Na cidade, o avião pousando para uns, o término do expediente de trabalho para outros e o pé na estrada, para todos, indicam: É São João! No sítio, o milho cozinhando no fogão à lenha, a fogueira montada no terreiro e o vento frio típico da época, também indicam: O São João chegou! É justamente nessa época, a mais esperada por milhares de nordestinos, onde é fácil perceber que, para além da fé, essa festa também carrega uma tradição que só quem vive entende!
Todos os anos o dia 23 de junho, véspera de São João, também é aguardado com grande expectativa por seu Severino Guimarães e sua esposa, dona Maria José. O casal reside no Sítio Aroeiras, localizado há 4km do município de Olivedos, no cariri paraibano. Já o restante da grande família, composta por sete filhos e dez netos, está espalhada pelo Brasil. Pertinho, em Campina Grande, cidade d’O Maior São João do Mundo, só moram três dos sete filhos. Contudo, a saudade que tanto maltrata, tem data certa para acabar: o feriado de São João. É nesse dia que boa parte da família se reúne anualmente para viver e celebrar a cultura nordestina.
Para a ocasião, muita pamonha, canjica e queijo são preparados com todo capricho por dona Maria com a ajuda (tão esperada) das filhas. Já seu Severino ajeita aqui e acolá o terreiro, que recebe fogueira, mesa farta e muita festança. Com tanta empolgação, basta a noite cair para família e amigos se instalarem ao redor da grande e tradicional fogueira, religiosamente acesa à 18hrs, iluminando e aquecendo corações que, “graças a Deus”, segundo dona Maria, também se entrelaçam nesta noite de céu estrelado, tão especial para esta gente.
Apesar de serem tão ansiados por milhares de famílias brasileiras que, assim como essa, regam a tradição cultural, os festejos juninos tiveram a alegria característica afetada por um problema antigo que, infelizmente, insiste em marcar a vida de grande parte da população do Brasil. A falta de chuva, assim como a milhares de nordestinos, prejudicou em cheio a rotina da família Couto e, lamentavelmente, fez a chama da tradição junina quase esfriar, também, no Sítio Aroeiras. A horta de dona Maria e o barreiro de Seu Severino viram a escassez de perto e, onde era para brotar fruta, brotou aflição. Nos anos de seca, apesar de continuar recebendo visitas em sua casa, dona Maria conta que as tradicionais comidas típicas, infelizmente, não fizeram parte das festas de São João. “Foram cinco anos sem colher nada em nosso roçado. Milho, umbu, feijão… nada.”
Para a alegria de nordestinos e, mais restritamente, das famílias do interior paraibano, este ano a diferença pôde ser notada. Em janeiro, as chuvas começaram a cair de sertão adentro, trazendo consigo a esperança de dias melhores. Já na metade deste semestre, dona Maria e seu Severino tiveram a alegria de ver milharais e umbuzeiros dando frutos, possibilitando assim, a realização da festa completa no São João deste ano. Dona Maria acrescenta “esse ano temos bolo, pamonha, canjica, queijo… graças a Deus tem fartura!”.
As brincadeiras, culminâncias e histórias foram, mais uma vez, religiosamente bem aproveitadas por todos que estavam presentes em mais um São João vivido no interior. Para Brenda Noemy, uma das netas que compõe a terceira geração da família Couto, o São João é uma época onde “a família se confraterniza em momentos felizes, os problemas são esquecidos, fazendo com que a gente queira mais momentos como esse, que são bastante importantes para a união das famílias”. A filha mais nova do casal, residente em Osasco – SP, veio à Paraíba comemorar de perto a chegada das chuvas e o São João. Kalina disse que “pela falta de oportunidade muita gente vai morar fora do interior. Então eu acho que o São João é uma época pra matar a saudade da família e da nossa cultura”.
A existência e resistência dos festejos juninos, em suma, no interior dos estados nordestinos, realiza de modo subjetivo uma manutenção na cultura regional, que é celebrada de maneira viva, além de ser enraizada genuinamente, prosseguindo além das concentrações de shows nos grandes centros turístico-comerciais. Dessa forma, as atuais e futuras gerações se beneficiam com tamanha riqueza cultura que rega hoje e cultiva amanhã memórias que vão além dessa época – duram uma vida inteira. Viva a tradição!