ESPECIAL| 2018, o ano de Ton Oliveira: Sua volta aos palcos e a homenagem no Parque do Povo

Campina Grande, 11 de julho de 2018  ·  Escrito por Pâmela Vital  ·  Editado por Bruna Martins  ·  Fotos de Sara Lucena

Não faz uma semana que o Maior São João do Mundo em Campina Grande acabou, mas a saudade já faz morada no coração dos campinenses. Diversos aspectos contribuíram para a edição de 2018 da festa se tornar memorável, tanto positiva quanto negativamente. Com opiniões divergentes sobre o sucesso da festa, nem a greve dos caminhoneiros que parou o país, conseguiu impedir o início, mesmo que adiado, dos festejos juninos na cidade. E a população agradeceu.  

Ton Oliveira se apresentou no Momento Junino no final de Maio Foto: Arquivo Pessoal

Ton Oliveira se apresentou no Momento Junino no final de Maio Foto: Arquivo Pessoal

Entre as novidades deste ano que a empresa Aliança, responsável pelo maior evento de Campina, trouxe, um se destacou por seu caráter sentimental. Completando 35 anos de evento, a organização homenageou em vida, vale salientar, um dos artistas da terra mais reconhecido pelo público paraibano. Glayriston de Sousa Leite, popularmente conhecido como Ton Oliveira, 52, dedicou sua vida a traduzir as situações do dia a dia em letras que, acrescentadas ao forró, fariam de suas músicas as mais tocadas nas comemorações de São João.

Conhecido por diversas composições, Ton trouxe em suas músicas um humor característico seu usando, como personagem principal, o estereótipo do homem mulherengo e beberrão, muitas vezes cheio de dívida e pronto pra amanhecer dançando forró. “Deixar a casa e morar no cabaré”, “O biriteiro”, “As três coisas da vida” e “Cachaça e mulher bonita” são algumas de suas canções mais requisitadas em sites de pesquisas e em seus shows.

Contudo, nos últimos anos, uma música prevaleceu sob todas as outras, tornando-se informalmente o hino do Estado da Paraíba. Quem nunca se deixou encantar pelo trecho inicial de “Paraíba Joia Rara”?! O Parque do Povo foi cenário para vários cantores entoarem a letra que ficou no inconsciente do paraibano desde sua liberação em 2013, no seu álbum “É Só Alegria”.

Cruzando o território paraibano de leste a oeste, o cantor ressalta as principais características do Estado em quatro parágrafos. Iniciando a viagem está a Ponta do Seixas, onde os raios solares começam a tocar o solo do continente americano (“Aqui o sol nasce primeiro e tão desinibido”). Em seguida, fala do algodão colorido, importante no comércio e artesanato local (“Que até o algodão se empolga e já vem colorido”).

Entre as cidades citadas estão Sousa, cidade dos dinossauros (“Aqui até os dinossauros fizeram morada”) e Alagoa Nova, terra de Jackson do Pandeiro (“E a gente pode ao som de Jackson pandeirear”). O cantor ainda conta a história resumida do “NEGO”, quando João Pessoa não aceitou seguir o sucessor à presidência indicado pelo presidente brasileiro à época, Washington Luís (“Ouvir a voz que na bandeira ficou estampada, dar frutos que o tempo e a história não vão apagar”). Chegando ao horóscopo (“Astrologicamente ser um ariano”) e a Augusto dos Anjos, poeta nascido em Cruz do Espírito Santo, na Paraíba (“Rimar como um augusto tão angelical). Ton traduz em poucos versos o sentimento de morar na Paraíba com sua frase de conclusão: “Eu sou muito feliz, eu sou paraibano”.

O Palco também foi usado para realizar  o 2º  Arretado Star Foto: Sara Lucena

O Palco Ton Oliveira também foi usado para realizar o 2º Arretado Star
Foto: Sara Lucena

A equipe do Repórter Junino teve a oportunidade de conversar com ele no começo de julho para saber sua opinião sobre o São João de 2018 e o que se passou por sua mente ao receber o tributo ao seu nome feito pela organização do evento. “Foi um sentimento misto de muita emoção, felicidade e gratidão a todos os que escolheram o meu nome para tamanha homenagem”, expôs com um sorriso no rosto ao falar do Palco Cultural Ton Oliveira, espaço na Vila Gastronômica do Parque do Povo onde a prioridade eram os autênticos ritmos nordestinos. Segundo ele, não esperava se ver em tal situação e que sequer acreditou quando o informaram pela primeira vez.

Questionado sobre como via a evolução do São João, do início da sua carreira até os dias atuais, o cantor acredita que a mudança é benéfica, uma vez que o mundo se moderniza, mas não a ponto de esquecer suas origens. “Vejo com bons olhos (a evolução). Penso que assim como a cultura se renova, algumas mudanças que foram feitas durante a festa, principalmente no Parque do Povo, contribuíram para seu crescimento”, disse explicando os motivos dos festejos juninos de Campina serem tão forte.

Voltando recentemente aos palcos depois de um câncer de garganta, o artista ressalta a felicidade de rever todos aqueles que torceram por ele e a gratidão a Deus por possibilitar seu retorno. Como ainda não está 100% curado e seu tratamento ainda requer cuidados especiais, sua produção ainda é cuidadosa com a agenda de shows. Tal receio é fundamentado, pois saber sobre a possibilidade de não voltar aos palcos para tocar seu forró foi o momento mais marcante de sua carreira artística.

Atualmente, recuperado, Ton recebeu uma nova missão: ser o apresentador de um programa televisivo, “Cantos & Contos”. Aceitando o convite feito por uma emissora local, tem o objetivo de resgatar a cultura nordestina todos os domingos pela manhã, levando aos paraibanos um pouco do São João durante o ano todo. “Nunca tinha me visto nesta posição antes. Acho legal poder ocupar um espaço na televisão para dar oportunidade tanto a novos nomes quanto à artistas renomados, podendo, assim, fortalecer nossa cultura”, fala contente pela aceitação dos telespectadores. Sobre o futuro, o cantor comunica que irá continuar fazendo o que a saúde lhe permitir, permanecendo firme no tratamento para dar prosseguimento a agenda, seja no “Cantos & Contos”, seja nos shows marcados.

Espaço para divulgação do xote, xaxado, baião e autêntico forró pé-de-serra, o Palco Cultural Ton Oliveira, foi uma oportunidade única para Hugo Lima, cantor de 19 anos. Tocando xote universitário, falou a equipe de reportagem que a apresentação foi o auge de muitos meses de ensaio. “Foi muito bom apresentar num palco em homenagem a um dos maiores artistas de Campina. Também sendo da cidade, senti um misto de honra e alegria em ter nossas músicas tocadas para todos que estavam no Parque do Povo naquele dia”, disse sobre seu show no dia 21 de junho, quando dividiu o espaço com o trio Abdias do Forró.

Durante os trinta dias de festa, a programação junina na cidade foi diversificada. No  Parque do Povo, o forrozeiro poderia escolher a diversão que teria na noite: o palco principal (parte “de cima”) serviu como referência para performances de artistas nacionais e dos mais variados estilos; já as ilhas de forró e o Palco Cultural Ton Oliveira se tornaram os preferidos daqueles que queriam arrastar o pé no São João da Rainha da Borborema. Foi nessa mistura que a edição de 2018 do Maior São João do Mundo, mesmo com os obstáculos, conseguiu conquistar muitos turistas que passaram pela cidade, acrescentando o número de pessoas que, assim como Ton já previa em sua música “Paraiba Joia Rara”, viraram paraibanos no coração.

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