Encontrado nas formas da trova gaúcha, do calango (Minas Gerais), do cururu (São Paulo), do samba de roda (Rio de Janeiro), o repente nordestino se caracteriza pelo improviso dos cantadores que fazem os versos “de repente”, em um desafio com outro cantador. Originado na região da Serra do Teixeira, na Paraíba, durante o século XIX, o ‘’repente’’ vem ganhando cada vez mais força ao longo dos anos.
Criado em 2006 por Iponax Vila Nova, e apresentado pelo mesmo desde então, o Desafio de Repente Estado x Estado, que reúne todos os anos poetas de vários estados do Nordeste, tem como objetivo principal fortalecer ainda mais as cantorias e trovas nordestinas. Segundo o apresentador, o evento é a prova viva de que a cantoria tem muita força: ‘’Nosso evento perpetua essa cultura que tem muita força, e a prova disso é no teatro que lota todos os anos’’, ressalta Iponax.
O evento realizado na noite do dia 3 de novembro, no Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande, foi dividido em 4 fases para 12 repentistas. Na primeira fase, as duplas precisavam mostrar bom desempenho com as sextilhas e em seguida com as sete sílabas. Na segunda etapa apenas seis dos 12 repentistas eram aprovados no desafio de cantar no modo decassílabo. Ainda com a mesma exigência do desafio anterior, a semifinal aprovou dois dos seis repentistas restantes para irem até à final para a disputa do grande prêmio de R$ 2.000,00 mais uma viola no valor de R$ 9.000,00. O segundo colocado também recebeu o prêmio de R$ 2.000,00.
A disputada foi representada pelos estados: Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. E os repentistas participantes foram: Rogério Meneses (finalista), Jeferson Silva, Jorge Macêdo, José Cardoso, Sebastião Dias, Raimundo Caetano, Hipólito Moura, Edvaldo Zuzu (vencedor), Ismael Pereira (semifinalista), Acrízio de França (semifinalista), Luciano Leonel e Severino Feitosa.
Atrativo para toda população campinense, o evento que contou com a presença de jovens, crianças e adultos, teve seus ingressos esgotados antes da chegada do dia 3. Segundo a expectadora Valeria Teles, a competição é importante para mostrar a cultura nordestina para quem é de fora da região. ‘’Estou com uma visita e quis trazer ela para assistir o show e conhecer a beleza do repente, que é genuinamente nossa’’, acrescentou a ouvinte. Já para Luiz Xavier e Ricardo Farias, que se conheceram na entrada do teatro e sempre estão presentes nas edições do espetáculo, os repentistas possuem um conhecimento impressionante. ‘’Eles possuem um conhecimento extraordinário. Parece que eles têm um computador na cabeça’’, disse Ricardo em concordância com Luiz.
Edvaldo Zuzú de Pernambuco vence o desafio
Disputada por Edvaldo Zuzú (PE) e Rogério Meneses (PB), a final da competição tinha como critério de avaliação 4 estrofes com o tema ‘’na boca da sepultura, rico e pobre são iguais’’. Após muita cantoria e envolvimento com o público, o vencedor da disputa foi o representante de Pernambuco que afirmou sentir-se muito emocionado e orgulhoso. ‘’Pela dimensão que é o evento e pelo público que é, a gente se sentiu mais do que honrado’’, afirmou o poeta vencedor. Já o vice campeão paraibano afirmou sentir-se muito feliz e satisfeito por representar seu estado e por ser um dos 12 escolhidos entre 100 repentistas para participar da competição. ‘’Esse festival é muito bom pra minha história e para meu estado, já que eu já ganhei esse festival três vezes. Duas vezes em dupla e uma vez no individual’’,completou o cantador.
Embora o teatro tenha vendido todos os ingressos e tudo tenha ocorrido bem, para Iponax, o festival sempre pode melhorar mais um pouco. Para a 13º edição em 2019, a proposta da organização é tentar dividir o evento em duas noites, ‘’Vou achar um mecanismo de fazer em duas noites e botar uma premiação maior. Meu sonho é botar um carro zero pro primeiro lugar, então, novidades virão por aí pra 2019’’, encerra o apresentador e organizador do evento, satisfeito com a noite.