Feira de Campina: Um lugar de fascinação

Campina Grande, 2 de julho de 2023

Na feira, modernidade e tradição andam juntas.

Autor: Matheus Farias

Fotos: Matheus Farias e reprodução

Editora: Gabryele Martins


Produtos e objetos usados por feirantes que estão há décadas no local. Foto: Matheus Farias/ Repórter Junino

Na entrada do 36ª Salão do Artesanato da Paraíba, o visitante se depara com a frase: “tudo vira arte na feira de Campina”. Para entender essa ideia, precisamos voltar um pouco no tempo e entender a história do mercado central da Rainha da Borborema, essa cidade por onde passam milhares de pessoas, várias culturas, muitas histórias e vivências complexas, afinal, a arte está ligada a todos esses elementos.

Existe uma expressão que diz: ”Todos os caminhos levam à Roma”. Isso vem muito a calhar quando se trata da feira de Campina. Foi nesse lugar que um pequeno povoado surgiu, ainda na época de Theodósio de Oliveira Ledo, atraindo pessoas de vários sertões para comercializar gado, verduras, frutas e toda sorte de especiarias que eram vendidas por aqui. Campina era mesmo a “Chicago do Sertão” como dizia Assis Chateaubriand.


Feira livre na rua Maciel Pinheiro. Década de 1920. Fonte: Blog Retalhos Históricos de Campina Grande

Atrair toda essa gente para as bancas da feira sempre foi um desafio exigindo, assim, uma comunicação rápida e objetiva e quem anda pelo mercado central de Campina observa que, até hoje, os feirantes fazem de tudo para chamar a atenção do cliente que, por sua vez, confia no seu poder de argumentação para pechinchar um preço bom.

A palavra usada para argumentar também é usada para lutar e mobilizar revoluções. Foi assim durante a revolta “Quebra Quilos”, quando feirantes que se sentiam enganados com a adoção do novo padrão métrico decimal e já cansados da crise econômica (alguma semelhança com os dias de hoje?), resolveram jogar balanças e pesos no Açude Velho como sinal de protesto. Escravizados da região da feira aproveitaram o motim para clamar por Liberdade, desejo inerente do ser humano que faz planos e sonha por dias melhores, por mais que pareça difícil.


Esponjas típicas do interior. Foto: Matheus Farias/ Repórter Junino

Pois é, a feira tem e debate problemas reais mas também possibilita o lúdico, o sonhar. Quantas pessoas viveram sonhos e ilusões no antigo Cassino Eldorado, o paraíso dos barões do algodão na época do “ouro branco”? A elite campinense lá se reunia para viver noites memoráveis com as atrações internacionais do local que era cheio de glamour. Mas essas memórias não resistiram à realidade de uma cidade que não respeita seu patrimônio histórico e o cassino hoje está em ruínas.


Poesia de Manoel Monteiro sobre a Feira de Campina. Foto: Matheus Farias/Repórter Junino.

Nas ruínas, porém, ainda pode haver esperança, pois como disse o patriarca bíblico Jó: “Para a árvore pelo menos há esperança: se é cortada, torna a brotar, e os seus renovos vingam.”

Podemos dizer que esses renovos estão bem representados nas crianças atendidas pelo projeto “Tamanquinhos da Arte”(Lembra que tudo vira arte na feira?), da louvável Eneida Agra Maracajá que, como um Gato Maracajá, tem garra para lutar pelo bem estar dos pequenos em situação de vulnerabilidade social atendidos pelo projeto que oferece aulas de dança na Igreja de Santa Madalena.


As bonecas típicas da feira provam que lá tudo vira arte. Foto: Matheus Farias/Repórter Junino

A Santa Madalena, responsável por transformar o palácio de sua família em um espaço para atender meninas abandonadas e carentes, é lembrada justamente em um espaço de acolhimento como é a feira da Capital do Trabalho.

No mercado central, ideias, culturas e hábitos vindos de perto ou de longe foram acolhidos, confirmando o que Gilberto Gil disse sobre Campina, em entrevista ao Jornalista Rômulo Azevedo, quando afirmou que a cidade tem um anseio por ser Nova Iorque e aqui é onde tudo se vende e tudo se troca. Onde tudo tem valor e nada tem valor. 

Na feira, a modernidade também é acolhida, mas sem esquecer das nossas raízes. Os modernos pagamentos eletrônicos convivem com tradições como dançar forró pé de serra. O mercado central já esteve em vários locais até se estabelecer na localização atual, mas uma coisa não mudou durante todo o seu tempo de existência e resistência: o poder de fascinar com seus cheiros, cores e sabores a todo viajante que passa por ali e ouve histórias reais ou de Trancoso, histórias de VIDA.

Fontes:

Blog Retalhos Históricos de Campina Grande;

Livro: ” História de Campina Grande: De aldeia a Metrópole” de Ida Steinmüller e Vanderley de Brito, ligados ao Instituto Histórico de Campina Grande.

Atualizada em 03/07/2023.

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