Ancestralidade e Memória encerram segundo dia do evento Olho da Paraíba Mobphoto Festival

Campina Grande, 16 de junho de 2024

Reportagem: Nathália Aguiar

Fotografia: Gabryele Martins

Edição: Gabryele Martins


Apresentações culturais finalizam evento fotográfico. Foto: Gabryele Martins/Repórter Junino

O período junino ultrapassa os limites da fé cristã. Sua expressão vai além da religiosidade, encontrando solo fértil nos corações que estimam a Cultura Popular. Além do Parque do Povo, Campina respira e inspira aquilo que a move – a Arte. A cidade, localizada no Agreste da Paraíba, é um palco de possibilidades, enfeitado com chita, bandeirolas e, principalmente, talento. O Olho da Paraíba Mobphoto Festival compreendeu isso, promovendo, neste final de semana, um evento que envolve, além da mobgrafia – fotos produzidas, editadas e compartilhadas a partir de dispositivos móveis – Ancestralidade, Descolonização e Cultura Popular Nordestina.

O evento, que teve início na sexta-feira (14) com a abertura da exposição de fotos vencedoras do concurso Mobgráfico, encerrou-se no sábado (15), com apresentações que estremeceram a estrutura do Museu de Arte Popular da Paraíba. Sambada Lunar, Grupo Caétes e Dani Trovão e Trio tornaram a mensagem do evento ainda mais clara: promover visibilidade àquilo que temos de mais precioso em uma sociedade: sua Cultura.

Tendo como referência grandes mulheres da cultura popular, como Nega Duda, Mestra Pilar, Mestra Penha e Mestra Anita, a Sambada Lunar foi o primeiro grupo a se apresentar. Formado por quatro mulheres cisgênero e uma pessoa não-binária, o grupo envolve sua apresentação em um misto de ancestralidade, Memória e fé. Ayla, integrante do grupo, falou sobre as escolhas de repertório: “Trazemos todas as nossas referências, nossa ancestralidade da Umbanda e da Jurema, para firmar e perpetuar isso adiante. Também, para rememorar os cocos de roda aqui da Paraíba, para que isso não se apague, mas se perpetue, e a gente possa viver a nossa cultura de forma ativa”, finalizou.


Sambada Lunar leva caloclagem e coco de roda para o palco. Foto: Gabryele Martins/Repórter Junino

A banda se destaca por ser multi-instrumentista. Biru, que também integra a Sambada Lunar, explica a preferência: “O que botar na frente, a gente tá tocando, tá cantando. Sempre nos incentivamos para que todas possam se sentir à vontade para tocar o que quiserem e aprender qualquer instrumento. Estamos aqui experimentando tudo o que a Sambada Lunar traz de oportunidade para a gente dentro da musicalidade”

O grupo ainda aproveita para lançar uma crítica construtiva à falta de oportunidades na cidade. “Aqui em Campina Grande temos o Maior São João do Mundo e, atualmente, a gente entra no palco que deveria ser do povo, e deveria estar perpetuando a Cultura Popular e da nossa cidade, e vemos na verdade algo muito globalizado que não envolve nossas raízes e o que é realmente o nosso povo. Isso só cresce e coloca de lado o que é de fato a nossa raiz. Isso tira nossa voz e espaço. Nós não somos convocados a estar lá representando. Nosso processo musical também envolve essa ‘queixa’, como diria Caetano Veloso, – não só do Sambada, mas também outros grupos de Cultura Popular – de estarmos sendo escanteados para palcos menores”, compartilham.


Sambada Lunar se destaca pela variedade de instrumentos e vozes. Foto: Gabryele Martins/Repórter Junino

Em seguida, o Grupo Caetés foi responsável por manter a animação do público – responsabilidade que assumiu com entusiasmo há mais de 30 anos, quando foi formado no Colégio 11 de Outubro. Pela tradição que envolve o Caetés, são  sempre muito requisitados em diversos eventos culturais. Vanessa, dançarina do grupo,  falou sobre a experiência de fazer parte de algo tão grandioso: “É sempre muito importante e impactante participar de eventos como esse, como o do Parque do Povo. É muito realizador para a gente”, compartilhou. O grupo estará na próxima terça-feira, dia 18, em Boa Vista, no dia 22 no Arraial da Itararé e no dia 24, no Quadrilhódromo e na Pirâmide do Parque do Povo.


Dança e alegria com o Grupo Caetés. Foto: Gabryele Martins/Repórter Junino

Encerrando a noite, Dani Trovão e Trio trouxeram arrasta-pé para dançar agarradinho. O grupo, que foi destaque no II Festival de Trios de Forró de Queimadas, conquistando o terceiro lugar entre 30 concorrentes de muitas cidades do estado, animou o público com sucessos como “Só gosto de tudo grande” e “Me dá meu coração”.


Dani Trovão e Trio fizeram o público dançar forró agarradinho. Foto: Gabryele Martins/Repórter Junino

As apresentações que fizeram o segundo e último dia de evento do Olho da Paraíba Mobphoto Festival serem ainda mais especiais são aquelas que realmente devem estar em destaque na nossa cidade e região. Afinal, é através de grupos como Sambada Lunar, o Grupo Caetés e Dani Trovão e Trio, que a nossa Cultura Nordestina é firmada, preservada e repassada. São repentistas, forrozeiros, sanfoneiros e emboladores de coco que fazem nossa cultura e lutam diariamente pela sua resistência em palcos e chãos de terra. Que resistam, mas que nossa terra possa tornar a luta uma ginga, para que o combate seja compensado pelo prazer do sucesso e dos aplausos, tão merecidos.

Comentários