São João: a voz dos comerciantes que atuam no Parque do Povo

Campina Grande, 17 de julho de 2022



Barracas localizadas ao lado da Pirâmide do Parque do Povo. Foto: Sara Brito

 


Arthur Alexandre, Augusto Andrade, Larissa Silveira, Matheus Silva, Sara Brito
Reportagem


Uma semana após o fim do São João de Campina Grande e depois de dois anos sem festejos juninos, devido a pandemia da COVID-19, Campina Grande volta a ser cenário da festa conhecida como “O Maior São João do Mundo”. A estimativa é de que circule mais de R$ 500 milhões na economia da cidade. Para o secretário de Comunicação da Prefeitura de Campina Grande, Marcos Alfredo, o impacto na economia é gigantesco. São 31 dias de festa com a expectativa de um público de mais de 2,7 milhões de pessoas, contando apreciadores locais, turistas e trabalhadores.

Este último grupo, os trabalhadores, são fundamentais para o evento. Do vendedor de cachorro quente aos donos de grandes restaurantes, grande parte dos barraqueiros que atuam no Parque do Povo, já estão ali há mais de 20 anos. Atualmente, são em média 400 barracas funcionando dentro do espaço da festa. 

A busca por um espaço é acirrada entre os grandes e pequenos empreendedores e a concessão se faz através de cadastro junto à prefeitura. Esse ano, foi realizada apenas a atualização dos dados de quem trabalhou no evento de 2019.

O evento ficou mais organizado. Quem frequenta o local pode encontrar desde restaurantes de renome da cidade a quiosques ou barracas de pequeno porte. Essa pluralidade reflete realidades diferentes. A primeira impressão é de um espaço democrático, mas a igualdade no que se refere a custos e benefícios, não é igual para todos. 

Geisillyane, 31, é dona do “Caldinho Panela de Ouro” e há 10 anos tem o que se pode chamar de negócio de família no período junino, pois com ela trabalha a mãe, o pai e o irmão. Com exceção de Geisillyane, todos têm empregos e tiram férias no mês de junho para se dedicarem ao Caldinho como uma renda extra. Por se tratar de um negócio de família “os lucros são divididos” e o valor não é suficiente para durar até o final do ano.

Geisillyane, uma das donas do caldinho Panela de Ouro. Foto: Sara Brito


Geroncio, 64, dono da barraca “A tradicional Caipifruta”, mantém há mais de 40 anos, juntamente com a esposa, uma barraca com medidas de 3 x 4 metros, e após calcular todos os gastos para o espaço ficar pronto, o valor chega a 5 mil reais. O comerciante conta que já havia planos para essa edição, inclusive “comprar madeiras novas, pois as que tinham os cupins comeram tudo”. Apesar dos gastos, ele relata: “já consegui recuperar, valeu pelos dois anos”. 

Senhor Genoncio, dono da A Tradicional Caipifruta. Foto: Sara Brito

 


O casal está cadastrado há mais de 30 anos, tem experiência em administrar o que ganha e mantém uma boa clientela pelo ponto estratégico, conseguem o equivalente para chegar até o final do ano, mas essa não é uma realidade de todos.

Seu Djair, 65, dono do “Dj lanches” está há 35 anos comercializando no Parque do Povo. Começou na área externa e com o passar do tempo conseguiu um espaço dentro do local. Em média paga 4 mil reais, para ter a barraca. Para Seu Djair saber da notícia que não teria o evento foi muito difícil, durante a pandemia: “o que me sustentou foi o auxílio emergencial”, diz. 

Senhor Djaivr, dono da DJ Lanches. Foto: Sara Brito


Para ele, a pandemia foi muito difícil, ainda tem dívidas que foram ocasionadas nesse período. Conta que precisou pegar dinheiro emprestado para pagar as taxas que são cobradas pela organização do evento e que não foi dado prazo para pagar os boletos, “foi tudo de uma vez”. Seu Djair se emocionou e não conteve as lágrimas ao revelar que o que ganhará será suficiente apenas para pagar o que deve. “Se eu não tivesse dívidas, daria para passar uns três meses com o apurado”. Questionado se no próximo ano estaria de volta, ele responde convicto: “só se eu morrer, aí não venho”.

José Ailson, 52, tem um quiosque há 36 anos no Parque do Povo. Relata que ficou triste ao saber que não teria São João.  “36 anos é quase uma vida, trabalhando aqui” Diz que tem muita coisa errada, mas não relatou o que seria. Mesmo assim está feliz com a volta do evento, mas afirma que não consegue lucrar o equivalente para se manter nos outros meses.

Senho José Ailton, dono de um quiosque de caipifruta. Foto: Sara Brito


As despesas de todos estes comerciantes incluem aluguel do espaço, consumo de energia, água, taxa de bombeiro e extintor. As mercadorias necessárias para fazer seus produtos só podem ser compradas no dia, dentro do Parque do Povo. O que os impede de fazer cotação de melhores preços da matéria prima. 

Os relatos são diferentes, as vivências não são as mesmas. A verdade é que para alguns a pandemia, de fato, foi devastadora e a mínima oportunidade que exista é agarrada, mesmo que por vezes não seja tão boa como parece. O trabalho é árduo e os lucros nem sempre são os melhores. Alguns conseguem lucrar e ficar tranquilos por alguns meses, dentro de um padrão de vida simples. 

Já o luxo e o lucro ficam para os grandes comerciantes. Para a maioria, aquele espaço representa muito esforço, trabalho duro e investimento em um retorno que é incerto, mas que diante das dificuldades financeiras, por vezes representa a única possibilidade de tirar o sustento de um, dois ou três meses. Mas, esses comerciantes fizeram dessa atividade uma parte de sua vida, criaram vínculos afetivos, e apesar dos desafios, na próxima edição do evento, estarão lá com um sorriso no rosto para recebê-los com toda receptividade que só o povo campinense tem.


FICHA TÉCNICA 

REPÓRTERES: Arthur Alexandre, Augusto Andrade, Larissa Silveira, Matheus Silva, Sara Brito 

FOTOS: Sara Brito

SUPERVISÃO EDITORIAL: Ada Guedes 

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