Se alguém perguntasse qual material fez tais obras, o que você diria? Metal? Madeira? Argila? Pois bem, estariam todos equivocados.
No primeiro olhar, tanto pela cor dourada com toques de preto, quanto pela riqueza de detalhes, Sadrak Soares (64), artista campinense, causa expressões de espanto por onde passa ao relatar as verdadeiras matérias-primas de suas obras. Para o observador desavisado, não há como diferenciar peças de metal com o que ele expõe, até que, ao tocarmos, sentimos a variação do peso e, por fim, conseguimos acreditar em suas palavras. De fato, suas peças são feitas com nada menos que material reciclável.
Filho do artesão de cerâmica, Plácido Soares da Fonseca, já falecido, Sadrak cresceu rodeado por arte. Inicialmente, suas peças seguiam o mesmo caminho do pai, contudo, quando as questões financeiras falaram mais alto, o artista buscou novos meios de conseguir material barato que, com técnicas duráveis, fosse chamar atenção dos visitantes. “Quando a argila ficou muito cara, parti para a reciclagem como um meio de transformar tudo o que tinha na mente em arte. No fundo do meu quintal, vi a ideia vinda de Deus: os resíduos sólidos”, explicou à equipe.
Expositor fiel nos últimos trinta anos, ou seja, durante todas as edições do Salão de Artesanato Paraibano, confidencia que, no começo, era difícil. As pessoas dificilmente viam seu material com bons olhos, mas nos últimos anos, com a questão da preservação do meio ambiente em alta, mais e mais vendas foram acontecendo aonde quer que fosse chamado. “No auge dos meus 64 anos, estou fazendo o que gosto, limpando a natureza, reciclando, tirando as coisas simples da natureza e expondo em um salão nobre como esse com pessoas gostando do que faço”, falou.
Sentado em sua cadeira móvel, cercado por suas criações, Sadrak comentou que a partir do momento que tira do lixo o material, ele os dispõe no atelier, trazendo as inspirações do seu dia a dia. De lampiões, a cangaceiros, tropeiros da Borborema, crianças e borboletas, quadros mais elaborados a relógios de parede, Sadrak mostra em seu isolado estande uma infinidade de possibilidades para os turistas que chegam no Salão de Artesanato e que querem um produto único feito por um artista da terra.
Segundo ele, cada obra tem sua particularidade. “Esse quadro, por exemplo, é no mínimo uma semana para ser feito”, disse apontando para o quadro pendurado na parede. “Para cada um é diferente. Utilizo desde madeira, a resina e pó de café para fazer esse aspecto e aumentar a durabilidade de cada peça”, confidenciou mostrando detalhes escondidos por trás dos objetos.
Conhecido já na cidade por sua originalidade, Sadrak já teve seu trabalho exposto em outros Estados e, ainda, na Universidade Estadual da Paraíba há alguns anos. “Eu vou para onde convidarem. Estou a disposição para o que precisarem, de palestras à oficinas. Dinheiro nem sempre é tudo na vida, minha filha. É o que você faz durante os seus dias que conta”, comentou.
Os minutos passaram rápido e, quando menos percebemos, a noite se anuncia e novos visitantes percorrem os corredores do Museu de Arte Contemporânea em busca de algo que atraia sua atenção. Não buscando tomar mais tempo do que necessário, a equipe se despede do artista e recebe como uma última esperança: “espero que todos se conscientizem de que é preciso tirar tudo o que vai para os rios e riachos e transformar em algo belo. Se cada um fizer a sua parte, o mundo seria diferente de verdade. É isso que eu faço todos os dias, ganho meu pão de cada dia e ainda enfeito a casa de muitos”. E assim, se virou para atender aos outros que, como nós, antes do início desta entrevista, estavam intrigados por aqueles objetos que são, acima de tudo, surpreendentes.