DiguéNada Podcast: um projeto de valorização da cultura popular paraibana 

Campina Grande, 20 de junho de 2023

Repórter: Sara Italiano 

Editor: Matheus Farias 

    A discussão sobre a diversidade de ritmos e a desvalorização da cultura local no São João de Campina Grande ganhou mais força após o episódio em que o cantor de forró Flávio José teve seu show diminuído em detrimento da apresentação do cantor sertanejo Gustavo Lima, no dia 02 de junho, no Parque do Povo. Nas redes sociais, os internautas dividiram-se entre críticas direcionadas à organização do evento e apoio à pluralidade musical. No contexto de debate sobre descaracterização dos festejos juninos nordestinos e desvalorização do caráter regional, é importante conhecer iniciativas que atuam no trabalho de exaltação da cultura popular da Paraíba, como o podcast DiguéNada. 

São João é uma criação popular 

    Segundo Cléa Cordeiro, diretora do Memorial do Maior São João do Mundo, a festa em Campina iniciou-se em 1983 com a criação de uma palhoça e um piso de cimento feito pela prefeitura e os próprios moradores ajudaram na ornamentação. Conforme mostrado pelo Repórter Junino, Cléa falou sobre o início da festa: “Tudo começou com a audácia de Ronaldo Cunha Lima de criar um espaço no coração da cidade para fazer uma festa típica do ambiente rural. O Parque do Povo é o coração da festa que gerou filhotes como o Sítio São João e o Memorial, que eram dentro do Parque”.

Não demorou muito para tomar uma maior proporção e atrair turistas que pretendiam conhecer a cultura nordestina. “O produto São João, já que ele é vendido como um produto, foi moldado pelo poder público, pelas pessoas da cidade e pelos artistas locais, também de outros estados, mas que tem esse viés regional, e é um produto valioso por causa disso. Não foi a música sertaneja, nem outros tipos que fizeram o São João ser São João”, afirma o historiador e produtor cultural José Luan da Costa Medeiros. 


Construção do Parque do Povo. Arquivo pessoal de Cléa Cordeiro.

Xenofobia 

      Historicamente, a cultura nordestina é alvo de xenofobia, isto é, o preconceito direcionado a um grupo de origem e etnia diferente. Segundo levantamento feito pela Safernet, uma associação brasileira que visa proteger Direitos Humanos, em 2021 as denúncias de xenofobia no Brasil somaram 1097, e em 2022 o número cresceu, foram 10.686 denúncias. A disseminação de conteúdos midiáticos que reforçam os estereótipos de seca, fome e escassez podem apagar a verdadeira cultura e manifestação do povo nordestino e intensificar os casos de xenofobia. 

   “Ninguém é obrigado a ser nordestino raiz, que gosta de forró, eu acho que a gente tem que pelo menos dar a opção do conhecimento. Isso tem que partir das escolas, da mídia, do poder público”, disse José Luan. 

DiguéNada Podcast 

   Com o intuito de promover a exaltação da cultura popular da Paraíba e consequentemente combater a xenofobia, surge o DiguéNada Podcast, um projeto independente de jovens paraibanos. “São João na Quarentena” é o primeiro episódio do podcast, foi ao ar em 22 de junho de 2020 e, a partir dele, o programa já abordou diversos temas dentro do nicho popular e recebeu figuras paraibanas importantes para cultura como Paulo Moreira, Suzy Lopes e Thardelly Lima. 

  “A ideia é que o nosso olhar sobre as coisas, sobre nossa cultura, nossos valores e nossos costumes sejam levados a mais pessoas”, conta Dalbert Lira, integrante do projeto.

   “Ela é o litoral, ela é o sertão, é o São João de Campina… ela é tudo isso e muito mais. Então, assim, a gente tem muito esse objetivo de mostrar tudo o que a Paraíba é, e que às vezes as pessoas desconhecem, os próprios paraibanos em si” acrescentou o integrante. 

  Para eles, o contexto junino foi o “botão start”, ou seja, o que despertou o surgimento da ideia. Na época da pandemia e distanciamento social, estava inviável a celebração típica da época, porém, os jovens viram na possibilidade digital uma forma de apresentar suas memórias, dividir e compartilhar vivências paraibanas mesmo sem o contato físico. 


Primeiro episódio do podcast

“A gente se apoiou nisso para iniciar o podcast e foi muito bom, porque é uma pauta que ao mesmo tempo que foca na gente, na nossa cultura, também chama atenção de todos ou quase todos os públicos”, disse o colaborador Sávio Giordano.

     Além do podcast disponibilizado no Spotify, o projeto chegou às redes sociais e foi no Twitter, através da adaptação do conteúdo sonoro para os famosos “memes”, que teve sua maior popularidade. O perfil possui atualmente  4953 seguidores no Twitter. “Foi quando o público não nordestino começou a nos dar feedback que estavam ouvindo e que aquilo criou um interesse neles de visitar a região”, comentou Alisson Linhares, que também integra o programa. 

    Um passo importante e que demonstrou o sucesso da iniciativa foi as conversas que tiveram com convidados relevantes para a cultura regional e nacional e o retorno positivo dos ouvintes. “Com certeza esses episódios tiveram retorno muito interessante no termo de audiência. Quando a gente falou com Paulo Moreira, foi um dos episódios mais ouvidos do nosso podcast. A galera gostou muito!,  falou Kiara Duarte  uma das apresentadoras.

     Apesar da iniciativa ter atingido as expectativas dos idealizadores e ter caído no gosto popular e hoje ter 1499 seguidores ouvintes, as dificuldades de iniciativas independentes dentro desse nicho não são poucas. “Tempo, falta de apoio financeiro para investir em mais recursos…” são alguns dos impasses que Kiara destacou sobre produzir conteúdo de caráter popular em streaming. Apesar disso, a equipe do podcast segue lutando pela valorização da cultura popular sendo possível acompanhá-los através do Instagram: @diguenadacast e no Twitter @diguenadacast. 

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