Argentino e paraibana viajam o Brasil cantando o forró pé-de-serra

Campina Grande, 25 de junho de 2015  ·  Escrito por Frankllin Alves  ·  Editado por Anthony Souza

Pra grande maioria dos nordestinos, o forró é como se fosse item de série. Crianças nascidas na região aprendem a dançar, cantar e gostar desse ritmo até mesmo nas escolas durante as comemorações folclóricas. Algum tempo atrás, raro era o bairro que não dispunha de uma quadrilha junina. Durante alguns meses, os organizadores ensaiavam com os participantes e eles dançavam em plena via pública, apresentando toda a beleza de uma festa de casamento matuto.

Um argentino e uma brasileira mostrando que a união da música (Foto: Frankllin Alves)

Um argentino e uma brasileira mostrando que a união da música (Foto: Frankllin Alves)

O tempo passou e contribuiu para que as quadrilhas continuassem a apresentar seus “shows” com direito até a efeitos especiais. Porém, aquela quadrilha “matuta” de bairro está quase extinta, assim também o forró pé-de-serra, como é denominado o ritmo tocado essencialmente por triângulo, zabumba e sanfona. Esse forró parece perder espaço para um moderno, apresentado com outros instrumentos e ritmos e até mesclado com efeitos digitais. Parte das novas gerações nordestinas parecem desconhecer o passado culturalmente rico impulsionado por Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Marinês, Sivuca e vários outros mestres que dissiparam a cultura dessa terra pelo país.

Em meio ao movimento de pessoas no Parque do Povo, uma dupla chamou atenção. Transportando um Cuatro (instrumento típico da Venezuela), um pandeiro, um triângulo e um ganzá, espécie de chocalho formado por um cilindro de metal contendo sementes ou seixos, o argentino Bob (27) e a jornalista Andrêzza Castro (37) estão divulgando o forró pé-de-serra por vários estados. Essa parceria surgiu na Chapada Diamantina, no estado da Bahia, quando eles se encontraram e decidiram viajar por amor à música.

Bob chegou ao Brasil há mais ou menos cinco meses e já fala fluente o português. Amante do reggae, conheceu o forró em Ilha Grande/RJ, quando tinha uma gaita melódica e foi convidado a tocar um xote; gostou do ritmo e não quis mais parar. Citando referências como Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Trio Nordestino, ele se diz apaixonado pelo forró pé-de-serra. “Vou fazer minha crítica com muito respeito, pois sou estrangeiro, mas esse forró, que se fala forró estilizado ou de plástico, tenho minhas dúvidas se é forró. Porque a batida, a música, o que se fala… eu não gosto! Pois é muita safadeza, a batida é muito agressiva, não tem nada a ver com os trios, a sanfona, a zabumba, essas coisas que me faz arrepiar”, opinou.

Andrêzza e Bob tocando forró pé-de-serra pelas ruas  de CG (Foto: Frankllin Alves)

Andrêzza e Bob tocando forró pé-de-serra pelas ruas de CG (Foto: Frankllin Alves)

Já a jornalista, natural de Campina Grande e formada pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), pediu licença da instituição onde trabalha e decidiu viajar cantando as belezas do sertão e do nordeste. Ela se diz satisfeita com a receptividade e aceitação do público, bem familiarizada com a música, visto que há mais de 15 anos faz música com violão e percussão, inclusive chegando a tocar com artistas da cidade. Ao término das apresentações, a dupla solicita a contribuição do público, pois essas contribuições ajudam a custear as viagens e necessidades, tais como alimentação. Ela relata que de vez em quando rola uma troca de serviços, convite para tocar em barzinhos e até hospedagens na casa dos expectadores, mas deixa claro que o mais prazeroso é o reconhecimento pelo trabalho e o amor a arte de tocar e cantar.

As apresentações seguirão pelas ruas da cidade d’O Maior São João do Mundo por tempo indefinido, até a dupla partir rumo a outra cidade, disseminando a cultura nordestina e mostrando que o autêntico forró encanta qualquer um, independente da nacionalidade.

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