Ok, mas cadê a chita?

Campina Grande, 10 de junho de 2024

Visão caricata da festa junina movimentou as redes sociais nas últimas semanas.


Repórter: Paloma Mahely

Fotógrafas: Amanda Suêlha e Cecília Marinho

Editora: Gabryele Martins


Público investe nas produções para o Maior São João do Mundo. Foto: Amanda Suêlha/ Repórter Junino

Se te pedissem para descrever a festa junina, o que você diria? Provavelmente, se essa pergunta fosse feita a uma pessoa que nunca experimentou dos festejos e acompanhasse o São João apenas através das informações que aparecem na ‘timeline’, ela diria que imagina um grupo de caipiras, com maquiagem marcada, rodeado por comidas derivadas do milho e forró. Mas será que o São João é só isso mesmo?

Em 15 de maio, a ex-bbb e cantora paraibana, Juliette Freire, natural da cidade de Campina Grande – que, inclusive, recebe o título de cidade com o Maior São do Mundo -, postou um vídeo em suas redes sociais que levantava o mesmo questionamento. Na produção, ela propôs aos seus seguidores conhecerem melhor o São João, enfatizando a visão caricata que a grande maioria das pessoas têm, ao reduzir o festejo em personagens de aparência grotesca. Mas a discussão não parou por aí. Outras figuras públicas opinaram em seus perfis, despertando ainda mais a curiosidade dos espectadores.

Em vídeo, Mari Souza, criadora de conteúdo de Campina Grande, compartilhou sua indignação após a enxurrada de comentários no perfil dela, questionando desde o modo de vestir, até a forma de viver os festejos: “As pessoas começaram a associar o tecido escocês com um tecido caipira, e aí veio para o Brasil como uma coisa do interior, começaram a associar, já que o tecido quadriculado muitas vezes é feito de chita, e chita é um tecido muito barato de algodão. Começaram a associar o São João como uma festa de caipiras, com tecido de caipiras, que seria o quadriculado, e assim, obrigatoriamente, para o pessoal do Brasil, a gente tem que ir de quadriculado!”.

 A influenciadora ainda conscientizou as pessoas em relação às vestimentas que são usadas em quadrilhas e apresentações culturais, fazendo alusão aos desfiles de carnaval que acontecem no Rio de Janeiro. “A gente não precisa estar de vestido de quadrilha, a gente não precisa estar de xadrez, porque é um show [em relação à programação do Parque do Povo, em Campina Grande]. São João é show de forró!”, finaliza a influenciadora, indicando fotos das roupas que usou nas últimas festas. 


Usuário comenta no vídeo da influenciadora Mari Souza. Foto/Reprodução: TikTok

O São João em Campina Grande tem, cada vez mais, tomado grandes proporções. Turistas de todos os lugares do mundo, viajam na aventura que é experimentar “O Maior São João do Mundo”, e é nesse momento, que todos os seus conceitos prévios são transformados. “É mais do que eu esperava. Eu não fazia ideia do que era e só chegando aqui para constatar a grandeza dessa festa maravilhosa. Eu sou do estado do Paraná e vivo o São João, mas não é nada comparado a esse; é bem menor. Aqui você vê tudo o que nós temos lá, só que aumentado mil vezes. Eu achei que era um pouquinho mais tradicional [as roupas]. Eu vejo que as mulheres se embelezam muito para vir na festa, mas acho que é tradição e elas querem estar vindo, e faz parte do processo. Achei legal as quadrilhas, que estão se apresentando ali, a estrutura que cada uma monta… parece uma escola de samba, na realidade”, contou Robson Xavier, de Maringá, Paraná, enquanto visitava pela primeira vez os festejos juninos na cidade.


Público desfruta das emoções d’O Maior São João do Mundo. Foto: Amanda Suêlha/ Repórter Junino

A mesma sensação acometeu Nelson Lopes e Rildo Luís. Nelson mora em Mato Grosso do Sul, e em sua primeira viagem à Paraíba, teve as expectativas superadas para além do São João. Ele compartilhou seu encanto pelas praias de João Pessoa e as belezas do litoral. Além disso, ainda faz uma comparação com as festividades do seu estado: “A gente foi tomar um café na padaria às 07 da manhã, e já tinha gente vestida de xadrez, bem diferente da nossa terra lá, que não tem nada disso. São João lá, na verdade, dura um dia, se for muito. No máximo é uma festa de escola e nada mais que isso”, reflete o sul-mato-grossense, ao contar uma experiência que quebra os argumentos daqueles que acreditam que o São João está perdendo sua essência. Já Rildo, é baiano, e se diz acostumado com festas, mas, mesmo assim, não deixou de se surpreender com “O Maior São João do Mundo”: “Eu imaginava que era uma festa top, porque a referência de Campina Grande é o São João, só que é muito mais do que eu pensava”, ele ainda brincou que “Bahia é Bahia, mas aqui o São João é melhor. Eu tenho que trair minha terra e falar a verdade: o São João daqui não tem ‘parêa’ não”, completando com uma análise da imagem que as pessoas de fora do Nordeste têm: “Olha, eu vi o filho de Shaolin, Lucas Veloso, falando ‘Meu amigo, quando você vê a pessoa de roupa quadriculada, é turista. E quem é morador, está bem vestido de camisa pólo, camisa social’…”, finaliza o baiano.


Rildo Luís e sua família, aproveitando o Maior São João do Mundo. Foto: Cecília Marinho/ Repórter Junino

A grande verdade é que o São João não pode ser definido em poucas palavras. Na linguagem nordestina, essa festa é um balaio de coisas. Nele, cabe muita cultura, comida gostosa, emoção, alegria, uma cidade com economia aquecida, geração de empregos e mais, muito mais. É uma experiência que precisa ser vivida. Enquanto ocorre o processo, os amantes do período junino vão curtindo e mostrando para o resto do mundo, que São João não é só andar caracterizado e comer milho.

Cada parte do Nordeste celebra a festa junina com tradições próprias do local. Em alguns lugares, são separados três dias para o festejo, incluindo o dia de São João, em 24 de junho. Em outros, isso pode mudar. No “Maior São João do Mundo”, em Campina Grande, por exemplo, são oferecidos mais de trinta dias, com festas simultâneas por toda a cidade.

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