Durante o mês de junho, ouvimos distintas músicas de forró, assistimos a distintos cantores nos shows e momentos culturais. Identificamo-nos com as letras cantadas e envolvemo-nos na magia em que o mundo musical consegue nos levar, porém você já se perguntou quem pensou e escreveu tal e tal letra? Talvez você não tenha imaginado a princípio, mas, são os compositores que produzem as canções e por vezes são esquecidos. Pensando nisso, trouxemos a história de um compositor e suas opiniões sobre esse meio artístico. Confira agora nessa matéria especial.
Nanado Alves e sua contribuição para a cultura nordestina
Com certeza você já dançou ao som da música “Mensageiro Beija-Flor”, “Um passarinho” ou até mesmo “Lápis de Cor“ nas vozes de cantores consagrados da música nordestina como Flávio José, Santanna e Jorge de Altinho. No entanto, nem todo mundo sabe que estas canções não pertencem a nenhum desses artistas, sendo de autoria de um compositor paraibano que vive de forma simples na mesma cidade em que nasceu, acompanhando com orgulho e alegria o sucesso conquistado pela sua trajetória musical.
Em Monteiro, no Cariri paraibano, se inicia a vida e trajetória de Nanado Alves, considerado por artistas nordestinos como uma das principais referências musicais do estado. Estando agora próximo dos 50 anos, o filho do pedreiro Severino Ludo de Oliveira e da cozinheira Josefa Maria Alves havia percebido a habilidade para a música desde a infância, quando tocava e cantava nas festas com os amigos. A criança cresceu e tornou-se um dos principais nomes da música tradicional nordestina, tendo mais de 300 canções compostas e inúmeros prêmios conquistados ao longo da carreira pela contribuição ao enriquecimento da cultura nordestina.
Além de compositor, Nanado Alves é instrumentista e poeta. No início de sua carreira no meio musical, foi percussionista de bandas de sucesso como Banda Magnífícos e Banda Reflexus. O convívio com os instrumentos musicais ajudaram no desenvolvimento da veia compositora do artista, que aos poucos foi ganhando espaço e tendo seu trabalho reconhecido.
Sobre a habilidade de compor, o artista afirmou ter recebido um dom e que a inspiração é o primeiro passo para se criar uma música. Nanado Alves reconheceu ainda que tocar instrumentos musicais ajuda no desenvolvimento da canção, mas que não é requisito obrigatório. “Depois [da inspiração], vem a particularidade de cada cantor. Eu particularmente gosto de um pouco de silêncio. Como toco um pouco de violão, isso ajuda, pois posso fazer as melodias, gravar e tudo mais”, enfatizou.
Simples na forma de falar e tratar as pessoas, Nanado segue encantando e emocionando através de suas músicas, recebendo em troca o carinho e o reconhecimento de um povo apaixonado pelo forró tradicional, deixando claro que “músico” é e sempre será para o compositor mais do que uma profissão, mas uma identidade.
https://www.youtube.com/watch?v=WPrazkbFvnM
(Entrevista com Nanado Alves)
Forró Fest: O festival de talentos do forró
Criado no ano de 1987 pelas TV Cabo Branco e Paraíba, o festival Forraço consagrou-se no Nordeste por homenagear artistas da terra e apresentar novos talentos que contribuem para o enriquecimento da cultura local através de suas músicas. Apenas em 1991, passou a se chamar Forró Fest, onde já detinha o título de maior festival de forró do Brasil.
Famoso por reunir grande público a cada ano, o programa tinha quatro eliminatórias em cada edição, que aconteciam em diferentes cidades da Paraíba, porém sempre com a final garantida durante o Maior São João Mundo, em Campina Grande. O festival teve sua última edição em 2014, trazendo como música vencedora “No Céu também tem Forró”, interpretada por Jairo Madruga e de autoria de Fábio Schmitz. Também como forma de divulgação e prestígio aos participantes, foram lançados alguns CDs com doze músicas selecionadas de cada edição.
O compositor Nanado Alves ressaltou com carinho a sua participação no festival no ano de 2005, em que o mesmo ficou em 3º lugar na competição, e destacou a contribuição do festival não só para sua carreira, mas aos demais artistas da região que buscavam reconhecimento da sua arte. “Ele [o programa] retirava os compositores do anonimato e servia também como incentivo para outros artistas participarem do festival e apresentar ao público seu talento, porque por mais que você não seja o vencedor ou um dos premiados, você está fazendo amizades com os outros compositores”, afirmou ele.
O artista ainda relembrou outros festivais locais em que foi vencedor, como é caso da Música do São João do Ano, realizado no começo dos anos 2000 no município de Serra Branca, no Cariri paraibano, e enfatizou o privilégio de trazer um troféu para casa simbolizando o reconhecimento do seu talento.
Você pode conferir um pouco mais da história e dos ganhadores de cada edição do Forró Fest clicando aqui.
A arte da sobrevivência e o novo projeto
Como a desvalorização da arte ainda se faz presente em nossa região, os artistas que aqui vivem procuram sempre uma alternativa de sobrevivência, como é o caso de Nanado Alves. Atualmente o artista mantém paralelamente à música o trabalho de servidor público em Monteiro, profissão na qual complementa a renda mensal e garante o sustento da sua família. No entanto, o artista revelou pensar em um dia voltar a viver apenas de música, como no início de sua trajetória.
Ainda para 2016, Nanado Alves pretende lançar seu mais novo CD intitulado “A vida Dirá”, onde trás canções em parceria com Ilmar Cavalcante e uma novidade com a introdução de poesias da sua autoria, declamadas na voz da poetisa Thaiana Campos.
Outros compositores
Assim como o cantor e compositor Nanado Alves, outros artistas da terra emprestam seu dom para o enriquecimento da cultura musical nordestina, abordando temas ligados à região e ao povo nordestino em suas canções. Sendo assim destacamos alguns desses nomes para exemplificar alguns ícones da composição:
Antônio Barros
O compositor, que já está na casa dos oitenta anos, sempre teve habilidade na arte de compor. Em Queimadas, nos anos 40, quando já tinha dez anos, o garoto Antônio já brincava com a voz. Escutava letras e melodias e tentava imitá-las em seguida. Começou como músico tocando pandeiro na rádio Caturité, em Campina Grande, e logo foi seguindo para outros centros maiores. Fez parcerias ainda cedo com grandes nomes da música paraibana e nacional, como Genival Lacerda e Jackson do Pandeiro.
Casado com Mary Maciel Ribeiro, a Ceceu, formou dupla e saiu pelo Brasil fazendo sucesso. Já na estrada, não teve artistas nordestinos e da região sul e sudeste do Brasil que não conhecessem o trabalho do senhor de Queimadas. Nomes como Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Dominguinhos, Gilberto Gil, Alcione e Elba Ramalho interpretaram suas músicas. Ney Matogrosso, sucesso na música popular brasileira, possui em seu repertório a música composta por Antônio Barros que acabou se tornando um dos seus maiores sucessos, a música “Homem com H“.
Ilmar Cavalcante
Natural de João Pessoa, mas residente em Monteiro até os dias de hoje, Ilmar Cavalcanti nasceu em outubro de 1970. O homenageado teve a infância dividida entre os estudos, as peladas de futebol e as férias no sítio Angico, dos avôs maternos. A admiração de seu pai pela música regional, em especial pelo forró do Trio Nordestino, fez surgir os primeiros versos em forma de canção. Com o passar do tempo, entre os 19 e os 20 anos de idade, e já com alguns trabalhos desenvolvidos, Ilmar se sentia feliz tocando violão e mostrando as primeiras composições a amigos mais próximos.
Ilmar apresentou suas canções a alguns artistas, em especial a Flávio José e a Dejinha de Monteiro, que gravou sua primeira música intitulada “Me Deixa Entrar no seu Mundo”, em 1993. A partir dos anos seguintes, escreveu para grandes nomes da música regional, como também os cantores Eliane, Gláucio Costa e a Banda Magníficos, ainda na década de 1990. Mais para frente, não se pousou apenas no forró autêntico e teve participações de Daniela Mercury e Fábio Júnior em sua coletânea “As melhores do ano” e “4 por 1”. Na voz de Flávio José, também de Monteiro, a música “Seu Olhar não Mente“ que sempre está no repertório do cantor desde 2003.
Júnior Cordeiro
Caririzeiro nato, nascido em primeiro de janeiro de 1982 na cidade de São João do Cariri, José Valni Cordeiro Lima Júnior, ou apenas Júnior Cordeiro, é compositor desde quando ainda era garoto no interior paraibano. Além da arte de misturar letras, Júnior se desenvolveu como músico e também vocalista. Apesar de trabalhar mais como músico na área do rock nacional, nunca esqueceu do baião, forró e de letras de cordelistas que na época, ainda no cariri, faziam a cabeça do compositor.
Desde que adentrou de vez no mundo musical, Júnior gravou três discos: “Carrascais” em 2006, “Lago Misterioso” em 2011 e “Capa Preta” no ano de 2013. Todos esses discos remetem a uma peculiaridade no trabalho desse artista: o imaginário coletivo. Neles, ele abordou críticas à indústria cultural, passando por tradições nordestinas e chegando a falar mais ainda sobre magias e encantos.
EQUIPE DE REPORTAGEM
Coordenação da reportagem: Prof.º Antônio Simões.
Texto: Iago Bruno, Renally Amorim e Rudielle Mendes.
Fotos: Erivaldo Laurindo / Arquivo pessoal.
Edição: Erivaldo Laurindo.
Vídeo: Erivaldo Laurindo.
Edição Final: Anthony Souza.