O público lotou o teatro que teve um espetáculo com muita nordestinidade
Reportagem e fotografia: Matheus Farias
A noite de ontem (25/04) foi de muita nordestinidade no palco do Teatro Municipal Severino Cabral em Campina Grande-PB. A peça “ A Invenção do Nordeste’’ encantou o público presente que lotou a principal casa de espetáculos da Rainha da Borborema.
Segundo a diretora da peça, Quitéria Kelly, a ideia do enredo surgiu a partir dos ataques xenofóbicos contra os nordestinos durante a eleição presidencial de 2014: “O Nordeste é sempre representado como um lugar do atraso, que tem um povo preguiçoso, que só sabe fazer filho para ter Bolsa Família etc. Então eu falei para o grupo teatral do qual faço parte, o grupo Carmin, que a gente precisava pesquisar as origens desse pensamento que credita tudo de ruim no país ao Nordeste’’, afirmou.
Inspirada na obra “A Invenção do Nordeste e outras Artes”, de Durval Muniz, o espetáculo aborda a seleção de atores para representar um papel nordestino na peça de uma grande produtora. O diretor responsável pela seleção escolhe dois atores norte-riograndeses que começam a debater sobre sua identidade, valores e cultura regional. A grande pergunta da peça é: “Existe mesmo apenas uma identidade nordestina?’’
Para o ator Rafa Guedes, o Nordeste é muito amplo para reduzi-lo a apenas uma identidade: “Se dentro de uma mesma cidade vemos várias identidades, imagine em uma região? Cada pessoa tem sua essência, suas inquietações, seus valores. Então somos muitos’’, expressou.
O espetáculo abriu o programa Palco Giratório do SESC, projeto que promove artes cênicas pelo país com a proposta de fazer uma rica interação entre os grupos artísticos e a plateia como afirma o coordenador de Cultura do SESC em Campina Grande, Bruno Pacelly: “Trazer essa peça inspirada em uma obra de Durval Muniz, que é daqui da terra, é muito bom. É um espetáculo que trata de nordestinidade sendo o primeiro do ano do Palco Giratório. Isso é uma mensagem positiva para nosso público que há muitos anos apoia e faz uma adesão muito boa aos nossos projetos. O Palco Giratório está retornando com apresentações presenciais e de excelente qualidade’’.
A peça “A Invenção do Nordeste” chamou a atenção do público pela crítica social que faz por meio do humor, elemento que faz com que temas penosos sejam tratados com leveza sem deixar de lado a importância da reflexão como afirma Quitéria: “A peça está circulando desde 2017 e ganhamos muitos prêmios. Buscamos atingir o público que não vai muito ao teatro e por meio do humor esse público se identifica com a trama. Nosso objetivo é mostrar que essa dominação política, social e cultural que existe sobre o Nordeste não é natural e sim uma construção.” Essa construção está presente na obra de Durval Muniz, como afirmou a espectadora Maria do Rosário, que também emitiu sua opinião sobre a peça: “Eu estudei o livro e fui aluna de Durval. No palco, eu vi representado em peça o que aprendi nas aulas de Durval que é o fato de não existir nada natural em sociedade. Essa ideia reducionista que se tem do Nordeste é uma invenção’’. A espectadora, Talita Araújo, também falou que a peça foi muito rica: “Achei fantástico como os atores passam seus sentimentos e emoções’’.
A programação do Palco Giratório segue durante todo o ano. “A peça do grupo Carmin ainda vai se apresentar em João Pessoa e ao longo do ano teremos muito teatro, dança e circo. Queremos mostrar o potencial artístico do Nordeste a fim de combater pensamentos que afirmam que só existe obra nacional de qualidade no Eixo Rio-São Paulo’’, destaca Bruno Pacelly