Campina Grande  recebe exposição inédita no Nordeste do Movimento Armorial  

Campina Grande, 18 de maio de 2023

A onça caetana bateu asas e chegou às margens do açude velho


Repórter: Samya Amado
Fotógrafa: Jade Rocha
Editor: Fernando Firmino


A exposição tem a onça caetana de Ariano Suassuna como símbolo. Foto: Jade Rocha

Pela primeira vez no Nordeste, o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande, recebe a mostra “MOVIMENTO ARMORIAL 50 ANOS”. O evento já encantou mais de 250 mil pessoas em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. “Isso só foi possível por acreditarmos na cultura popular. Ariano deixa esse legado da cultura popular como mestra. Tinha uma singularidade nesse edital [de Incentivo à Cultura], eles estavam querendo descentralizar essa produção cultural e isso casou com o que a gente queria,” pontuou Regina Godoy, idealizadora e coordenadora geral da exposição.

A exposição,  que fica em cartaz até o mês de agosto,  desembarca no cartão postal da cidade e abre as suas portas ao público nesta quinta-feira (18). A mostra armorial, que tem o patrocínio da Petrobras, através da Lei de Incentivo à Cultura,  conta a história e celebra o legado do Movimento Armorial, criado por Ariano Suassuna (1927-2014), no Recife, na década de 1970. 

Dividida em três momentos, ela conta com 140 obras de diversos artistas do movimento, como o próprio Ariano, Francisco Brennand, Gilvan Samico, Aluísio Braga, Zélia Suassuna e Lourdes Magalhães.  Dialogando com a música, literatura e artes plásticas, a mostra, que tem curadoria de Denise Mattar, ocupará todo o prédio do Museu dos Três Pandeiros e é o pontapé inicial para a abertura deste ciclo de eventos, que contará ainda com Encontros Petrobras de Música e Diálogos Petrobras de Arte Armorial.


A curadora da exposição, Denise Mattar, e a idealizadora e coordenadora geral, Regina Godoy, apresentaram os detalhes da mostra à imprensa. Foto: Jade Rocha

“Eu ouvi a música Armorial em Curitiba e achei o som da rabeca muito singular. Fui pesquisar o que era Armorial e a partir de Ariano vi que em 2020 completaria 50 anos desse movimento. Eu estava em casa, no meio da pandemia, e pensei que seria uma boa ideia,” disse a coordenadora da exposição, Regina Godoy, que nos conta sobre a dificuldade enfrentada pelo distanciamento da pandemia e a importância da internet para fazer esse projeto acontecer:

“Denise estava em São Paulo, eu em Florianópolis e a produtora executiva no Rio de Janeiro. A família estava toda em Recife e a gente só foi se encontrar fisicamente em novembro de 2021, já no processo de coleta das obras. Podemos através da internet e das plataformas fazer essa reunião, com esse pensamento voltado à cultura popular,” concluiu ela.

Logo na entrada do MAPP, os visitantes serão  recebidos por uma alegoria imponente com quase quatro metros de comprimento. É ela: a Onça Caetana. Ariano desenhou várias versões da Caetana e esta foi a escolhida para a exposição. Personagem marcante da vida e obra de Ariano, Caetana,  que é a representação da morte em corpo de fêmea e faz parte do folclore nordestino,  dá boas-vindas logo na entrada do museu. A peça tridimensional foi confeccionada em Belo Horizonte pelos bonequeiros Carla Grossi, Agnaldo Pinho, Pedro Rolim e Lia Moreira.

“Durante todo o período da exibição eu queria ter um elemento muito marcante que fosse de Ariano. Eu acabei escolhendo a Onça Caetana. Nosso primeiro lugar de apresentação foi Belo Horizonte e o nosso cenógrafo conhecia um bonequeiro local que era apaixonado pelo Ariano. Ele adorou o projeto e mobilizou um grupo para produzi-la. Ela sempre abre as nossas exposições,” explicou Denise Mattar. 


Toda a influência de Ariano Suassuna no Movimento Armorial. Foto: Jade Rocha

Criador e Criatura

Ariano Suassuna nasceu na capital da Paraíba e teve seu pai assassinado por questões políticas ainda na infância, após se mudar algumas vezes, a sua família fincou raízes no Recife, onde o mestre pode estudar e criar suas obras. Suassuna sempre fez oposição da cultura popular à cultura de massa.

Sua arte sempre respeitou os valores regionais e seu legado nos mostra como a cultura popular é profunda e abrangente. Ariano rompeu todas as fronteiras e caiu nas graças do povo brasileiro, exaltando as raízes nordestinas e provando que em meio à tanta polarização, com leveza, humor e responsabilidade, é possível mesclar o popular e o erudito.

Fundado em outubro de 1970, o movimento armorial tem exatamente o estilo desafiador, ousado e singular do seu criador: uma arte erudita feita de forma autêntica com raízes regionais e elementos populares do Nordeste. “Não troco o meu ‘oxente’ pelo ‘ok’ de ninguém”, era como dizia Suassuna.  Esse movimento, com elementos autenticamente brasileiros, apresentado de forma lúdica, guarda o que temos de melhor: a história do nosso povo.

Para além da estética da literatura de cordel, o Movimento Armorial incluiu diversos tipos de arte como a dança, música, artes plásticas e arquitetura. Ele reuniu diversas manifestações artísticas ligadas a esse espírito do Romanceiro Popular do Nordeste.


A exposição é marcada pela estética, pela beleza das peças e pela cultura popular. Foto: Jade Rocha

Sobre a exposição

Na exposição em cartaz,é possível identificar diversos elementos do movimento e podemos fazer uma viagem ao coração armorial que abraça nossa cultura. Com consultoria de Manuel Dantas Suassuna e Carlos Newton Júnior, a mostra conduz seu público a uma viagem lúdica e singular. Maracatu, cavalo marinho, cordel, xilogravura, espetáculos de teatro e dança são algumas das coisas que o visitante poderá conferir ao longo desses meses. As obras expostas pertencem a instituições e colecionadores particulares, mas em Campina Grande temos um diferencial: a coleção de cordéis do acervo do Museu do Três Pandeiros.

Para o Repórter Junino, a curadora da exposição, Denise Mattar, comentou sobre a particularidade da escolha do Museu de Arte Popular da Paraíba para acolher a mostra e as novidades exclusivas para a temporada em Campina Grande.

“Em cada lugar que a gente passou, teve algo que foi marcante. Aqui, o que vai ser mais marcante para o visitante, é a primeira sala de obras de arte. Ela é um conjunto que ninguém conhece. A sala dois também é uma surpresa, porque o pessoal não conhece o grupo Grial e não conhece a história completa de Ariano, nem os manuscritos dele.” 

SERVIÇO 

A mostra “MOVIMENTO ARMORIAL 50 ANOS” fica em Campina Grande até Agosto, no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), localizado às margens do açude velho. 

Data: De 18 de maio a 20 de agosto de 2023

De terça a sexta, das 10h às 20h

Sábados e domingos, das 14h às 20h

O visitante pode retirar os ingressos gratuitamente através do link:

https://www.sympla.com.br/evento/exposicao-movimento-armorial-50-anos/1972094#event-location


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