Equipe do Repórter Junino acompanha uma família tradicional neste São João

Campina Grande, 4 de julho de 2014  ·  Escrito por Necivalda Santos e Henriette Valéria
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Dona Nenê e seus dois filhos a caminho do sítio Costa, localizado a 10 Km de Queimadas – PB

Durante os festejos juninos na Paraíba, uma coisa chama a atenção: mais que um evento simbólico, a festa representa, além da colheita do milho e suas comidas, uma reunião de família. Por isso, na noite de São João, este ainda é um dos principais motivos pelos quais as famílias se reúnem ao redor da mesa para se confraternizarem durante os festejos juninos.

As comidas típicas são alimentos que servem como elo para esta aproximação familiar. Fazendo com que estes sejam alguns dos motivos que fazem das festas juninas uma grande festa, uma tradição passada de geração em geração, mesmo em tempos tão diversos.

A equipe do Repórter Junino foi até a zona rural da cidade de Queimadas, no Sítio Costa, localizado a 35 Km de Campina Grande – PB. Lá, conhecemos a família da Dona Nelsina, 46, mais conhecida como Dona Nenê. Ela, juntamente com sua família, trabalha para manter uma antiga tradição: a de cultivar a terra e todo o processo de plantação e colheita do milho, feijão, jerimum, melancia, melão, chuchu do Pará, milho para pipoca, entre outros iguarias da região. A produção serve para alimentar a família e uma parte é vendida à comerciantes da própria cidade.

Para acompanharmos um dia na vida da dona Nenê, o Repórter Junino chegou cedo à sua casa. Às 7h da manhã Dona Nenê já se reunia com seus filhos, enquanto selecionava alguns alimentos, água, ferramentas e tudo que iria precisar para mais um dia de trabalho na roça. Alguns minutos e tudo já estava pronto para seguir os 10 km que separa a casa na cidade ao sítio. De carroça,  puxada pelo cavalo “Mão Branca”, a família segue a viagem. Enquanto isso o Senhor Ademar, 49, patriarca da família, já se encontra desde 5h na luta do roçado, aguardando a chegada da esposa e seus filhos.

A estrada de terra, com  muitos buracos, poças de lama e irregularidades não facilitou muito a nossa viagem. O que para o Repórter Junino é uma aventura, para dona Nenê é uma rotina quase que diária. Esta atividade representa 100% do sustento desta família, na cultura de subsistência.

Ao chegar ao roçado, alguns cuidados são necessários como por exemplo, o tipo de roupa a ser utilizada. A agricultora nos revela que usa calças compridas e casacos que ajudam a prevenir as mordidas de um inseto que recebe o nome de mutuca, que morde e deixam manchas doloridas pelo corpo, além de se prevenir contra o sol e o pelo das folhas de milho. Quanto aos pés, ela lembra “é importante usar sempre sapatos fechados para prevenir mordidas de cobra e escorpiões”.

No roçado cada membro da família desempenha um papel fundamental. No da visita da nossa equipe, o Repórter Junino observou que, enquanto os pais iam limpando o mato, os dois filhos mais velhos, Cláudio, 18 e Anderson, 16, foram em busca de lenha que será utilizada na fogueira de São João e são Pedro. Já o caçula da família Rafael, de 10 anos, ajuda os pais com sua pequena enxada. A agricultora afirma que nem sempre é possível chegar cedinho no roçado, pois antes de sair ela precisa deixar o almoço pronto em casa para os meninos, que estudam em diferentes horários.

A família geralmente passa o dia todo trabalhando no roçado, o que frequentemente faz com que a preparação do almoço seja realizada ali mesmo no roçado. Com um fogão improvisado com  algumas pedras e lenha, a dona Nenê vai pouco a pouco cozinhando o almoço que alimentará sua família.

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No acampamento montado no sítio, a família descansa e faz as refeições

Ao meio dia, uma pausa para o descanso e para a prosa se faz necessário. A equipe do Repórter Junino realizou sua refeição embaixo da sombra de um pé de cajá, juntamente com a família dos agricultores.

Uma pausa rápida, pronto, todos de volta ao trabalho. É hora do cavalo mão branca entrar em ação, depois de ter passado uma manhã inteira comendo o mato verdinho, ele é convocado para puxar o cultivador, arar a terra para que ela fique fofinha e evite a proliferação de vegetação que possam atrapalhar o desempenho de uma boa colheita.

No final do dia, acompanhamos à família no trajeto de volta à cidade. Na carroça, milho verde e lenha para animar a noite de São João.

Agora, o Repórter Junino vai acompanhar dona Nenê na produção das comidas juninas.

 

Do milho à mesa:  delicias das comidas juninas

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Com a ajuda família, dona Nenê cuida da roça e produz pratos típicos juninos

 

É difícil encontrar alguém que não goste de milho e de seus derivados, e se tratando de épocas juninas esta procura é ainda mais acentuada. Mas nem todo mundo que aprecia estes tipos de alimentos estão dispostos a enfrentar a trabalheira que faz, ao preparar pamonhas e canjicas, por isso, facilmente encontramos nos supermercados saquinhos de canjiquinhas pré-cozidas. Facilmente pode ser levada até o fogo e dentro de alguns minutos está pronta. Mas esta comodidade não atrai a dona Nenê que prefere optar pelo método tradicional. Na noite de São João já é de costume na casa da agricultora a confraternização em torno das comidas de milho.

Cada prato (ou melhor, gostosura) é preparada manualmente por dona Nenê, que sozinha consegue dar conta de quase tudo. Descascar milho, separar palha e levar para cozinhar, separar espigas para assar e outras espigas para cozinhar, ralar milho. Dissemos quase tudo, porque, de comer, todos participam sem demora.

Nas mãos de dona Nenê, em poucos minutos os grãos vão se desmanchando e virando uma espécie de caldo grosso que servirá de matéria prima para a produção da pamonha e da canjica. Após ter ralado o milho necessário é hora de peneirar. E haja massa de milho. A peneira deve ser grande, por isso, a agricultora utiliza uma arupema (uma peneira feita de palha) que a considera ideal para obter o ponto da massa.

A porção mais grosseira do que foi peneirado é separada em quantidade para o bolo de milho, tão apreciado por seus filhos. Ela nos relata que a massa tradicional da pamonha, ela adiciona apenas açúcar, e um pouco de leite de coco para dar mais sabor e consistência. Para a canjica ela adiciona açúcar e uma pitadinha de sal para equilibrar o sabor.

A comida está sobre a mesa, depois de tanto sacrifício é chegado o momento de reunir os familiares e amigos para saborear o fruto de tanto trabalho. Sendo esta uma forma de estreitar os laços, confraternizar e proporcionar momentos de sociabilidade entre as famílias nordestinas.

Fotos e vídeos – Necilvalda Santos e Henriette Valéria

 

Confira alguns vídeos da visita do Repórter Junino ao sítio da Dona Nenê

http://youtu.be/ge2q01mxZnk

http://youtu.be/CmNSOPF0cFg

http://youtu.be/mqIEc3ae2-c

 

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