Hoje não é sobre sorrisos, nem sobre luzes ou festas. Hoje o assunto é sério, e precisa ser resolvido. Vivemos em um mundo onde para algumas pessoas as coisas não são tão simples como a maioria pensa. Por isso hoje, o Repórter Junino falará desses ‘’alguns’’. Ou mais precisamente algumas, umas, todas elas, mulheres, meninas. Todas juntas procurando apenas liberdade, igualdade e acima de tudo respeito.
O Parque do Povo possui uma área de 40.500 metros quadrados onde comporta cerca de 100 mil pessoas, que circulam pelo local durante trinta dias de festa, com mais de 500 atrações. É muito espaço, cabe muita gente. Mas o que tem acontecido é que para alguns, a invasão do espaço do outro está sendo visto como algo normal. E NÃO É!
Passar a mão, tocar nos cabelos, tentar beijar, não é normal e maior que isso, é um crime, é Assédio sexual! A invasão desse espaço feminino manifesta-se de maneira grosseira, independente da vontade da pessoa a quem é dirigida. Estas atitudes invasivas podem ser configuradas como crime de acordo com o artigo 213 do Código Penal brasileiro.
O assédio caracteriza-se por constrangimentos e ameaças com a finalidade de obter favores sexuais feita por alguém que, normalmente, aparece em uma posição superior à vítima. Em locais públicos ou privados, as vítimas podem e devem procurar ajuda de policiamento ou segurança do local, podendo ainda fazer um boletim de ocorrência contra o agressor. A pena é de detenção e varia entre um e dois anos de prisão, caso o crime seja comprovado.
Caracteriza-se também como assédio verbal, artigo 61 da Lei das Contravenções Penais n. 3.688/1941, quando alguém diz coisas desagradáveis ou invasivas para outra pessoa. Apesar de ser considerado um crime com potencial ofensivo baixo, também é uma forma de agressão e deve ser denunciado e coibido. Fala-se também em crime de ação livre, posto que o constrangimento pode se dar por qualquer forma – palavras, escritos, gestos. Além do mais, o assédio gera constrangimento e outros distintos impactos psicológicos na vítima.
Chefe de Policiamento no Parque do Povo fala sobre os assédios.
“O Parque do Povo conta com um diferencial que são as câmeras de monitoramento, o que pedimos é que as vítimas nos procurem, podemos oferecer ajuda, podemos olhar nos arquivos para identificar os acusados. Elas precisam entender que vamos ajudá-las, até o momento ninguém solicitou nossa ajuda, queremos ajudar”. Capitão Souza.
Relatos de Assédio no Parque do Povo são alarmantes
Segundo a pesquisa “chega de fiu fiu” feita pelo site Think Olga, 98% das mulheres que responderam já sofreram algum tipo de assédio enquanto caminhavam na rua. Os períodos de grandes festas, como por exemplo o São João e o carnaval, podem dar a falsa impressão de que se “pode tudo” – inclusive assediar sem consequências. No carnaval desse ano, a campanha #CarnavalSemAssédio se espalhou pelas redes sociais, atraindo muitos artistas e ONGs em prol da divulgação da causa.
O primeiro final de semana do São João de Campina Grande, foi repleto de relatos nas redes sociais. As vítimas destacam a sensação de medo e vulnerabilidade. “É como se a festa tivesse acabado, só queremos ir para a nossa casa”. Frases como essas compõem a maioria dos depoimentos.
Os relatos de assédio seguem, uma moça que preferiu não ser identificada contou um pouco do caso que aconteceu com ela. “Eu tinha ido de saia nesse dia e estava meio cheio, eu fui passar pelas pessoas e vários homens tentaram colocar a mão por debaixo da minha saia, ficaram se encostando em mim’’, continuou dizendo, “É uma coisa que está tão impregnada em nossa sociedade que as pessoas veem com naturalidade e não fazem absolutamente nada. Em hipótese alguma deixem eles calarem vocês, falem, se imponham, se informem sobre o feminismo, ele é fundamental para nossa vida’’, concluiu.
Juntas somos mais
Cantadas constrangedoras, beijo, puxões e ‘“mão-boba” são algumas das situações relatadas. “Precisamos criar uma conscientização sobre esses assédios no Parque do Povo. Existem setores que devem abraçar a causa, e trabalhar nessa campanha, peças gráficas dentro e fora da festa sem dúvida ajudariam, uma ação unificada atinge mais pessoas’’, frisou uma das vítimas.
As iniciativas estão surgindo para garantir a segurança das meninas. ‘Como não querer lhe conhecer? Se você me ajudou! Como não agradecer se você me amparou, mesmo sem me conhecer, fez questão de falar, fez questão de me fazer sentir melhor…’ Com essa essência, o grupo intitulado de “Vamos Juntas”, tem crescido e ajudado mulheres da cidade de Campina Grande. O grupo foi criado no ano de 2016 após os vários casos de assédio presenciados durante a saídas para o Parque do Povo. Também surgiu para organizar caronas de ida e volta entre as mulheres que saem para o São João.
A iniciativa partiu de Ely de Paula e foi apoiada por outras mulheres, como por exemplo Marcinha Lima, a Marcinha, que desde o começo ajudou a impulsionar e organizar o grupo. Algumas meninas tiveram a ideia de se ajudar não só virtualmente, mas agora presencialmente. Elas marcam encontros e até criam senhas secretas, a ideia é que se conheçam e se ajudem enquanto curtem a festa. Como disse Marcinha “Se ajudem. Com o código ou não, fazendo parte do grupo ou não, sendo mulher ou não. Sabemos que não é fácil ser mulher, ainda mais bêbada em uma festa com milhares de pessoas, mas sabemos também que se somos fortes sozinhas, juntas então… Melhor do que curtir o São João, é curtir juntas”, concluiu.
Com o intuito de ajudar as mulheres e até garantir um dinheiro extra, Berenice Guimarães, decidiu unir o útil ao agradável, pois ela necessitava de uma renda, mas também queria ajudar as mulheres que precisam usar transporte para se locomover, tanto ao Parque do Povo quanto a outros locais de Campina Grande. A Berenice usa o termo Carona Colaborativa para designar o trabalho que realiza. “Eu mesma já sofri assédio de moto táxi, já vi moças sendo assediadas no PP e ouvi clientes dizendo que o motorista se sente no direito de dar em cima’’ relatou.
Berenice expõe a sua satisfação em relação ao seu trabalho e de também poder ajudar as meninas que precisam de carona, “Gratidão às ‘manas’ pela confiança, aos elogios. Ficamos felizes em saber que estamos unidas por uma causa ao nosso favor. Elas nos ajudam e, de certa forma, também as ajudamos. Vamos Juntas ”.
A organização do evento e a sociedade também estão alarmadas e cientes do perigo para as mulheres e começaram a fazer publicações mostrando que o assédio não é uma cantada, nem paquera e muito menos um elogio. É crime e será tratado como tal. O poeta Melânico Maia também entrou nessa e escreveu o “Poema em defesa da mulher” que pode ser lido logo abaixo.
Para muitos homens as reclamações, incômodo e sonoros “não’s” das mulheres é visto como empecilho colocado pela mulher e, que em um momento ou outro, elas irão ceder. É preciso entender que não se trata de ser “fácil” ou “difícil”, um NÃO sempre será um NÃO.
#SãoJoãoSemAssédio