Você certamente já ouviu falar em Pabllo Vittar, a drag queen cantora que ficou conhecida no Brasil pelos hits “K.O”, com mais de 300 milhões de visualizações no Youtube, “Corpo Sensual”, com aproximadamente 235 milhões, e “Sua cara” em parceria com Anitta e Major Lazer, com mais de 370 milhões de visualizações na mesma plataforma. Ela, assim como outras artistas nacionais e internacionais, quebrou estereótipos de gênero e trouxe visibilidade para a arte Drag.
Esse viés artístico, por mais que pareça recente, vem de muito tempo atrás. Com o surgimento do teatro na sociedade antiga, os personagens femininos eram interpretados por homens, já que as mulheres não podiam participar. No decorrer do tempo, a participação das mulheres foi se tornando cada vez mais presente e homens interpretando papeis femininos passou a ser frequente somente nas comédias. Até que no século XX o crescimento da cultura pop trouxe à tona a arte transformista, consolidando o nome “Drag Queen”.
Todo esse processo faz parte da história desse viés artístico, que hoje, após vários momentos de resistência, está inserida nos mais diversos ambientes, incluindo nossa cultura regional nordestina. As quadrilhas juninas são símbolo imaterial do São João e estão espalhadas por todo Brasil, principalmente no eixo Pernambuco/Paraíba. E foi na capital Pernambucana que encontramos três transformistas que, além de encantar com figurinos e maquiagens, dançam MUITO FORRÓ.
A quadrilha junina Evolução fundada em 2008 em Recife, e atual campeã da Rede Globo em Pernambuco, conta com mais de 10 títulos em competições e diversas personagens femininas interpretadas por homens. Uma delas é Danielly Fox “nascida há 5 anos” e interpretada por Ícaro Daniel, de 25 anos, que dança em quadrilhas há 10 anos.
“A importância de representar uma figura feminina é mostrar para a sociedade que cada um pode ser o que quiser ser. Eu costumo dizer que faço a arte transformista. Independentemente de qualquer ambiente, junino ou não, cada um tem o direito de se vestir como quer, e ser quem quiser ser”, enfatizou.
Gabriel Andrade, de 21 anos, é ator e já deu vida a diversas personagens femininas, mas destaca o desafio que está sendo seu primeiro ano na Evolução. “Esse ano interpreto a Dona Francisca, Fran para os íntimos. Me sinto em um desafio completamente diferente, porque na outra junina que fiz parte eu fui apenas personagem, só fiz atuar. Dessa vez o desafio é diferente, né? Eu vou além de atuar, vou ter que dançar, vou ter que formar no quadrado, todo esse processo que para mim é muito novo”.
Além disso o ator destacou o quanto se sente acolhido pela arte para interpretar qualquer personagem. “Acredito que o único trabalho que envolve a todos de maneira geral e livre de rótulos, de fato, é o trabalho artístico. Isso acontece nas diversas modalidades de fazer arte, inclusive quadrilha”.
Se até mesmo para quem já é experiente no universo das quadrilhas ou do teatro, cada apresentação é um desafio, não seria diferente para Ronaldo Luna, de 22 anos, que esse ano vai estrear como dama na Junina Evolução. “Nesse São João vou dar vida a Aniele Daniela, uma garota alegre, sorridente e espontânea. Pra mim dançar de dama foi, na verdade, uma quebra de protocolos, porque é o primeiro ano dançando como dama e ainda não tenho saia, arranjo, salto para dançar e os outros meninos já tem. Até fiquei pra baixo, mas uma palavra amiga me reanimou. Ainda falta muita coisa, mas pertencer a Evolução é revigorante”, destacou.
A manutenção de costumes tradicionais juninos é importante para a cultura regional, na formação de uma identidade social. As quadrilhas trazem o sentimento de pertencimento inclusivo para todos e essa representação da diversidade só demonstra o verdadeiro significado da palavra Evolução. Assim como o forró é a marca das quadrilhas, as quadrilhas são a marca do São João, e o São João é a marca do povo nordestino. Viva São João, viva a arte, viva a cultura, viva as Drag Queens do forró!