O evento contou com apoio da TV UEPB e da ASQUAJU-CG, e foi transmitido ao vivo pelo canal Ypuarana Cultural no YouTube
Reportagem: Lúcio Lima
Fotografia: Amanda Suêlha e Emily Piano
Edição: Nathália Aguiar
Foi aberta nesta segunda, 10, mais uma etapa de celebração das quadrilhas juninas. Dessa vez, foi a Etapa Campinense, tradicionalmente realizada na Pirâmide do Parque do Povo, durante os festejos d’ O Maior São João do Mundo. O evento é realizado pela Associação de Quadrilhas Juninas de Campina Grande (Asquaju-CG), com o apoio da Secretaria de Cultura (Secult).
Seis juninas se apresentaram: Arraiá do 40, Escurrega Mai Num Cai, Rojão do Forró, Filhos de Campina, Moleka 100 Vergonha e Arraial em Paris.
Com muita energia e trazendo o tema “Na estrada da fé, meu destino é ser feliz”, a junina Arraiá do 40, formada por 24 crianças e adolescentes, foi a primeira a abrir os trabalhos. A rainha Luciana Leal, de 16 anos, falou da emoção de participar pela segunda vez do Festival: “É muito emocionante representar nosso bairro do Quarenta, que é tradicional. Estamos com uma expectativa bem alta com nosso tema: A fé, o destino, no qual o noivo busca o ‘sim’ para casar em meio às batalhas da vida”, compartilhou.
Por volta das 21h, foi a vez da “Escurrega Mai Num Cai”, criada em 1988 no bairro da Palmeira, com a temática “Além do Medo”, que explorou os dilemas de ter medo e ser paralisado por ele. Sara, de 22 anos, não teve medo; A técnica de enfermagem se apresentou pela primeira vez como cangaceira e também Maria bonita: “O coração está a mil. Primeiro ano defendendo essas personagens, uma alegria que não cabe em mim. Não deixei o medo me parar. Nosso maior inimigo é a nossa mente, e o que o medo faz nela. Este ano, eu e o cangaceiro abordamos o assunto ao som de “Thriller”, do rei do POP Michael Jackson. Vai ser lindo e impactante”, relatou.
Na sequência, a quadrilha mais esperada da noite, colecionadora de títulos e considerada a representante de Campina Grande, a junina “Moleka 100 Vergonha ” apresentou durante 30 minutos a temática “A Graça não é de Graça”, em uma atmosfera religiosa, emocionante e criticando aqueles que usam da má-fé para obter vantagens financeiras.
Mahatma Gandhi, presidente da quadrilha, contou sobre o tema. “Nossa quadrilha sempre traz assuntos relevantes para nossa sociedade, fazendo com que as pessoas pensem, reflitam. Neste tema, Gracinha, a personagem central, quer casar, porém pecou e, a partir daí, vai fazer uma viagem lúdica por religiões, em busca de perdão. Nisso, descobre que tem que pagar por isto, em meio a pastores sabidos, padres, à indulgência e as ciganas que prometem amores. Uma temática cômica e crítica ao mesmo tempo”, destaca.
O presidente da quadrilha também compartilhou a importância dessa etapa no calendário do Maior São João do Mundo: “Estou muito feliz em saber que os turistas perguntam sempre quando é que vai ter apresentação de quadrilha. Muito orgulhoso em fazer parte dessa cadeia de cultura e arte há mais de 24 anos”, celebra.
A última apresentação da noite ficou por conta de “Vozes do Silêncio”, apresentada pela junina Arraial em Paris – atual campeã e eleita a quinta melhor quadrilha da Paraíba no ano de 2023, originada no bairro dos Cuités. O tema abordou a violência contra a mulher e as vozes ceifadas por atos de brutalidade e injustiça a essas vítimas.
Jandersson Oliveira, 33, membro da comissão da diretoria, detalhou a proposta ousada e o desejo pelo bicampeonato: “Contamos o ciclo da violência. Ele começa no romance e vai até lua de mel, chegando ao ápice na explosão, na negação e, por fim, na violência verbal, física, passando pela sexual. Um tema que serve de alerta social, uma vez que os casos de feminicídio têm aumentado no Brasil. Vamos brigar, mas é pelo nosso bicampeonato, mostrando a força desse tema e da nossa junina também”, frisou.
Gisele Sampaio, jurada, apontou a liberdade de temas que podem ser explorados pelas quadrilhas: “O que me chamou atenção nesta noite foi o sincretismo muito forte. O lugar de fala das quadrilhas é único, exclusivo, podendo tematizar qualquer assunto. Saio daqui feliz e imersa de cultura, de arte, de vida, de gente. Uma tarefa difícil ser jurada, mas muito mais enriquecedora que qualquer desafio”, relata a também ex-secretária de cultura.
Sem exceção, todas as quadrilhas entregaram ao público diversos temas importantes e impactantes, recheados de muito brilho, cultura e sentimento de pertencimento junino, que chamou a atenção de quem pertence a Campina Grande e de turistas.
Sayara Montynelly é campinense, mas mora na Espanha há alguns anos e compartilhou conosco a saudade que estava das quadrilhas: “Todos os anos participo desse momento maravilhoso, onde o folclore e a tradição estão aqui, no Maior São João do Mundo. Eu adoro quadrilha junina, inclusive já fui participante e sei o quanto é trabalhoso montar toda essa estrutura, e sendo muito franca: sem essa festa, não existe São João. Por isso, sempre falo que todas as juninas só de estarem aqui já são campeãs”, reforça.
Quem também ficou encantada foi a paulista Dicilene Muniz, 56, que pela primeira vez pôde acompanhar as apresentações.”É muito emocionante. Estou voltando a ser criança. Aqui é lindo, respira cultura, vou voltar ano que vem sem dúvidas”, declara.
Juliana Renally, 21, falou da sua quadrilha do coração e do quanto esse momento é importante para a cultura da cidade: “Sou fã da “Moleka 100 Vergonha”, que vem linda e cheia de graça, literalmente. Manter esta festa é celebrar a nossa cultura. Cada junina traz um assunto que carrega uma reflexão que pode mudar uma realidade”, comenta.
Nesta terça, 11, seguem as apresentações de mais cinco juninas: Flor de Lampião, Expressão Junina, Baião D2, Mistura Gostosa e Cestinha de Flores. É o Maior São João do Mundo celebrando as manifestações culturais ligadas à dança e à arte, sempre levando emoção e conscientização ao público.