Espetáculo A Mãe Essência marca segundo dia do Encontro sobre Música Armorial em Campina

Campina Grande, 4 de agosto de 2023

Letícia Torança e o Grupo Aralume fizeram uma homenagem a Antônio Madureira, músico integrante do Movimento Armorial.

Repórter: Matheus Farias

Fotógrafa: Bianca Menezes

Editora: Louyz Rodrigues 


Leticia Torança e Grupo Aralume fizeram um espetáculo lúdico e mágico. Foto: Bianca Menezes.

A música foi uma das linguagens artísticas do Movimento Armorial criado na década de 1970 por Ariano Suassuna que tinha como objetivo criar uma arte erudita a partir das raízes culturais populares. Ao som da flauta transversal, da rabeca e do maracatu, os músicos desse movimento estabeleceram as bases de suas criações que até hoje são celebradas, como visto ontem a noite no segundo dia do Encontro Petrobras de Música Armorial, que aconteceu no Teatro Municipal Severino Cabral em Campina Grande como parte da Mostra Movimento Armorial. 

O evento reuniu admiradores desse campo artístico para ver a apresentação de Letícia Torança, uma cantora gaúcha mas radicada na Paraíba. Ela falou sobre a proposta do espetáculo “A Mãe Essência”: “É justamente fazer essa integração artística que Ariano queria através das projeções de imagens que são fotografias do cineasta Otto Cabral e com momentos de dança, ou seja, não tem só música”.  A artista ainda explicou que o nome da apresentação faz alusão à figura materna: “Esse nome traz a ideia de fertilidade, abundância, afinal a mãe gera a vida e nós queremos gerar encantamento em pessoas de todas as idades”.


O ritmo das apresentações envolveu o público. Foto: Bianca Menezes.

E as pessoas ficaram, de fato, encantadas com o espetáculo feito no palco do principal teatro campinense que, em 2023, completa 60 anos exalando a arte como essa fonte inesgotável de sabedoria que contagia a todos como a Estefany Rodrigues,16, que aprovou a iniciativa de trazer a música armorial para a Rainha da Borborema: “Eu achei tudo muito lindo inclusive a presença da cantora no palco e iluminação também me marcou muito. É fantástico estar viva para vivenciar tudo isso”. Moisés Oliveira, 17, também ficou encantado com o espetáculo: “É a minha primeira vez aqui e eu adorei porque traz a sensação de você se desligar de tudo que há em volta e se concentrar no que está sendo apresentado”, afirmou. 

A ideia das apresentações era trazer o jeito nordestino de criar e estar no mundo, ou seja, destacar a construção do “fazer cultural” do Nordeste como ressalta Ícaro Fernandes, um dos integrantes do Grupo Aralume que também se apresentou no palco do municipal: “Achei a experiência muito legal e acho que o espetáculo transmitiu o que queria passar. Eu toquei violoncelo que muita gente diz que não tem nada a ver com música nordestina mas tem sim e reunir esses instrumentos diferentes foi muito interessante”.


Grupo Aralume se destacou pela harmonia dos vários instrumentos. Foto: Bianca Menezes.

“Reunir” foi a palavra chave da apresentação de ontem. Letícia e o Grupo Aralume reuniram músicas, valores e tradições diferentes da cultura nordestina de forma muito mágica e lúdica. O início e o fim do espetáculo foram marcados por um louvor à figura de São João e durante o show foram cantadas letras que exaltam o sertão que há dentro de muitos nordestinos como “ABC de Nossa Senhora” e “Cruzeiro do Sul”. O grupo se destacou pela variedade de instrumentos sendo tocados harmonicamente. A flauta transversal, a viola brasileira, o violoncelo e a percussão fizeram o público de várias gerações admirar ainda mais a música armorial, como destacou Alan Rodrigues, 37: “Eu venho do Sertão e essas músicas me trazem boas lembranças de lá. Achei muito lindo”.

O evento integra a Mostra Movimento Armorial que, desde maio, está no Museu de Arte Popular da Paraíba (MAAP) mais conhecido como “Museu dos Três Pandeiros” e o diretor do museu e professor José Pereira fez um balanço desses dois dias de Encontro Petrobras de Música Armorial: “Avaliação extremamente positiva e estamos brindando Campina com uma música de alta qualidade”. Ele ainda lembrou que outros eventos paralelos da Mostra Movimento Armorial acontecerão em Campina: “de 09 a 13 de agosto o mini teatro Paulo Pontes que é anexo ao Severino Cabral vai sediar o evento Diálogos sobre o Armorial com palestrantes como Manuel Suassuna e tudo gratuito”.

A produtora da Mostra explica que o objetivo da ação é ressaltar a importância do Movimento criado por Ariano Suassuna e que é marcado pela pluralidade, magia e multiculturalidade: “Esse movimento é brasileiro e nacional. Nós conhecemos os movimentos internacionais mas os nacionais não são muito conhecidos. Quase ninguém sabe que a tapeçaria e a música fizeram parte do Armorial que queria destacar que nós brasileiros somos multiculturais e multicoloridos.” Ela ainda destacou a presença de Letícia Torança no palco: “Por mais que esteja a frente do seu tempo, o Movimento Armorial não teve muitas presenças femininas. Então, a Letícia dominou o palco com sua presença feminina e trazendo o canto já que o Armorial tem poucas músicas que são cantadas”.


Além de música, a noite de ontem foi de muita dança. Foto: Bianca Menezes.

Hoje, a noite no palco do Teatro Severino Cabral terá muitas cores, ritmos e tradições do maracatu, coco e cavalo marinho através das apresentações de grupos artísticos campinenses como a Companhia de Projeções Folclóricas Raízes e o Grupo de Cultura Popular Ariús convidados pelo Grupo Batuque Nagô. Esses grupos buscam preservar o legado deixado por Ariano Suassuna que enxergava os elementos culturais estrangeiros não como algo que deveria descaracterizar o Nordeste mas uma incorporação enriquecedora para a cultura nordestina.

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