A presença de ritmos como o funk carioca e a música eletrônica evidenciam a expansão e adaptação do evento para atrair novos visitantes
Reportagem: Sara Kely e Joana Elen
Fotografia: Paulo Matheus
Edição: Milena Ferreira
Na noite desta quinta-feira (20), o São João de Campina Grande foi marcado por shows que foram do forró à música eletrônica. Com as apresentações de Felipe Farra, Matheus Fernandes, Alok e Dennis, o tempo chuvoso não serviu de empecilho para o público se divertir.
Matheus Fernandes se apresentando no São João de Campina Grande. Foto: Paulo Matheus
A primeira atração foi Felipe Farra, que subiu ao palco animado e contagiou os forrozeiros. Honrado por se apresentar n’O Maior São João do Mundo, Felipe aproveitou para agradecer a presença de todos que estiveram por lá. A noite seguiu com Matheus Fernandes, e o cantor cearense não deixou ninguém parado com o seu repertório, que mistura o forró, o sertanejo e a música eletrônica.
Alok animou o público na noite desta quinta-feira. Foto: Paulo Matheus
Um dos artistas mais aguardados na line-up deste ano, Alok, foi o responsável pela terceira apresentação da noite, e o público não se decepcionou. O DJ ainda prestou uma homenagem ao Nordeste; com o seu já conhecido show de drones, desenhou no céu elementos tradicionais das festividades juninas: o chapéu cangaceiro, a fogueira, o balão de São João e as bandeirolas.
Reconhecido como um ativista social, o DJ Alok utiliza sua influência e recursos para promover o desenvolvimento e ajudar aqueles que, sozinhos, não encontram oportunidades de viver dignamente. Em entrevista, ele nos conta sobre como concilia o ativismo e suas atividades artísticas, e reforça que doar é um ato inverso: “Toda vez que a gente parte do princípio de que estamos indo ajudar, na verdade, a gente está sendo muito mais ajudado. E foi dessa maneira, inclusive, que eu encontrei um sentido para fazer o que eu faço. Eu achava que já tinha sucesso, mas sentia um vazio existencial enorme. Quando eu fui lá, acabei sendo curado. Então se eu não estiver fazendo um trabalho filantrópico com a carreira e visibilidade que eu tenho, para mim não faz muito sentido estar onde eu estou”, finaliza.
DJ Alok se apresenta em Campina Grande pelo terceiro ano consecutivo. Foto: Paulo Matheus
Funk no São João?
O Parque do Povo é berço para manifestações populares e, ao longo de seus mais de 40 anos de história, já deu palco para milhares de artistas com as mais variadas raízes e influências culturais. Para encerrar a noite desta quinta-feira, Campina Grande recebeu, de braços abertos, o DJ e compositor Dennis, responsável por hits de funk carioca como “Cerol na mão”, “Um tapinha não dói” e “Vai lacraia”.
À primeira vista, a mistura de ritmos pode causar estranheza, no entanto, identificam-se semelhanças nas origens tanto do funk carioca, como do forró, tradicional na terra do Maior São João do Mundo.
O funk carioca, nascido na periferia do Rio de Janeiro e marginalizado por anos, se consolidou como um dos movimentos culturais mais vibrantes do Brasil. Suas letras retratam a dura realidade das favelas, com temas como pobreza, violência, amor e sensualidade. Tornou-se uma forma de expressão autêntica e um grito de resistência contra a exclusão e a violência. Mais do que um ritmo, o funk carioca é um símbolo da força e da resistência da cultura popular brasileira.
Por outro lado, o forró, nascido no Nordeste, tem raízes no xote, xaxado e baião. Inicialmente marginalizado, foi gradualmente aceito e incorporado à cultura nacional, celebrando a identidade nordestina. Ambos os gêneros são exemplos vivos de como a música pode servir como um meio de expressão cultural e resistência, refletindo as realidades sociais e econômicas de suas comunidades de origem. Eles são fundamentais para entender a diversidade e riqueza cultural do nosso país.
Com isso em mente, perguntamos ao Dennis como foi a preparação do repertório para seu primeiro show no São João de Campina Grande, misturando os hits de funk com os clássicos do forró: “Toda vez que eu vou tocar, a gente já tem um set pronto, com as músicas que a gente não pode deixar de tocar. Mas cada lugar que eu vou, eu procuro saber o que está acontecendo, o que está tocando, o que o pessoal está gostando. Eu vou lá e faço o remix; também fiz algumas músicas de artistas do Nordeste”, completa.
Em meio aos sons distintos do funk carioca e do forró nordestino, encontramos uma sinfonia de resistência e identidade cultural que ecoa a alma do Brasil. Preservar essa riqueza musical é honrar as vozes que, através de batidas e melodias, narram a história e os anseios de suas comunidades. Cada nota carrega a essência de um povo, suas lutas e suas alegrias. A união desses sons diversos celebra a nossa diversidade cultural, e nos lembra que a verdadeira harmonia surge quando acolhemos todas as expressões musicais como parte de um todo vibrante e inclusivo. Que a música continue sendo o palco onde todas as vozes se encontram e se fortalecem.