Do oriente ao ocidente os fogos de artifício fazem parte da cultura popular de diversos países, não sendo diferente, é claro, no Brasil, que no período junino acarreta uma prática mais intensa do uso de objetos pirotécnicos. Diante disso, alguns pontos importantes sobre esta adesão não devem ficar fora de abordagem, como o manuseio correto destes produtos, sua fiscalização, venda e potenciais riscos eminentes neste período.
Tomemos então, por exemplo, a cidade de Campina Grande, palco do Maior São João do Mundo, são mais de trinta dias de festas e com eles vem a tradição anual das queimas de fogos, que seja no início ou durante as festividades, marcam os eventos juninos da cidade, bem como o aumento da utilização popular de artefatos explosivos, o que intensifica o movimento comercial, beneficiando as várias formas de trabalhos ligados a esta área.
Para melhor ilustrar como funciona a logística de comercialização de fogos de artifício e demais segmentos, o Repórter Junino conversou com a Joelma Nascimento (45), que além de professora é proprietária de duas barracas de venda comercial destes produtos, junto com o seu esposo Marcos Florêncio (57), que há mais de quarenta anos comercializa fogos na cidade.
Ao falar um pouco sobre a trajetória histórica dos barraqueiros de Campina, Joelma cita que tudo começou no espaço onde hoje é conhecido como a “Feira do Pela Porco” tendo como pioneiros comerciais a família dos Florêncios, ela relata que na época o número de barracas era bem menor, já que atualmente se somam 22 barracas estabelecidas, cadastradas e localizadas há três anos na Avenida Dinamérica.
Segundo ela, o número de vendas poderia ser maior, já que há uma irregularidade frequente do local de estabelecimento dos barraqueiros atuais, Joelma disse que a prefeitura procura um terreno adequado para as vendas e já disponibilizaram um pré-cadastro para que eles participem do projeto de relocação, mas até agora nenhum local foi considerado adequado pelo corpo de bombeiros para estabelecê-los fixamente, e com isto o prejuízo chega a afetar nas vendas em até 80% comparado ao antigo local.
A professora destacou que quando trabalhavam em frente ao terminal rodoviário as vendas eram mais estratégicas, por se tratar de uma via para alça Sudoeste, logo, quem iria para o sertão ou para o litoral acabava comprando o material, mesmo que não fosse para o São João. “As pessoas levavam para suas cidades, para outras finalidades também, já aqui passamos dias e dias sem vender, tem gente que nem abre todos os dias porque não está tendo rentabilidade”, destacou.
Joelma ainda enfatizou que apesar disso há um fluxo de pessoas que vêm de outras cidades a procura destes produtos, pelo menos em lugares onde não aconteça a venda dos mesmos, dentre os motivos para isto está a falta de segurança, ela cita um exemplo: “na cidade de Queimadas já incendiaram barracas de fogos, gerando um grande prejuízo para quem investe, tornando-se inviável trabalhar com tamanha insegurança”.
De acordo com a vendedora, os produtos comercializados em Campina Grande, vêm da cidade de Santo Antônio do Monte – MG, a outra parte é fabricada na China e o preço é bem equiparado, tanto dos nacionais como dos importados, ela acrescenta que todos os barraqueiros vendem no atacado e varejo para suprir a demanda dos diferentes clientes.
O cadastro das barracas é passado pelos bombeiros e pela prefeitura, quase todos os vendedores tem o curso Blaster em Pirotecnia, que ensina a manusear os fogos e outras vertentes, como explosivos de mineração. Essas capacitações são de extrema importância para fazer shows pirotécnicos com habilitação, principalmente para o repasse direto dos artifícios entre os vendedores e clientes no que diz respeito ao manuseio dos fogos.
Já os bombeiros cumprem o papel da fiscalização nestes locais em termos de instalação e extintores, onde todos os anos os barraqueiros fazem treinamento e reciclagem. Para cada barraca é exigido dois extintores, sendo um de pó químico e outro de água. Mesmo fora do período junino é comum que uma das barracas permaneça aberta durante todo o ano, apesar da escassa rentabilidade.
“Para que as pessoas passem e vejam que tem gente funcionando nas barracas, evitar que as pessoas pensem que estão abandonadas e chegar a acontecer arrombamentos de barracas, como já aconteceu cerca de três vezes. O fluxo de fogos de artifício é só no período junino, mas quando tem alguma comemoração em especial e as pessoas já nos conhecem, ligam e atendemos normalmente”, explicou.
Questionada sobre a polêmica de produtos irregulares, ela ressalta: “o número de pessoas que procuram diminuiu, porque as pessoas já sabem que é proibido, mas de vez em quando ainda chega uma pessoa mais desinformada e ainda procura, outras pessoas ainda insistem perguntando se a gente não tem escondido para vender, mas até a pessoa que fabricava parou de fazer e ninguém quer mais se envolver com estas coisas para não procurar problemas.”
Atendimento hospitalar e corpo de bombeiros
Dotado de uma área de atendimento específico às queimaduras, o Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, de Campina Grande, realizou uma campanha de prevenção para o problema durante as festividades juninas do ano de 2015, com o objetivo de conscientizar a população na utilização dos artifícios, já que anualmente os números de causas aumentam durante este período.
O Repórter Junino também conversou com Francine Gonçalves, enfermeira do Trauma. Na oportunidade ela destacou que os perigos das queimaduras variam de acordo com o seu grau de complexidade, mais elevado o grau, mais piora a gravidade, correndo o risco de infecção. Ela também esclareceu que a extensão da queimadura é pior que a profundidade, dependendo do tamanho da pessoa. Sendo assim, deve-se ter um cuidado especial com as crianças.
A funcionária também deu dicas de cuidados imediatos para os casos: “realizar os primeiros socorros sem colocar nenhuma substância inapropriada no local, resfriar o local com água corrente, no mínimo cinco minutos até o paciente sentir um alívio, colocar algo molhado para cobrir como uma gaze ou algo esterilizado, e trazer a vítima direto para o hospital. Nunca estourar as bolhas, se for uma de segundo grau que tenha bolhas, a gente chama de Flictenas, sempre deixar para estourar no local apropriado, no caso, seria aqui no hospital do trauma”.
O Cabo Janiel que atua há sete anos no Pelotão de Atendimento Pré-Hospitalar do Segundo Batalhão de Bombeiros Militar da cidade, salientou com relação às queimas de fogos no São João: “o Centro de Atividade Técnico dos bombeiros (CAT), faz uma vistoria, ou seja, os fogos que são queimados têm toda uma proteção e um planejamento, antes que eles sejam realizados pra que não aconteçam acidentes”.
Dessa forma, ele garante que durante a visualização das queimas de fogos, o pessoal responsável têm o cuidado na questão das explosões, mas que sempre se deve evitar estar muito próximo, “infelizmente não dá pra gente ter o controle de tudo”, acrescentou. Segundo ele com a intensificação das fiscalizações do CAT o índice de acidentes diminuiu. O mais comum é que o número de pacientes com queimaduras cresça gradativamente nos dias de fogueiras.
Com relação às crianças, para esses dias de festejos e brincadeiras em família, o Cabo ressalta os cuidados que os pais e responsáveis devem ter: “não sei se muitos devem saber, mas todos os fogos têm uma classificação de utilização; Exemplo, eu não posso pegar um Foguetão e dar para uma criança para que ela utilize”.
Ele ainda ressaltou que durante a compra dos objetos, os pais devem indicar qual a idade dos seus filhos para que os representantes repassem os fogos adequados para determinada utilização, também disse que antes de qualquer manuseio é preciso realizar a leitura das instruções e para que o São João de todos seja ainda mais seguro, sempre é recomendável verificar se não tem algo de risco por perto, como combustível, álcool ou qualquer outra substância que possa incinerar.