Durante o mês de junho são celebradas em todo o Nordeste as tradicionais festas de Santo Antônio (dia 12), São João (dia 24), e São Pedro e São Paulo (ambos dia 29). Em Campina Grande – PB, apesar do período compreender uma das maiores festas de rua do Brasil, onde milhões de turistas visitam a cidade ao longo do mês, as tradições permanecem vivas e muitas famílias ainda comemoram, principalmente na véspera de São João, à moda antiga.
É possível observar vestígios dessas tradições por todos os cantos da cidade no dia 23 de junho. A movimentação nas feiras livres, a venda de fogueiras, as filas para comprar fogos de artifícios anunciam a chegada da esperada noite de São João. A tradição da fogueira, aliás, é bíblica e remonta a história do nascimento de São João Batista. Seu pai, Zacarias, ergueu uma enorme fogueira para anunciar seu nascimento, acreditando tratar-se de um milagre. Até os dias de hoje as fogueiras são acesas nas calçadas na véspera e dia de São João.
A tradição que era religiosa, tornou-se praticamente uma festa pagã e, aliada ao período de colheita no nordeste, agregou-se também o costume de produzir e consumir alimentos provenientes do milho. A variedade de iguarias é extensa: pamonha, canjica, mugunzá, bolo de milho, cuscuz e também o próprio milho cozido ou assado. Os mais tradicionais têm o costume de comprar o milho na feira e passar o dia produzindo os próprios alimentos, atividade que normalmente é passada de geração em geração, como é o caso da aposentada Maria Moreira, a dona Mariquinha.
Há 44 anos que a rotina do dia 23 de junho é a mesma na casa de dona Mariquinha. A compra do milho e da fogueira acontecem nas primeiras horas do dia para garantir a festa para familiares e amigos no início da noite. A produção de pamonha se realiza a todo vapor e envolve vários membros da família durante grande parte do dia, enquanto os homens se encarregam de montar a fogueira e ornamentar a casa. Ela conta que o costume veio da casa dos pais, mas que o mantem principalmente pelo significado Cristão da festa: “Além do símbolo junino tem o religioso, eu sou católica e mantenho essa tradição”. Explica.
Para que famílias como a de dona Mariquinha comemorem o São João de maneira tradicional, outras famílias trabalham duro e garantem uma renda extra no período junino. Uma dessas famílias é a de Fátima Aires, que trabalha com a venda de fogueiras no bairro do centenário. O cenário é bem típico: várias toras de madeiras organizadas em fogueiras para impressionar os compradores, mas o que chama atenção é observar a família inteira trabalhando: uma tradição que com certeza passa para as novas gerações.
Dona Fátima organiza a venda de fogueiras há oito anos e conta que, apesar da crise, o negócio é lucrativo. “Normalmente a gente vende 800 fogueiras na véspera de São João”, garante. Para manter o ponto durante todo o mês sem ter prejuízo, ela e a família passam os 30 dias dormindo em um barraco improvisado ao lado das fogueiras. “Se a gente não tomar conta, o povo rouba tudo”. Relata.
Delivânia da Silva é cliente de dona Fátima há vários anos, e revela o segredo da vendedora para manter a clientela: “Aqui é mais barato”. Ela esclarece que em outros pontos da cidade, as fogueiras são vendidas a partir de R$ 40,00 e que lá comprou por R$ 30,00. Os preços praticados esse ano estão maiores do que os do ano passado, mesmo assim as famílias acenderam suas fogueiras na noite do dia 23 e comemoraram o nascimento de São João como reza a tradição.