Iniciando o mês de junho, como é tradição, a cidade de Campina Grande se prepara para realizar as comemorações de São João, uma das mais autênticas festas brasileiras. Cada pedaço da cidade vai se enfeitando para dar vida ao “Maior São João do Mundo”, um dos maiores motivos de orgulho para a população campinense. As festas que duram 30 dias se espalham por diversos locais da cidade, mas é no Parque do Povo (PP) onde ocorrem os shows que arrastam grandes públicos para apreciar as diversas atrações, além das comidas típicas vendidas pelas centenas de barracas e os competitivos festivais de quadrilha.
Campina Grande possui aproximadamente 400 mil habitantes, mas quando chega na época de São João a cidade recebe a visitação de incontáveis pessoas dos mais variados lugares do Brasil e também de outros países. Durante o dia, os turistas aumentam o fluxo de visitação nos principais pontos da cidade e, à noite, tanto visitantes quanto moradores locais, se preparam para ir ao PP a fim de prestigiar as grandes atrações dos mais diversos palcos.
Um dos principais meios de locomoção utilizado pelos forrozeiros para se dirigir ao PP ainda é o transporte público coletivo. A prefeitura da cidade garante aos usuários ônibus na ida e na volta dos festejos com a disponibilização das linhas atuando em pleno funcionamento. Em dias úteis normais, o último ônibus sai do principal Terminal de Integração da cidade – localizado próximo ao PP – às 23h30min.
Sistema de circulação dos ônibus em Campina Grande
Durante o período junino, a Superintendência de Trânsito e Transportes Públicos (STTP) da cidade elabora um plano operacional de mobilidade urbana dedicado a organizar o trânsito da cidade e para que os passageiros possam aproveitar as apresentações dos shows até o final. Durante os dias de festa, o Terminal funciona de maneira especial, uma vez que até meia hora após o fim dos shows de cada noite do Maior São João do Mundo, existe a circulação de ônibus saindo para os bairros da cidade, com intervalos de uma hora. Dentro e nos arredores do Terminal da Integração, a polícia militar garante o controle e a segurança dos passageiros no embarque.
A gerente de trânsito da STTP, Araci Brasil, detalhou como se dá o funcionamento dos ônibus durante as noites de São João em Campina Grande. “Os ônibus circulam a cada uma hora. Durante esse intervalo os ônibus chegam na integração, tendo veículos nas plataformas dos dois lados, dando opção para as pessoas escolherem qual lado da cidade querem ir. Quando a última apresentação se encerra, um fiscal avisa e todos os ônibus disponíveis descem no mesmo horário para o terminal e, a partir desse momento, é realizado o embarque e desembarque de todas as pessoas”, explicou, complementando que quando as plataformas estão vazias, os ônibus são liberados para seguirem suas rotas.
O transporte público de passageiros na Rainha da Borborema conta com o trabalho de quatro empresas divididas em dois consórcios; o consórcio Santa Maria, caracterizado pela linha azul, é composto pelas empresas Cabral e Nacional, atuando na Região Norte e Oeste da cidade. Já o consórcio Santa Verônica, caracterizado pela linha vermelha, é composto pelas empresas Transnacional e Cruzeiro, que atuam na Região Sul.
Ao todo são 198 ônibus circulando por Campina Grande. A Nacional com 74 ônibus, Cabral com 54 ônibus, Transnacional com 52 ônibus e Cruzeiro com 18 ônibus. Sendo ainda que 10% da frota de cada empresa é destinada aos ônibus reservas, mantidos em cada garagem, com a função de suprir eventuais imprevistos ocorridos com os veículos em atividade.
Cada linha de ônibus é subdividida em rotas identificadas pelos seus números, que informam os itinerários dos veículos. (Clique aqui para conferir um mapa interativo com todas as linhas e paradas de cada ônibus que circula na cidade).
Ida e volta do Parque do Povo
Campina Grande, assim como a maioria das metrópoles brasileiras, enfrenta problemas relacionados ao transporte público coletivo e questões ligadas à mobilidade urbana. Contudo, a ida de ônibus ao PP durante os festejos juninos de São João é uma opção considerada viável para pessoas que não dispensam uma noite de forró. A falta de transporte próprio ou ainda a possibilidade de fazer uma economia em relação ao preço pago em uma ida de táxi ou moto-táxi faz do ônibus uma das melhores alternativas para ir ao PP.
De acordo com o motorista da empresa Cabral, Clenilson Lima (31), o fluxo de passageiros nos ônibus em Campina aumenta na época de São João, tanto pelo aumento no número de turistas como por motivos relacionados à segurança no trânsito. “Também aumenta consideravelmente o fluxo de veículos no trânsito, então as pessoas costumam ir de ônibus para o Parque do Povo porque quem quer ingerir bebida alcoólica não vai dirigir para voltar. Por isso existem as pessoas que vão e voltam de ônibus”, disse ele, que trabalha durante o período noturno.
Clenilson também destacou que, sempre que tem oportunidade, não deixa de visitar o PP e levar sua família. “Nós motoristas vamos ao Parque do Povo só quando temos folga, é quando ainda dá. Folgamos uma vez por semana, e nesse dia dá para levar a família pra dar uma passeada no local”, concluiu.
Já para a estudante Eliza Almeida (21), a ida para o PP de ônibus é comum, embora tenha restrições quanto ao horário da volta, também de ônibus. “Normalmente utilizo o ônibus como transporte para vir ao Parque do Povo, porém, a única forma de conciliar a ida para casa com o transporte acessível é pegar o ônibus mais cedo. Geralmente não pego ônibus tarde da noite porque algumas pessoas que vão no ônibus geralmente causam tumulto”, afirmou, reforçando que viaja mais sossegada quando volta mais cedo.
Aspectos sobre segurança
O maior problema relatado por quem utiliza o transporte coletivo para ir ao PP é o sentimento de insegurança. Por ser uma época do ano com maior circulação de pessoas pelos diversos pontos da cidade, os assaltos aumentam também porque os criminosos tiram vantagem da ingenuidade dos visitantes que desconhecem determinados pontos da cidade. A explicação foi dada pelo Instrutor de trânsito Valteides Silva (50), da empresa Nacional. “O fluxo de assaltos aumenta bastante por conta da chegada de turistas à cidade para o do São João e aumenta a possibilidade de assaltantes abordarem os ônibus, pois veem o pessoal bem arrumado e imaginam que estão com dinheiro para ir para a festa”, comentou.
Há passageiros que reclamam da insegurança dentro do transporte não só pela possibilidade dos assaltos, mas também pelo vandalismo praticado por alguns indivíduos exaltados. “Segurança muito pouca, viu. Tenho muito medo dentro do ônibus, das confusões, da violência e do vandalismo”, foi o que o servente de obras Maximiriano Gomes (24) disse temer ao trazer sua família para as festas no PP.
Os motoristas também são vítimas da criminalidade que cerca a profissão, afirmam que estão acostumados com o sentimento de medo e apenas torcem para que não aconteça nada durante seu turno de trabalho. Nesse aspecto, Clenilson Lima deu uma dica para a segurança da população que costuma ir de ônibus ao PP. “O conselho que eu dou pras pessoas é que elas, assim que entrarem no ônibus e perceberem qualquer movimentação estranha, desçam na próxima parada”, avisou Clenilson.
Deslocamento para quem vem de fora da cidade
O São João de Campina Grande não é denominado de O Maior São João do Mundo à toa. A megaestrutura que envolve a realização do evento traz pessoas de diversos lugares e nos mais variados meios de transporte. É comum ver nas proximidades do PP o desembarque de grupos de pessoas que organizaram caravanas, seja em ônibus particulares, micro-ônibus ou vans, os popularmente conhecidos transportes alternativos.
Um exemplo disso é a empresa Receptivo e Turismo – RV, que disponibiliza transporte para grupos de famílias e amigos da região metropolitana de João Pessoa, que se reúnem para vir aos shows em Campina Grande. Viviane Crispim (42), gerente de viagens da RV, contou um pouco de como são realizadas essas viagens. “A empresa promove as viagens, fazemos em pacotes individuais e locações de vans. Geralmente já vem com os grupos montados e outros que querem vir com a família. Praticamente em todos os dias de festa estamos aqui”, disse, informando que a empresa também engloba as cidades vizinhas à João Pessoa como Bayeux, Cabedelo e Santa Rita.
Para quem vem de fora de Campina, há sempre histórias vivenciadas no decorrer da viagem. Uma dessas aventuras é a da costureira Sônia Correia (49), que veio de Juripiranga (PB) trazida pelo sobrinho e um grupo de amigos. Foi sua primeira vez no PP, o que a deixou animada e feliz por realizar o desejo de participar do evento. “Todo mundo dizia: vamos organizar, eu vou levar você para ver o São João de Campina Grande, porque dizem que é muito bonito, mas nunca aconteceu. A primeira vez [a ir no evento] foi essa que meu sobrinho me convidou. Amei o Melhor São João do Mundo e espero ter outra oportunidade pra que eu traga os meus filhos”, ressaltou a costureira.
Quando questionada sobre a viagem e da importância de estar no São João de Campina, Dona Sônia foi direta. “Achei a viagem para Campina Grande maravilhosa. Os estudantes com quem eu vim eram muito legais, pois só tinha eu de senhora no meio dos jovens e eles me respeitaram, me trataram muito bem. Me deram muita atenção e não me deixaram abandonada, tiveram o maior cuidado e até dançaram comigo. Eu ‘tava tão feliz que a estrada poderia ‘tá cheia de buraco que nem ligava”, revelou a senhora, com entusiasmo.
#PartiuPP
Mais do que apenas ter o prazer de ver grandes artistas e usufruir das diversas atrações que o Parque do Povo oferece, quem visita Campina Grande na época de São João pode se considerar uma pessoa privilegiada. Não importa qual o meio de transporte o indivíduo use para se deslocar ao PP, o importante é chegar bem e fazer parte de uma das maiores festas do país e, em especial, da região Nordeste.
No entanto, aqueles que decidem utilizar o transporte público de passageiros ou mesmo o transporte alternativo, seja por qual motivo for e de onde vierem, são marcados por histórias e recordações que guardarão para toda a vida, junto à satisfação de estar presente na comemoração das tradicionais festas juninas de Campina Grande. E mais: embora enfrentem problemas associados às grandes cidades, são capazes de criar laços de interação com outros passageiros, pressupondo a oportunidade de fazer novas amizades e conhecer novas pessoas.
EQUIPE DE REPORTAGEM
Coordenação da reportagem: Anthony Souza.
Texto: Djane Assunção e Thiago Lima.
Produção: Anthony Souza, Denize Albuquerque, Djane Assunção e Thiago Lima.
Entrevistas: Denize Albuqueque, Djane Assunção e Thiago Lima.
Edição: Denize Albuqueque.
Edição Final: Anthony Souza.
Fotos/Infográfico: Djane Assunção.