Pirotecnia no período junino: mais que um espetáculo

Campina Grande, 22 de junho de 2017  ·  Escrito por Mateus Almeida, Mayara Oliveira e Thiago Almeida  ·  Editado por Emanuelle Carvalho  ·  Fotos de Thiago Almeida e Mateus Almeida
fogos

A grande comercialização dos fogos em Campina Grande e na região é com os barraqueiros da cidade.

Do oriente ao ocidente os fogos de artifício fazem parte da cultura popular de diversos países, não sendo diferente, é claro, no Brasil, que no período junino acarreta uma prática mais intensa do uso de objetos pirotécnicos. Diante disso, alguns pontos importantes sobre esta adesão não devem ficar fora de abordagem, como o manuseio correto destes produtos, sua fiscalização, venda e potenciais riscos eminentes neste período.

Tomemos então, por exemplo, a cidade de Campina Grande, palco do Maior São João do Mundo, são mais de trinta dias de festas e com eles vem a tradição anual das queimas de fogos, que seja no início ou durante as festividades, marcam os eventos juninos da cidade, bem como o aumento da utilização popular de artefatos explosivos, o que intensifica o movimento comercial, beneficiando as várias formas de trabalhos ligados a esta área.

Para melhor ilustrar como funciona a logística de comercialização de fogos de artifício e demais segmentos, o Repórter Junino conversou com a Joelma Nascimento (45), que além de professora é proprietária de duas barracas de venda comercial destes produtos, junto com o seu esposo Marcos Florêncio (57), que há mais de quarenta anos comercializa fogos na cidade.

Ao falar um pouco sobre a trajetória histórica dos barraqueiros de Campina, Joelma cita que tudo começou no espaço onde hoje é conhecido como a “Feira do Pela Porco” tendo como pioneiros comerciais a família dos Florêncios, ela relata que na época o número de barracas era bem menor, já que atualmente se somam 22 barracas estabelecidas, cadastradas e localizadas há três anos na Avenida Dinamérica.

Segundo ela, o número de vendas poderia ser maior, já que há uma irregularidade frequente do local de estabelecimento dos barraqueiros atuais, Joelma disse que a prefeitura procura um terreno adequado para as vendas e já disponibilizaram um pré-cadastro para que eles participem do projeto de relocação, mas até agora nenhum local foi considerado adequado pelo corpo de bombeiros para estabelecê-los fixamente, e com isto o prejuízo chega a afetar nas vendas em até 80% comparado ao antigo local.

A professora destacou que quando trabalhavam em frente ao terminal rodoviário as vendas eram mais estratégicas, por se tratar de uma via para alça Sudoeste, logo, quem iria para o sertão ou para o litoral acabava comprando o material, mesmo que não fosse para o São João. “As pessoas levavam para suas cidades, para outras finalidades também, já aqui passamos dias e dias sem vender, tem gente que nem abre todos os dias porque não está tendo rentabilidade”, destacou.

No período junino

O São João é o melhor período de vendas

Joelma ainda enfatizou que apesar disso há um fluxo de pessoas que vêm de outras cidades a procura destes produtos, pelo menos em lugares onde não aconteça a venda dos mesmos, dentre os motivos para isto está a falta de segurança, ela cita um exemplo: “na cidade de Queimadas já incendiaram barracas de fogos, gerando um grande prejuízo para quem investe, tornando-se inviável trabalhar com tamanha insegurança”.

De acordo com a vendedora, os produtos comercializados em Campina Grande, vêm da cidade de Santo Antônio do Monte – MG, a outra parte é fabricada na China e o preço é bem  equiparado, tanto dos nacionais como dos importados, ela acrescenta que todos os barraqueiros vendem no atacado e varejo para suprir a demanda dos diferentes clientes.

O cadastro das barracas é passado pelos bombeiros e pela prefeitura, quase todos os vendedores tem o curso Blaster em Pirotecnia, que ensina a manusear os fogos e outras vertentes, como explosivos de mineração. Essas capacitações são de extrema importância para fazer shows pirotécnicos com habilitação, principalmente para o repasse direto dos artifícios entre os vendedores e clientes no que diz respeito ao manuseio dos fogos.

Já os bombeiros cumprem o papel da fiscalização nestes locais em termos de instalação e extintores, onde todos os anos os barraqueiros fazem treinamento e reciclagem. Para cada barraca é exigido dois extintores, sendo um de pó químico e outro de água. Mesmo fora do período junino é comum que uma das barracas permaneça aberta durante todo o ano, apesar da escassa rentabilidade.

“Para que as pessoas passem e vejam que tem gente funcionando nas barracas, evitar que as pessoas pensem que estão abandonadas e chegar a acontecer arrombamentos de barracas, como já aconteceu cerca de três vezes. O fluxo de fogos de artifício é só no período junino, mas quando tem alguma comemoração em especial e as pessoas já nos conhecem, ligam e atendemos normalmente”, explicou.

Questionada sobre a polêmica de produtos irregulares, ela ressalta: “o número de pessoas que procuram diminuiu, porque as pessoas já sabem que é proibido, mas de vez em quando ainda chega uma pessoa mais desinformada e ainda procura, outras pessoas ainda insistem perguntando se a gente não tem escondido para vender, mas até a pessoa que fabricava parou de fazer e ninguém quer mais se envolver com estas coisas para não procurar problemas.”

Atendimento hospitalar e corpo de bombeiros

Dotado de uma área de atendimento específico às queimaduras, o Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, de Campina Grande, realizou uma campanha de prevenção para o problema durante as festividades juninas do ano de 2015, com o objetivo de conscientizar a população na utilização dos artifícios, já que anualmente os números de causas aumentam durante este período.

O Repórter Junino também conversou com Francine Gonçalves, enfermeira do Trauma. Na oportunidade ela destacou que os perigos das queimaduras variam de acordo com o seu grau de complexidade, mais elevado o grau, mais piora a gravidade, correndo o risco de infecção. Ela também esclareceu que a extensão da queimadura é pior que a profundidade, dependendo do tamanho da pessoa. Sendo assim, deve-se ter um cuidado especial com as crianças.

dicas

É preciso atenção redobrada ao manusear os fogos de artifício 

A funcionária também deu dicas de cuidados imediatos para os casos: “realizar os primeiros socorros sem colocar nenhuma substância inapropriada no local, resfriar o local com água corrente, no mínimo cinco minutos até o paciente sentir um alívio, colocar algo molhado para cobrir como uma gaze ou algo esterilizado, e trazer a vítima direto para o hospital. Nunca estourar as bolhas, se for uma de segundo grau que tenha bolhas, a gente chama de Flictenas, sempre deixar para estourar no local apropriado, no caso, seria aqui no hospital do trauma”.

O Cabo Janiel que atua há sete anos no Pelotão de Atendimento Pré-Hospitalar do Segundo Batalhão de Bombeiros Militar da cidade, salientou com relação às queimas de fogos no São João: “o Centro de Atividade Técnico dos bombeiros (CAT), faz uma vistoria, ou seja, os fogos que são queimados têm toda uma proteção e um planejamento, antes que eles sejam realizados pra que não aconteçam acidentes”.

Dessa forma, ele garante que durante a visualização das queimas de fogos, o pessoal responsável têm o cuidado na questão das explosões, mas que sempre se deve evitar estar muito próximo, “infelizmente não dá pra gente ter o controle de tudo”, acrescentou. Segundo ele com a intensificação das fiscalizações do CAT o índice de acidentes diminuiu. O mais comum é que o número de pacientes com queimaduras cresça gradativamente nos dias de fogueiras.

Com relação às crianças, para esses dias de festejos e brincadeiras em família, o Cabo ressalta os cuidados que os pais e responsáveis devem ter: “não sei se muitos devem saber, mas todos os fogos têm uma classificação de utilização; Exemplo, eu não posso pegar um Foguetão e dar para uma criança para que ela utilize”.

Ele ainda ressaltou que durante a compra dos objetos, os pais devem indicar qual a idade dos seus filhos para que os representantes repassem os fogos adequados para determinada utilização, também disse que antes de qualquer manuseio é preciso realizar a leitura das instruções e para que o São João de todos seja ainda mais seguro, sempre é recomendável verificar se não tem algo de risco por perto, como combustível, álcool ou qualquer outra substância que possa incinerar.

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