As ferramentas para aproveitar os últimos dias de #PARTIUPP
Repórter: Samya Amado
Fotógrafa: Ana Lima, Elisa Bernardo e Samya Amado
Editora: Gabryele Martins
Em períodos de festa é muito comum que as pessoas se preocupem ainda mais com a aparência e acabem fazendo dietas por conta própria para estarem em um padrão não muito saudável. Espalham notícias de que as comidas juninas não fazem bem para a saúde e retiram esses alimentos do seu dia a dia. Mas o que é ser saudável?
O nutricionista Max Vinícius explica que nenhuma comida por si só vai deixar de ser saudável, mas é necessário analisar o contexto, a frequência em que você consome, a forma como esse alimento está sendo feito: “A partir disso a gente vai conseguir entender como podemos nos relacionar melhor com a comida, no lugar de ficar só se preocupando se pode [comer] pamonha ou não, se pode [comer] canjica ou não. Pra gente falar de saúde a gente precisa falar de uma maneira integral. É preciso uma análise do físico, mental e social. Precisamos ter esses 3 pilares alinhados pra gente ter qualidade de vida.”
Luana Targino, psicóloga, também pontua como diversas coisas impactam as nossas escolhas alimentares: “Existem diversos fatores que influenciam, como a sociedade, o histórico familiar, os fatores genéticos, os fatores comportamentais, mídias sociais, o que a gente cresceu ouvindo, fatores psicológicos também […]”
Por falar em redes sociais, é normal vermos diversas postagens dando dicas de alimentação para que você retire alimentos da sua rotina, para que você emagreça vários quilos em um determinado período de tempo, mas como será que isso nos afeta?
“A gente vê muito nas redes sociais: ah, tirei o queijo, tirei o leite, tirei o requeijão, tirei os laticínios. Ah, vou tirar o glúten também. Tira também o açúcar… Então a gente vê o quanto isso é reducionista. Se você não tiver intolerância ou alergia àquele alimento, ou se você não associa a algum tipo de desconforto, então você pode comer esse alimento normalmente. Quando a gente foca nas fake news sobre alimentação, a gente tá tirando o foco do que realmente importa: nosso comportamento frente a esses alimentos.”, explica Max.
Memória que abraça ou sufoca
As festas juninas trazem consigo uma memória afetiva muito forte. É fogueira, muitas comidas típicas, música, dança, reunir os amigos e a família para uma confraternização. São João corre nas veias do povo nordestino, faz parte da nossa cultura e é passado de geração para geração.
“Confesso que quando eu lembro de São João, eu lembro de pamonha, canjica, queijo de coalho assado e milho cozinhado. Amo isso! O que aparece de disfuncional, é quando essa memória afetiva precisa ser colocada de lado, porque o sentimento de culpa ao comer ou o medo de comer está prevalecendo naquela situação.”, ressalta Luana.
O cheiro do milho cozinhando ou daquele bolo quentinho saindo do forno pode nos transportar para as melhores memórias, como é o caso de Carlos Silva (29), bailarino e coreógrafo campinense: “Enquanto meu pai era vivo, nesse tempo de São João, ele costumava comprar milho na feira central e minha mãe fazia pamonha ou canjica. Sempre que eu como canjica eu sou transportado pra essa memória da minha mãe cozinhando e do meu pai enquanto vivo”. Ele explica que a tradição da família se perdeu: “Depois que meu pai faleceu, esse costume foi se perdendo com o tempo. Hoje a minha mãe não compra mais milho, nem nada do tipo. Isso foi se perdendo aos poucos.”
Manter a tradição de sentar à mesa, produzir as comidas juninas, passear no Parque do Povo, provar a variedade de alimentos que você encontra na festa, faz com que a memória seja preservada. Só que nem todo mundo tem memória positiva frente aos alimentos, principalmente quando o assunto é a aparência do corpo.
“Com um mês ou quinze dias a gente não consegue uma transformação no corpo, então é necessário a gente se olhar com carinho, exercitar essa auto compaixão. Não deixe de curtir a festa por insegurança com o próprio corpo”, pontua o nutricionista Max Vinícius.
Muitos desses alimentos que são a base da culinária junina são ótimos para o nosso corpo:
“Milho é a estrela principal, coco, amendoim, canela, são alimentos ricos em compostos fenólicos, antioxidantes, porque são alimentos consumidos in natura ou minimamente processados, então isso preserva compostos que fazem bem ao nosso corpo. Encontramos muitas fibras, vitaminas, minerais, proteínas… Existe a diferença entre comer um milho cozido e uma pipoca [de supermercado], por exemplo.”,explica ele.
De volta à rotina
Fica sempre aquela questão: o que fazer depois de ter extrapolado a dieta e ter saído da minha rotina? A psicóloga explica que emoção e pensamento a gente não controla, mas que podemos gerenciar o nosso comportamento: “O primeiro passo a se fazer quando a gente come, bebe, sai da rotina ou não vai treinar, é posterior a isso, voltar a tua rotina tradicional […]
Essas situações [festas juninas] são exceções”. Ela explica como a culpa pode nos deixar angustiados: “Imagina só tu viajar para um lugar incrível, maravilhoso e não ter a liberdade de comer o que tu querias? [não] Escolher aquelas refeições que gostaria de fazer em um restaurante incrível, por medo?”. Ela pontua novamente a importância de retomar à rotina e procurar ajuda, se for preciso: “Primeiro seria necessário a gente retornar ao que a gente comumente faz e posterior a isso, refletir se esse sentimento de culpa e de medo, de ansiedade ao comer, se ele tem sido muito prejudicial para você. Se for necessário, que você procure ajuda para lidar com isso, [você] não precisa sofrer sozinho!”.
E as bebidas alcoólicas?
Outra coisa super tradicional da festa de São João são as bebidas. Em algumas regiões você encontra uma variedade de licores, quentão, cachaça […]
Aqui no Parque do Povo não é diferente! A cana com mel é a rainha da festa e atualmente vários drinks com vodka estão sendo vendidos pelos barraqueiros.
“A gente sabe que são 32 dias de festa esse ano, a maioria das pessoas gosta de tomar uma cerveja ou uma cachaça, então é muito mais sobre a redução de danos. Se eu vou beber hoje à noite, eu sigo uma rotina alimentar saudável [durante o dia] de tomar meu café da manhã, meu almoço, meu lanche, o jantar, me hidratar durante a festa, no pós-festa beber bastante água e continuar com uma alimentação variada” disse o nutricionista.
Max explica que no dia da ressaca não tem problema de você querer se mimar com um chocolate, se esse for seu hábito: “O foco é reduzir os efeitos da ressaca e preparar o corpo para a rotina dos próximos dias”.
No Maior São João do Mundo são muitas opções para alimentação. No Parque do Povo você encontra de tudo um pouco, do caldinho ao pastel de cuscuz, da pizza de pudim ao espetinho, mas existem alguns que ainda ficam um pouco perdidos na festa: os alérgicos, veganos e intolerantes. Max Vinícius dá a dica para que todos possam aproveitar a festa da melhor maneira: “Então, veganos e intolerantes, a maior dica é fortalecer a rede de apoio para encontrar outras pessoas que também passem pelo mesmo, que podem te apresentar empreendimentos que vendem esse tipo de alimentação durante o São João”.
Em Campina Grande o público já encontra empresas que atuam com o foco em comidas para veganos e alérgicos. Dentro da festa ainda existe essa dificuldade de encontrar uma barraca específica voltada para esse público, mas algumas já oferecem opções sem lactose, por exemplo. O ideal é sempre conversar com o barraqueiro e ver a melhor opção. Comer de forma consciente e prazerosa é o foco desse São João. E aí, #PartiuPP?