A “guerra” dos hambúrgueres

Campina Grande, 1 de julho de 2019  ·  Escrito por Rafael Costa e Steffanie Alencar  ·  Editado por Edson Tavares  ·  Fotos de Ubiratan Augusto

Parece mas não é: por conta da polarização política no país, nome de hambúrgueres chamam atenção no Parque do Povo.

Os clientes acabam associando os nomes aos partidos políticos.

No mundo da política, a palavra polarização refere-se à concentração de extremos ideológicos que divergem entre si, podendo ser publicamente ou dentro de certos grupos. A tensão política no país é tamanha que a nomenclatura de dois hambúrgueres chamaram atenção em um food truck que vende lanches nas imediações do Parque do Povo, local onde acontecem as festas juninas de Campina Grande.

Essa não era a intenção de Léo Figueiredo, proprietário do trailer, todavia os nomes escolhidos para os sabores dos hambúrgueres vêm dando o que falar em seu estabelecimento.

O Surgimento dos nomes “Mito” e “Lacração” 

Léo Figueiredo conta que não foi proposital as escolhas dos nomes.

“Por um período não utilizamos uma denominação para articular os hambúrgueres, porém teve um momento que eu decidi e a gente tentou utilizar os nomes que estavam mais em evidência; veio a calhar a questão do “mito”, relacionado ao candidato e atual presidente, essa denominação”, explicou Léo.

O hambúrguer “Lacração” surgiu a partir de um comentário de uma cliente que disse que o sabor do prato estava lacrando. Vendo a forma como ela utilizou para categorizar o sabor, ele optou por nomeá-lo assim.

Apesar do sucesso dos nomes, ele conta que não foi nada intencional e que isso já causou bastante polêmica. “Já aconteceu de alguém que não era favorável ao partido fazer boicote, só por conta do título”, conta o empresário, que, para evitar qualquer atrito, opta por apresentá-los de forma que não gere um embate político.

Para evitar qualquer conflito, quando chega um cliente, Léo opta por apresentar seu menu detalhadamente, citando todos os ingredientes que compõem o lanche. “A gente procura evidenciar todos os itens presentes em cada hambúrguer, tentando explicar um pouco mais das qualidades de cada um e não dando tanta ênfase aos termos ‘lacração’ e ‘mito’, mas no contexto geral”, explica.

Embate ideológico na escolhas dos hambúrgueres

Hambúrguer “Lacração”.

A atenção pública que a política vem recebendo e o embate de opiniões que acontece nas redes sociais também chegaram ao estabelecimento de Léo. Ele conta que, quando esteve com seu trailer em um ato de manifestação política em João Pessoa, as pessoas evitavam mencionar o nome do hambúrguer. “Já fizemos um evento onde a maioria do público era de esquerda e quando queria solicitar o hambúrguer falava: “Eu quero esse, mas não quero nem falar o nome [em referência ao mito], tendo repúdio ao título”, comentou o vendedor.

Apesar de ter em seu cardápio três opções de hambúrguer, quando perguntado qual dos dois é mais pedido, o pessoense explica que o “lacração” é o mais solicitado, porém não tendo nada a ver com a ideologia política dos seus clientes, mas sim por conta do preço e sabor. “O ‘lacração’ acaba saindo mais, não sei por quê; talvez por ser um valor menor e utiliza uma carne de 150g, que é a mesma gramatura do ‘mito’. Já o outro, algumas pessoas têm certo receio por causa do pão australiano, que tem um sabor marcante e isso acaba interferindo”, explicou, acrescentando que não há como titular o carro chefe: “os três têm uma pedida bem bacana”, pontuou.

Hambúrguer “Mito”

Mesmo com toda visibilidade que os nomes ganharam, Léo diz que não pretende trabalhar com a temática em seu estabelecimento, mas confessa que gosta de como as pessoas chegam para fazer os pedidos. “Não tínhamos pretensão e não sabíamos que iria ganhar essa proporção. Todo mundo comenta sobre esses títulos, sabe? Mas eu não teria o que mudar, não. Sempre a gente entra na brincadeira, independente do partido político, do seu nível político, não interfere em nada, não”, destacou.

Quando perguntado o que mudaria nos ingredientes do hamburguers, caso fosse levar a sério a brincadeira, ele diz: “Eu colocaria algo apimentado no ‘lacração’ e o outro, eu não sei, um ingrediente que teria para associar, sabe? Precisaria ver o que seria melhor”, comentou entre risos a pergunta feita.

Léo Figueiredo veio junto com a esposa e um amigo e estão desde o dia 7 de junho trabalhando nas imediações do Parque do Povo; apesar  da correria, ele conta que ainda sobra um tempinho para aproveitar a festa. “É o primeiro ano da gente aqui em Campina Grande, então a gente tenta unir o útil ao agradável”, enfatizou o comerciante.

Por ser uma opção mais rápida do que os pratos tradicionais, as pessoas acabam optando por escolher o hambúrguer, afinal de contas, para aguentar a maratona de shows no Maior São do Mundo é preciso ter muita energia e estar bem alimentado.

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