Irreverência e tradição juntas: Quadrilha dos Trocados completa 31 anos

Campina Grande, 25 de junho de 2015  ·  Escrito por Emanuelle Carvalho e Maryanne Paulino  ·  Editado por Anthony Souza  ·  Fotos de Emanuelle Carvalho e Maryanne Paulino

Na noite desta quarta-feira (24), o Arraial Zé Marcolino, da cidade paraibana de Sumé, foi palco de muita alegria e tradição. Em seu 31º ano, a Quadrilha dos Trocados mantém viva a chama da brincadeira das pessoas se travestirem com roupas do sexo oposto para dançarem essa famosa contradança. Este ano a animação ficou por conta de um trio de forró pé-de-serra e do marcador Wanderley Paulo.

Wanderley Paulo, marcador da quadrilha (Foto: Emanuelle Carvalho)

Wanderley Paulo, marcador da quadrilha (Foto: Emanuelle Carvalho)

Toda essa tradição começou em 1984 com Paulo Braz e alguns amigos próximos, mas não se sabe ao certo como surgiu a ideia da troca dos papéis de gênero. E como era novidade, nos primeiros três anos, apenas poucos casais, formados por amigos, participaram. Após o quarto ano, quem ficou responsável pela realização da quadrilha foi a professora Nena Brito, e a partir daí ela começou a crescer. “Sempre foi uma grande brincadeira”, ressaltou.

Pelo sexto ano consecutivo à frente da organização, Thyago Belinho disse que esse posto foi ganho de Nena Brito em 2009, quando a quadrilha completava 25 anos. Na época, ele foi jurado, hoje, Thyago revitalizou a Quadrilha dos Trocados, dando-lhe uma cara ainda mais cômica. O concurso Rainha dos Trocados, por exemplo, a cada ano fica mais engraçado. A escolha dos jurados é feita com base nas pessoas que estão sendo muito citadas pela população sumeense, seja positiva ou negativamente. Também é preciso muita criatividade: a ficha de descrição das “meninas” que concorrem tem elementos como o nome de guerra, a profissão, o sonho, o nome do namorado, a frase que lhe define e o nome de quem levaria para passar uma noitada no lote, espécie de sítio.

E por falar em lote… Desde o ano passado que a quadrilha tem como bordão a frase “Ô saudade do lote”. Sobre isso, Thyago comentou: “no dia da quadrilha do ano passado, nós nos reunimos no lote de um colega. E na hora de vir embora para quadrilha a gente disse: ‘é bom dançar a quadrilha, mas…ô saudade do lote’. E isso hoje é a marca da nossa quadrilha. Tem pessoas que pensam que o lote é em qualquer lugar, mas o lote existe, porém com restrições de quem pode e quem não pode ir [risos]”.

Algumas das "moças" presentes na Quadrilha dos Trocados, em Sumé (Foto: Emanuelle Carvalho)

Algumas das “moças” presentes na Quadrilha dos Trocados, em Sumé (Foto: Emanuelle Carvalho)

A divulgação do evento foi feita através das redes sociais, das rádios locais e de um carro de som. Além do apoio da Secretária de Cultura e Turismo, uma vasta lista de patrocinadores contribuiu para a realização da quadrilha, que este ano inovou com a distribuição de canecas personalizadas entre os dançarinos. As inscrições para participar foram feitas do início do mês até momentos antes do início, e o valor cobrado foi de R$5,00 por casal para custear as despesas, como trio, marcador e bebidas.

Segundo Thyago, entre 80 e 90 casais se inscreveram antecipadamente neste ano, mas na hora da quadrilha, mais de 100 estiveram presentes para dançar. Uma multidão de homens vestidos de mulheres e vice-versa pôde ser vista desfilando pela avenida principal da cidade, Avenida 1º de Abril, e também no Arraial Zé Marcolino.

Apesar da irreverência nas vestimentas, a quadrilha sempre mantém o trio de forró, o marcador e os passos tradicionais. “É importante para que não se perca a essência das quadrilhas juninas”, diz Thyago. E assim aconteceu. Os casais arrastaram o pé do chão, dançaram e se divertiram bastante. Brincadeiras entre os participantes também não faltaram.

Aloísio Nascimento, "Charllotte", Rainha dos Trocados 2015 (Foto: Emanuelle Carvalho)

Aloísio Nascimento, “Charllotte”, Rainha dos Trocados 2015 (Foto: Emanuelle Carvalho)

Entre os participantes dos últimos anos, é possível ver muitos jovens (este ano a organização estipulou idade mínima de 16 anos), mas também muitos veteranos. Zé Orge é um deles. O cabeleireiro de 46 anos desfila há 13 na Quadrilha dos Trocados. Pelo segundo ano seguido, ele veio travestido de fada dos dentes. Seu nome de guerra foi Sheila Luana, mais conhecida como “Matuta do Amparo”. O mesmo revelou que gosta muito dessas quadrilhas “diferentes”, mas que está sentindo que esta em especial está ficando fraca, faltando a participação dos homens nessa grande brincadeira.

O que foi possível ver do início ao fim da Quadrilha dos Trocados de 2015 foi alegria, animação, irreverência nas roupas dos dançarinos e brincadeiras a todo momento. Sobre o futuro dessa quadrilha que se consolidou em solo sumeense, Thyago Belinho esclareceu que este foi seu último como organizador e está muito feliz com o trabalho que fez ao longo dos últimos seis anos. Ele espera que a quadrilha continue ainda mais bonita e animada. Nena Brito, por sua vez, falou: “a cada eu me emociono. É toda uma história que está ali. Eu acho que a quadrilha deve e vai continuar, mas não penso em voltar a organizar. Deixo isso para os jovens”.

Esclarecimento

A Quadrilha dos Trocados é realizada tradicionalmente no dia 24 de junho e este ano não foi diferente, porém alguns planos foram alterados em função da ocorrência de uma fatalidade, um assassinato na praça principal da cidade, em meio aos festejos juninos na madrugada desta quarta. Um show de um travesti seria uma das atrações desse ano, mas em respeito à família do jovem assassinado, a organização optou por não fazê-lo.

Confira abaixo alguns momentos da apresentação da Quadrilha dos Trocados:

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