Uma pausa na tradicional ornamentação junina. Entremos num campo de futebol com bandeirolas, forró pé-de-serra, bola em formato oval e quadrilha junina. Este foi o cenário que marcou o “São João Bowl” no estádio Amigão na tarde deste último domingo, (18). Apesar de não ser, de fato, um festejo tipicamente junino, o evento é certamente um exemplo de que a disputa que paira entre essas duas cidades vai além do pátio do forró.
Pelo segundo ano, a proposta inicial do projeto tem persistido. Reacender a tradicional rivalidade que Campina Grande e Caruaru têm mantido por décadas em uma roupagem diferenciada. Os times de futebol americano se enfrentaram, neste domingo, ao som de aplausos e muito forró. A abertura ficou por conta da cantora Larissa Benevides e a quadrilha junina Arraial em Paris entreteu o público no intervalo do jogo.
O técnico ou coach (termo usado pelos jogadores) do Tropa Campina, Rommel Raphael, comenta que o jogo representa, sem dúvidas, uma grande rivalidade, não só entre as duas cidades, mas também entre os times. “São dois times do interior do Nordeste, a gente vem jogando com o Caruaru Wolves desde 2012, já tínhamos a vontade de fazer esse jogo”. Ele ainda ressalta que foi em 2015 que surgiu a ideia do São João Bowl, com o intuito de “trazer mais um atrativo para o público e assim acirrar ainda mais essa rivalidade.”.
O clima no campo, apesar da descontração envolvida, foi notavelmente tenso, e muito embora alguns dos jogadores sejam veteranos na equipe, para a maioria deles esse foi seu jogo de estreia. Jogador do Tropa Campina há dois anos, o retornador, Dimas Farias, reafirma a importância do evento onde, além do divertimento familiar e da paixão pelo esporte, todos os envolvidos se sensibilizam pela disputa ter um forte teor competitivo, abrindo parênteses para o contexto da rixa que envolve estas duas cidades.
Com essa mesma disposição e competitividade, o Caruaru Wolves deixou a capital do forró, há cerca de 143 km² de distância, e desembarcou com objetivo de vencer mais uma categoria posta em disputa. Assim como o Tropa, os jogadores se mesclam entre veteranos e recém chegados. Exemplo disso é o Quarterback- QB do Caruaru Wolves, Yuri Alves, que prestigiou seu time pela primeira vez em campo. Questionado sobre o clima de seus colegas ele comenta, ”não achei os meninos tão nervosos pelo fato de ser o Tropa Campina, foi mais pela rivalidade que tem também com o São João.”.
Através de um projeto de extensão da Universidade Estadual da Paraíba, UEPB, os jogadores do Tropa Campina são acompanhados por alunos do 9º período de Psicologia da instituição. Uma das integrantes do projeto, Emillyn Guimarães, conta que a parceria acontece desde 2016 e explica como é o trabalho voltado à preparação mental dos atletas. “São aplicadas técnicas de dinâmicas e de relaxamento com relação a ansiedade deles. A gente age também dentro do campo conversando, com trabalho motivacional.”. Ela enfatiza que quando há atuação da equipe de alunos de Psicologia em campo, nota-se grandes melhorias no time e que os jogadores comentam porque sabem que é necessário. “A gente sabe que eles têm uma ótima preparação física, mas que também é necessário trabalhar as duas extensões, o físico e o mental, e a gente vê o quanto isso é importante.”, conclui.
A arquibancada estava lotada por amigos, familiares e torcedores. A “tropeira”, Andrezza Renally, irmã de um dos jogadores do Tropa, animada, revela, “já faz uns 3 anos que o meu irmão joga e desde o começo do campeonato eu venho acompanhando. Tem gente aqui de todas as idades, tem as filhas dos jogadores, está todo mundo… aqui é uma família.”.
Não se sabe quem tem, de fato, o Maior São João do Mundo, mas, no São João Bowl 2017, quem levou a melhor foi o Tropa Campina. Jogando em casa, os atletas comemoraram a vitória no Parque do Povo ao som do show mais esperado da noite: Wesley Safadão.