Paixão e emoção marcaram o festival que aconteceu no coração do Parque do Povo com a etapa Campinense de Quadrilhas. Além da Moleka 100 Vergonha (Campeã), Mistura Gostosa e Arraial de Paris se classificaram para o XXI Paraíba Junino, que ocorrerá em João Pessoa
Repórter: Thaylanny Almeida
Fotógrafos: Nicolas Almeida e Emily Piano
Editor: Fernando Firmino
Nesta terça-feira (11), aconteceu o segundo dia do Festival de Quadrilhas da Etapa Campinense, na Pirâmide do Parque do Povo. A noite do Quartel General do Forró foi marcada por danças sincronizadas, belos figurinos e uma energia contagiante, mas principalmente pela expectativa do anúncio das campeãs. Moleka 100 Vergonha, Mistura Gostosa e Arraial em Paris levaram o sonhado título e estão classificadas para a Etapa Paraíba, sediada em João Pessoa.
Por volta das 19h, a quadrilha “Flor de Lampião” deu início às apresentações com o tema “Entre Aflições e Tropeços: o Recomeço”, trazendo o debate da ansiedade e depressão que são tão recorrentes na nossa sociedade. Os figurinos dos cangaceiros fugiram do tradicional e foram criados exatamente para representar o medo atrelado a essas emoções. “O cangaço representou o pânico e o medo que a gente tem disso, entendeu? O medo e a negatividade que fica na nossa mente, os pensamentos mórbidos. E a nossa indumentária e maquiagem foram pensadas nisso, na questão do preto, de ser sombrio, foi isso que a gente veio apresentar um pouco para os telespectadores aqui essa noite”, comentou João Paulo, 29, cangaceiro da Junina.
Quem também inovou e explorou uma problemática fundamental foi a “Mistura Gostosa”, por meio do tema “O filho da Ignorância: se não for por amor que seja por respeito”. Transfobia, racismo, xenofobia e intolerância religiosa foram os quatros eixos do preconceito trabalhados na peça teatral que é concentrada em Alonso, o qual perpetua todos eles, como explicou a Noiva Beatriz Balbino, 27: “Todo o espetáculo é concentrado no pai Alonso, e dentro da família tem o filho que sofre a transfobia, os convidados descendentes de Lampião que lidam com a xenofobia. E também o meu noivo que sofre o racismo e a intolerância religiosa, porque sua religião é de matriz africana”.
A quadrilha “Expressão Junina” trouxe a fé como temática através da “Promessa: Um conto de São João” e estampada simbolicamente nos figurinos com as imagens dos Santos Pedro, Antônio e João. Os integrantes Emilly Xavier, 13, e Pablo Rubens, 11, mostraram que apesar de muito jovens já nasceram com o talento de quadrilheiro nas veias. “Minha família já participa de quadrilhas desde que eu era pequeninha, e eu sempre ia olhar, agora eu participo dançando também”, falou emilly. Enquanto Pablo ressaltou a emoção que sentiu ao dançar: “Eu danço desde os 2 anos e eu nunca tive uma emoção tão grande como eu tive hoje de dançar aqui, e também porque esse ano eu participei da peça teatral e foi muito legal a experiência para mim”.
“Da afeição ao fascínio. Do rompimento à paixão. O amor se transforma nas quatro estação”, foi o tema da Junina “Baião D2”. O Rei e a Rainha Joseph Ferreira, 26, e Andreza Hellen, 23, comentaram sobre a alegria em participar do festival. “Eu já danço há um tempo, mas quadrilha é o meu primeiro ano, então eu estou muito honrado e feliz de estar na Baião D2. Já quero estar presente no ano que vem para fazer um show melhor ainda”, expressou Joseph. A Rainha Andreza pontuou a respeito da responsabilidade do cargo: “É o meu segundo ano dançando quadrilha, e estou muito feliz pela Junina ter confiado em mim e acreditado que eu era capaz de estar nesse cargo. Sem palavras, só tenho a agradecer por a gente ter chegado até aqui”.
O último espetáculo ficou por conta da “Cestinha de Flores” e o tema “Nas terra do milharal”, baseado na história de uma menina que se apaixona por um espantalho. “O tema foi em homenagem ao falecido coordenador everton (mais conhecido como pinha), que há dois anos já queria trazer esse tema […] Trata da história de uma menina que chega na cidade para conhecer as festas juninas e acaba se apaixonando por um espantalho, e a fé dela é tão grande que acaba dando vida a ele”, salientou Léo Farias, 20, noivo, coreógrafo e desenvolvedor temático da quadrilha. E, por se tratar do último show da noite, o frio na barriga era grande, como destacou a integrante Ingrid Costa, 18: “É muito nervosismo e ansiedade, mas vai dar certo”.
Pirâmide lotada
A Pirâmide estava ocupada por um público atento que apreciou cada momento. A estudante Anna Klara, 17, faz parte da Quadrilha “Escurrega Mai Num Cai”, mas foi prestigiar o trabalho das outras participantes. “Todas estão ótimas. Eu fico emocionada porque eu também danço quadrilha, quem não dança fica arrepiado, imagina quem dança. Eu amo a cultura, a dança e a emoção que as Juninas proporcionam”, declarou. A auxiliar de serviços gerais Marcela Juliana, 42, também ficou encantada, como ela mesmo afirmou: “Todas estão lindas e perfeitas. Eu sempre venho ver as quadrilhas e estou aqui desde cedo. Eu amo ver eles dançarem”.
A essência das Juninas foi apreciada e captada não apenas pela visão da platéia, mas também pelas lentes das câmeras fotográficas. Rayane Brito, 29, fotógrafa da Associação de Quadrilhas Juninas de Campina Grande (ASQUAJU), contou sobre a importância de captar esses momentos: “Eu me envolvo muito fotografando e vejo muita poesia em tudo o que acontece aqui nos festivais da pirâmide. Acho importante os registros para preservar e difundir a cultura nordestina. Imagina se não tivéssemos registros de tudo o que acontece aqui e só ficasse restrito a ver uma única vez ao vivo. Por isso, as fotografias têm um papel fundamental para a gente propagar a cultura das quadrilhas juninas”.
O epicentro do Parque do Povo foi espaço de muita emoção e sensação de dever cumprido, onde todas as Juninas deram o seu melhor, mostrando esforço e dedicação em todas as etapas do processo, da escolha do figurino à coreografia. Apenas as três levaram o título, mas todas elas carregam bem mais do que isso. As quadrilhas representam a cultura nordestina e a essência dos festejos juninos, não são definidas por um título, mas pela chama que mantém a tradição das cores, da dança e do orgulho em ser quadrilheiro.