Virgínia Vasconcelos
Repórter
Ivana Isidro
Fotos
Fernando Firmino
Edição
Um pouco depois do seu nascimento em 2018, a FLIC (Feira Literária de Campina Grande), trouxe o primeiro Encontro de Cordelistas. O evento, que no início era apenas uma atração de uma das ações sediadas pela FLIC durante o ano e trazia mesas redondas acerca do cordel, percorreu um longo caminho entre suas edições passadas até chegar em sua produção mais recente, o V Encontro, realizado no dia 25 de junho na Feira Central de Campina Grande. A proposta é agora ver o cordel como arte em forma de apresentação invés de somente pauta de discussão, com mesa de glosas, saraus de cordelistas além de outras formas de expressão cultural, como repente, dança e música.
Sendo agora uma das ações da FLIC durante o ano, o “Encontro de Cordelistas” é trazido ao público em junho pelo contexto de São João e da representatividade de cultura popular que ocorre na cidade, principalmente nesta época específica do ano, sendo levada em lugares populares como forma de alcançar múltiplas camadas da população pela cidade. “A FLIC foi organizada por 4 educadores. Em 2018 a gente teve o nosso sarau de lançamento, mas em 2019 a gente percebeu que o nosso intuito era um pouco maior, foi quando a gente começou a ter eventos e projetos ao longo do ano”, explicou Iasmin Mendes, uma das idealizadoras do eventoE acrescentou: ”E um dos nossos eventos é o encontro de cordelistas que a gente trouxe aqui pra feira central justamente porque nossa ideia é perpassar os espaços públicos mais variados, e nada mais representativo de Campina Grande do que nossa feira central. Então colocar a feira literária na feira central para a gente tem uma simbologia muito forte,” concluiu.
ATRAÇÕES
Entre as atrações, o Encontro de Cordelistas recebeu o músico Willames Diniz, o grupo de dança Caetés, os repentistas Afonso pequeno e Thulio Fontinele, de apenas 13 anos, e declamação de cordel com Juliana Soares, cordelista desde 2008.Além de Gabriel Diniz, apresentador do programa cultural “Caráter Nordestino”, transmitido pela Pocinhos FM, Anne Karolynne, eleita a melhor poetisa e poeta de Campina Grande pelo voto popular, e Lima Filho, poeta contratado para a campanha de São João da Caixa Econômica.
Impressionando todo o público ao se apresentar tão jovem em uma arte tão tradicional, o repentista mirim, Thulio Fontinele, diz ao repórter Junino: “Eu comecei a declamar ano passado com 12 anos e, às vezes, dependendo do evento que dá um pouquinho de nervosismo, mas normalmente eu não fico muito nervoso não.” Tendo um avô apologista e um pai repentista, Thulio fala com carinho da relação da família ao demonstrar interesse em declamar “O apoio da minha família foi total e pleno, eles me apoiaram em tudo que eu precisava”, diz ele.
O talento de Tiago Duarte também arrancou aplausos do público ao declamar um cordel sobre sua vida. Tiago foi criado na roça e trabalha na Feira Central como feirante há 35 anos e entre suas folgas do trabalho arriscava escrever rimas que eram apresentadas nas suas reuniões de família. Com apoio do irmão Tiago se inscreveu na FLIC para declamar a sua arte no ambiente que trabalha e encantou não só ao público mas também aos demais artistas presentes que doaram 150 impressões do cordel apresentado por ele.
Colocando todos os presentes para dançar, o grupo Caetés é responsável também por encantar com suas coreografias, figurinos e com a sua missão de engajar os jovens na dança cultural há 31 anos e se apresentou na edição deste evento. “O projeto vem impactando a vida dos jovens do jeito que a gente idealizou, a gente vê hoje a grande mídia jogando todo tipo de situação na cabeça dos jovens e estamos chegando num período de deturpação e nós vemos que os jovens que nós temos contato se apaixonam pela nossa cultura, pela nossa identidade, a identidade que não denigre a mulher, não fere a imagem de ninguém e não vai de contra ao outro e se apaixona,” afirma Flauber Gorgonio, que está à frente do grupo junto com a esposa Rose Gorgonio.
Sobre o Encontro de Cordelistas e importância da FLIC no contexto, o poeta Gabriel Diniz destaca: “A FLIC faz um trabalho importantíssimo pois ela introduz a poesia no meio da convivência das pessoas, ela está agora introduzindo poesia aqui no meio da feira central de Campina Grande. Então a poesia e a cultura popular precisam de eventos assim, e precisa que as pessoas entendam e compreendam a grandeza e riqueza da nossa cultura, pois ela faz o que a gente é.” Como resposta a tanto esforço da produção e riqueza de programação, a Feira Central encheu-se com moradores e turistas do Brasil inteiro. Como foi o caso de Marcos Montele e Arí Silva, dois amigos de João Pessoa que souberam através de um amigo em comum do acontecimento do evento. “Lá em João Pessoa também tem eventos de cordel, e a gente sempre participa por lá, eu sempre gostei, tenho vários livros e quando soubemos que ia ter por aqui decidimos vir”, disse Arí Silva.
Espalhando a popularidade do evento para lugares ainda mais distantes, Ana Monteiro, moradora de Campina Grande, convidou a mãe e as sobrinhas do Pará para conhecer o evento que expõe várias das tradições culturais nordestinas em um só lugar. “Eu trouxe minha sobrinha para ver toda a nossa cultura que é bem diferente da do Pará, para que ela veja tudo isso que a gente teme também para ela dar um passeio pela feira. Eu não esperava que, eu mesma, moradora daqui fosse me encantar. Estou tão feliz em saber que nós temos tantas estrelas, para mim está sendo muito satisfatório, que isso aqui nunca se acabe e continue dando espaço para nossos artistas,” revelou.
SUSTENTABILIDADE DO EVENTO
Como proposta para conseguir ainda mais envolvimento do público e recursos financeiros para o acontecimento do evento, o projeto tem alternativas criativas como venda de livros em seus eventos para financiar o próximo. “Juntamos o engajamento do público e a ajuda financeira por meio de vendas de livros e venda de camisa, e isso se dá também porque a FLIC ainda não tem o financiamento de empresa privada e da gestão pública. E essa é nossa luta maior para que as nossas programações consigam acontecer de forma mais orgânica”, enfatiza Iasmin Mendes sobre as dificuldades de manutenção do evento.
O evento acontece com o auxílio de 30 voluntários, sendo os braços e pernas do projeto, realizando todos os eventos durante o ano e colaborando com a conquista de novas pessoas inseridas no mundo da leitura, alguns destes voluntários estão envolvidos desde a primeira edição. As inscrições para ser um voluntário acontecem em fevereiro através do site da FLIC, onde também encontra-se toda a programação disponível.