Reportagem: Samya Amado
Fotografia: Léia Ventura e Briza Cunha
Edição: Nathália Aguiar
A cidade de Campina Grande, na Paraíba, é marcada não apenas pelo São João, mas pela celebração coletiva do amor de vários casais. Anualmente, sempre no dia 12 de junho, o Parque do Povo se torna o epicentro do amor, com o tradicional Casamento Coletivo.
O evento é gerenciado pela Secretaria de Cultura (Secult) de Campina Grande e, por lá, já passaram mais de 2,5 mil casais, beneficiados com todos os serviços necessários ao matrimônio, desde a documentação do cartório, os trajes dos noivos, vestidos das noivas, cabelo e maquiagem. Neste ano, as noivas chegaram ao meio-dia no Teatro Municipal Severino Cabral e no Senac, enquanto os noivos estavam no Centro Cultural Lourdes Ramalho ao final da tarde, aguardando o encontro com as noivas e cortejo.
À noite, os casais seguiram em cortejo até a grande festa na Pirâmide do Parque do Povo. O prefeito da cidade, Bruno Cunha Lima, saudou os presentes e abriu o evento: “Eu sei que muitos dos que estão aqui já têm uma vida conjugal consolidada e encontram no Casamento Coletivo um instante para formalizar aquilo que o coração já fez verdade, mas muitos outros encontram nesse instante o momento de iniciar, de começar do zero, a sua caminhada. Quer seja para os que estão começando do zero, quer seja para aqueles que estão formalizando algo que já existe, o meu desejo é de que este instante seja um instante em que todas as coisas se fazem novas. Que o amor se renove, que a compaixão, que a parceria, que o sentimento, mas em especial o respeito e a amizade entre os casais.”, pontuou.
Luciana Lima contou ao Repórter Junino que o sonho de casar no São João foi literal: “Eu sonhei casando no Parque do Povo. Ano passado, de madrugada, eu sonhei. Eu tava fazendo planos pra casar no ano passado, aí eu disse: ‘Marcone, eu quero casar no Parque do Povo, de vestido de noiva.’ Eu sonhei casando no Parque do Povo e eu quero casar no Parque do Povo.”, comentou.
Os noivos, que se conhecem há 17 anos, enfrentaram um pouco de resistência por parte de algumas pessoas: “Tiveram uns que ficaram conversando besteira, mas não importava não. Outros deram o maior apoio, minha família aceitou e achou muito bonito. A primeira pessoa da família a casar no Parque do Povo, em um evento junino, sou eu.”, finalizou.
Dizem que o amor pode esbarrar em você em qualquer lugar e que ele adora surpreender os distraídos, como foi o caso de Josete Diniz, que conheceu Antonio Carlos de uma forma bem inusitada: “Eu saía pra trabalhar e ele ‘tava’ trabalhando no prédio vizinho, ele é eletricista. Ele me via sair e entrar e eu jamais ‘tava’ esperando ser espionada [risos]. Aí, de repente, a minha amiga me avisou que ele ‘tava’ me olhando. Ele passou uns 30 dias assim.”, disse ela.
Josete contou que a sua amiga foi uma incentivadora para o romance: “Ela disse: ‘Quando for sair, dê uma olhada pra cima que você vai ver ele…’ Menina, num é que um dia eu ia chegando do trabalho e ele ‘tava’ lá e me soltou [um] beijo?! Aí desde esse dia que eu comecei a me produzir mais ainda e ele se apaixonou. Já estamos há 6 anos juntos.”, comentou.
A história de Maria Vitória e Igor Augusto, juntos desde 2018, poderia facilmente ser uma letra cantada por Santanna O Cantador. Se na música ‘Vontade’ ele diz “vontade de bater no seu portão/vontade de pedir um copo d’água e assim poder pegar na sua mão”, Maria entende bem sobre isso, já que passou vários dias observando Igor passar em sua porta: “Quando eu me mudei de casa, em São José da Mata, fui morar perto de um terreno que tinha capim e ele ia levar o cavalo dele lá todo dia e voltava. Eu já ‘tava’ de olho nele, eu ia pra porta ficar olhando pra ele, mas ele não me dava tanta bola, porque eu tinha 14 anos e ele já era de maior.”, disse ela.
A noiva contou que após uma busca nas redes sociais ela conseguiu, enfim, falar melhor com ele: “Eu encontrei o Facebook dele, comentei uma foto e começamos a conversar. Nos separamos por um tempo, mas no dia 12 de junho de 2019 voltamos.”, disse. 5 anos depois, também em 12 de junho, o casal reafirmou a parceria, casando no Parque do Povo. Essa decisão nem sempre é fácil:“Meu noivo não queria, mas eu disse a ele: ‘A gente vai, amor. Vai ser muito bom.’ Eu acho uma festa lindíssima, eu gosto muito de entrevistas e holofotes, então eu decidi casar [no São João]. Em setembro vamos casar na igreja [católica].”, concluiu.
Enquanto alguns são mais reservados, outros amam uma festa cheia de gente, como é o caso de Andreia e Lievem, que se conheceram na escola e se reencontraram na internet depois de anos afastados: “Estamos juntos há 1 ano e 4 meses. Decidimos casar aqui porque queríamos que ficasse visto por todo mundo. Chamei a rua inteira, todos os meus amigos e amigas. A gente brinca muito, ele é a minha metade.”, pontuou a noiva.
O apoio da família e amigos é uma peça fundamental para deixar os noivos ainda mais completos: “A gente sempre quer que os nossos filhos realizem os seus sonhos, então esse era o sonho dela e eu apoiei.”, comentou Alexandra Fidelis, mãe da noiva Amanda Heloise. Já Juliana frança, 38, foi ao Parque do Povo assistir ao casamento da irmã: “Fiquei muito surpresa com isso, mas é legal, é divertido. A família ficou muito feliz com a decisão dela.”, disse.
Amanda Poliana, 38, uma das tantas madrinhas presentes na celebração do dia 12, contou que conheceu o seu compadre na infância e que já era madrinha da filha do casal. Em janeiro, no dia do seu casamento, pôde participar ainda mais da história deles: “Ela [a noiva] pegou o buquê no dia do meu casamento, esse ano, eu fiquei muito feliz e quando teve a inscrição eu incentivei ela a se inscrever no casamento. A prefeitura, mais uma vez, fez algo mágico nesse casamento e eu tenho certeza que cada um deles sairão daqui transbordando de felicidade.”, finalizou.
A festa não surpreende apenas os noivos, mas quem passa pelo Parque do Povo. Tarcísio Martins, 66, pessoense que trabalha em campina grande, nunca tinha presenciado o evento: “É a primeira vez que venho assistir. Nunca vi nada igual. É demais!! Show! Fantástico!”, comentou.
Ao meu amor serei atenta
Olenca Rayana, 31, contou ao Repórter Junino, com bom humor, a sua história: “Somos amigas há seis anos e no meio do caminho viramos inimigas. Como dizem: ‘o amor anda do lado do ódio e o amor sempre vence’, então, nesses seis anos a gente teve dois anos de amizade, ficamos um ano afastadas e daí começamos o nosso relacionamento. A personalidade parecida acabou nos afastando por uns 3 meses, mas foi o tempo pra gente refletir sobre o nosso amor e ver que realmente a gente precisava uma da outra pra seguir em frente.”, comentou apaixonada.
Junho não é apenas o mês de celebrar o São João, fazer simpatias para Santo Antônio, comer comidas típicas e dançar um bom forró, mas é o Mês do Orgulho, que marca a luta da população LGBTQIAPN+, que luta diariamente pelo direito de existir e de poder amar quem quiser. Tatiane Freire, 39, comentou sobre a decisão de casar no Casamento Coletivo: “A gente resolveu agarrar a ideia de unir o amor à tradição, aos festejos juninos, além dos custos, pois aqui eles nos oferecem tudo de graça.”, disse.
As noivas pontuaram a relevância do evento realizado no São João: “ É importante pra mostrar o quanto a gente pode apresentar a nossa causa. Ainda existe um preconceito com o LGBTQIAPN+, então isso vem trazer visibilidade do nosso casamento para o público.”, disse Olenca. “Tem tanta gente que tem essa vontade, mas não tem coragem. Queremos mostrar a todos que podemos sim ultrapassar barreiras, vencer os limites, os obstáculos, e vamos simbora se amar, porque a vida é felicidade, é amor.”, finalizou Tatiane.
O Parque do Povo estava lotado de casais para comemorar o dia 12 e, na Pirâmide, completamente decorada para esse momento, familiares e amigos estavam ansiosos para o grande ‘SIM’, dito por todos os casais. Certamente, uma noite inesquecível e que ficará marcada na história do público presente.
Djavan, em ‘Pétala’, cantou: “Por ser exato, o amor não cabe em si. Por ser encantado, o amor revela-se. Por ser amor, invade e fim.”, e foi assim que terminou a noite do Casamento Coletivo: casais encantados por estarem vivenciando o dia mais esperado de suas vidas. O amor se fez presente no ordinário, em uma quarta-feira, depois do expediente. Ele não tirou folga. Ele nunca tira.