mundial. Hoje os artesãos ocupam um grande espaço, onde promovem um diálogo com o mundo através de suas peças, sendo esse um avanço fantástico e significativo para o artesanato”, finalizou.

Rico em valorização cultural, o salão do artesanato é mais um ambiente cultural onde o trabalho desenvolvido pelos artistas da região é exposto e vendido, possibilitando a todos terem acesso a verdadeiras obras de arte produzidas com materiais como o barro e a argila. “Vim ao salão olhar as novidades, ver alguma coisa que eu ache interessante para comprar. Já vi muitas coisas bonitas, está bem sortido aqui, vim olhar bijuterias e artesanato de casa como quadros, tapeçarias, panelas e enfeites. A gente ver que é um trabalho de qualidade, organização, peças boas mesmo, eu gostei”, afirma Soraia Dias que há dois anos visita o salão.

Esse ano o barro foi escolhido como tema do evento. Versátil, ele é uma matéria-prima que quando bem trabalhada cria peças belíssimas que vão desde panelas a objetos de decoração como podem ser visto no evento. Representante de uma prática da cultura popular brasileira, a arte do barro existe há mais de 3.000 anos a.C.,  herança deixada pelos índios, o artesanato com barro é uma produção espontânea onde o formato é concebido pela imaginação e a habilidade na modelação além da sensibilidade e inspiração do artesão. O barro é usado para criar peças que proporcionem beleza, prazer e arte, sendo ele, fonte de renda para muitas famílias, além de ser uma técnica passada de geração em geração que promove o desenvolvimento local e regional.

Há três tipos de modelagem: à mão: uma técnica onde as peças são produzidas com o uso de placas, rolos ou bolas de argilas, sendo alisadas e umedecidos com as próprias mãos, modelando as peças. Modelador em torno: utilizando o torno e seus acessórios. Modelagem por drenagem ou uso de moldes: utilizada na fabricação de produtos de cerâmica onde se utiliza moldes para a finalização na confecção do produto final.

Barro que modela vidas e é modelado

A região conhecida como Chã da Pia, na cidade de Areia-PB,  é berço de uma cultura que até os dias de hoje subsiste em meio a tanta modernidade. A confecção de panelas de barro pode parecer uma coisa obsoleta em tempos de panelas com fundo antiaderente, de vidro, e acredite, panelas inteligentes. Acontece que, panelas de barro produzidas por artesãs como dona Maria José Evaristo da Silva, por exemplo, transcenderam  a barreira do funcional e do simples cozinhar. Ela conta que é hoje uma das pessoas que luta para manter acesa a chama da cultura nordestina, através das panelas produzidas por ela é possível identificar traços da história de um povo, costumes, tradições e até mesmo estratégias de sobrevivência. Com a renda obtida na produção de panelas de barro, que a avó de dona Maria alimentou filhos e netos.

Das mãos marcadas pelo tempo, surgem peças com a cara de um povo batalhador, que mantém  a esperança mesmo quando a chuva não vem, que se adapta à realidade em que vivem  e fazem dela o seu ganha pão. Dona Maria disse que mantém contato com o barro desde criança: “Eu comecei a trabalhar com barro aos 12 anos com a minha mãe,  por causa de problemas de saúde eu parei um tempo, mas agora eu faço peças e exponho no salão.” Dona Maria afirmou que o Salão impulsiona a venda das panelas de barro, e que fora desse período a procura pelas peças cai bastante.

Nos diversos estandes montados no Salão, chama a atenção a história das Irmãs Cavalcante, Adelaide, Nena e Teta. Três irmãs que produzem bonecas a partir da argila, e que tornam o processo de confecção das peças tão natural quanto as expressões faciais das bonecas. Para se ter uma ideia, a coloração das peças é obtida a partir da combinação de diferentes tipos de argila, ou seja, tons naturais, sem nenhum tipo de corante. Artificial mesmo só o tom rosado das bocas das meninas, que diga-se de passagem, são muito vaidosas e atraem os olhares de todos que passam pelo Salão, até mesmo os mais distraídos se pegam encantados com uma arte de tamanha beleza.

Adelaide Cavalcante descreve como é o processo de produção das peças: “A gente pega a argila bruta, tratamos ela, coamos, em seguida a gente bota pra secar, pra que a massa fique com o ponto de liga. Quando ela está no ponto a gente modela as peças e depois delas prontas a gente faz o acabamento, só depois disso é que ela vai para a queima e em seguida a maquiagem, com batom de verdade.”  Adelaide conta que ela e suas irmãs já trabalham com a produção das bonecas há algum tempo, mas agora o trabalho foi intensificado porque seus filhos estão todos criados, e que por isso, hoje elas têm mais tempo. As irmãs Cavalcante produzem além de bonecas, santos, anjos, grávidas, bonecas gordas e trabalham também com outras tipologias, mas preferem a argila porque, segundo elas, a inspiração flui melhor.

O Salão foi aberto no último dia 14, e estará expondo as peças até o dia 6 de julho. Até o dia 29 de junho o horário para visitação é de 11h às 22h, e no período que vai do dia 30 de junho a 6 de julho o horário de visitação será de 15h às 22h. O Salão fica no começo da Avenida Brasília, próximo ao giradouro do Parque da Criança. A entrada é franca.

 

 

A organizadora do Salão, Ladjane Barbosa, concedeu uma entrevista à equipe.

 

 

Confira a galeria de fotos do Salão.

EQUIPE REPORTAGEM ESPECIAL
Coordenação da Reportagem: profa. Adriana Alves Rodrigues
Texto: Deise Ribeiro, Thaís Mendonça e Antonio Andrade
Fotos: Antonio Andrade
Edição de fotos e vídeo: Antonio Andrade

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