Francisco Andrade é um dos integrantes do Grupo Aralume que traduz em música a filosofia do Movimento Armorial.
Repórter: Matheus Farias
Fotógrafa: Bianca Menezes
Editora: Thaylanny Almeida
A cultura é definida por muitos estudiosos como uma construção coletiva de saberes, práticas e valores, sendo expressada nas mais diversas formas, há exemplo da música que pode ser apresentada de maneira solo ou em grupo. No Nordeste, é famosa a formação em trio para tocar o tradicional forró pé de serra. Esse conjunto foi criado por Luiz Gonzaga nos anos 1950 juntando sanfona, triângulo e zabumba.
Com o passar do tempo, outros estilos musicais também seguiram essa formação e alguns até a ampliaram, como foi o caso do Quinteto Armorial, um conjunto surgido na década de 1970 e que trazia a filosofia do Movimento Armorial através da música. Seu líder, Antônio Madureira, tinha a proposta de valorizar o cancioneiro popular. O folheto de apresentação do Quinteto dizia que o grupo queria fincar os pés nas raízes barrocas e populares do sangue nacional brasileiro. Essa ideia serviu de inspiração para que outros grupos armoriais surgissem,como o Aralume. Um de seus integrantes é o músico e pesquisador Francisco Andrade. Em entrevista para o Repórter Junino ele falou um pouco sobre o legado do Movimento Armorial durante o Encontro Petrobras de Música Armorial, que está sendo realizado em Campina Grande-PB. Confira os principais trechos da conversa:
Qual a importância de trazer a Música Armorial para Campina Grande?
É preciso ressaltar que existem outros estilos musicais nordestinos para além do forró que é um gênero muito importante para mobilização dos músicos e dos folguedos, mas o Nordeste é um verdadeiro mosaico quando falamos de estilos musicais. Se você adentrar na Zona da Mata, você se depara com maracatu, folguedos tradicionais e caboclinhos. Já no Sertão, é possível ver o cancioneiro popular e o cordel que também é cantado.
Como a música do Movimento Armorial soube traduzir essa pluralidade cultural que é típica do Nordeste?
De uma forma muito inteligente com a contribuição de Antônio Madureira,pois para cada composição dele existe um emblema que faz referência às manifestações culturais nordestinas. O repente que tocamos aqui no Encontro Petrobras de Música Armorial, por exemplo, tem uma melodia com sextilha cantada pelo Ariano e a partir dessa sextilha, Madureira criou uma composição. Isso é riquíssimo.
Existe uma influência barroca e medieval na música que foi cantada pelo Grupo Aralume no Encontro Petrobras de Música Armorial?
Sim, inclusive na minha pesquisa eu trabalho com três dimensões da música Armorial que fazem parte da cultura brasileira. Uma delas é justamente a medieval e renascentista que está ligada à cantoria das cantigas velhas e romances medievais como o de Minervina. Elas são manifestações ibéricas que ecoaram na nossa cultura. Ao mesmo tempo, nós temos a cultura afro muito forte dentro do elemento repetitivo que também tem a oralidade e a rítmica muito fortes, além dos povos originários, ou seja, os indígenas.
Um instrumento que você toca é a viola brasileira. Como surgiu o seu contato com ela?
A viola é um instrumento que me acompanha desde 2003 e a chamo de brasileira porque ela se desenvolveu de uma forma muito potente no interior do Brasil mas para cada lugar foram criados tipos de afinação, sotaques e ritmos diferentes. Ela traduz bem esse mosaico musical que falei anteriormente porque com esse instrumento nós conseguimos transitar pela música medieval, pelo cancioneiro popular, etc.