São João também é inclusão: alunos da Educação Especial participam ativamente dos eventos juninos em Campina Grande

Campina Grande, 8 de junho de 2018  ·  Escrito por Mayara Oliveira  ·  Editado por Mateus Almeida

Tudo que acrescenta de forma cultural na vida de um indivíduo pode ser considerado de extrema relevância para o seu desenvolvimento pessoal e social. Há anos as escolas brasileiras recebem diretrizes para uma política de educação especial na perspectiva inclusiva que vá além das salas de aula, visando o enriquecimento dos alunos com deficiência.

É comum que durante a época de São João as unidades educacionais (escolas e creches) se mobilizem para organizar eventos específicos com a temática junina, o que contribui de maneira direta para a interação dos participantes, incluindo, é claro, o público-alvo da Educação Especial, que mesmo com algumas dificuldades podem encontrar diversão e aprendizado em eventos como este.

Para entender melhor como se dá a inclusão educacional de crianças, adolescentes, jovens e adultos com necessidades educativas especiais nas escolas e creches de Campina Grande, onde o São João é o portfólio da cultura local, o Repórter Junino conversou com a Professora Vera Passos diretora técnico pedagógica da Secretaria de Educação (SEDUC), do município.

Sabendo da importância que tem a diversidade cultural como didática para os alunos deficientes, ela afirma: “Eles são incluídos em toda a programação regular das escolas e das creches, não há uma programação especifica pra eles porque nosso trabalho é exatamente da inclusão”.

Letícia (estudante da rede municipal) e a cuidadora da antiga escola. Foto de arquivo pessoal.

Letícia (estudante da rede municipal) e a cuidadora da antiga escola. Foto de arquivo pessoal.

De acordo com ela, a secretaria orienta que seja trabalhado nos espaços educacionais de Campina os aspectos relacionados ao São João, sendo eles históricos, culturais, sociais, religiosos e do meio ambiente, assim, é de extrema importância que os alunos aprendam toda a história, a questão ambiental e social deste período.

“Eles não vão apenas dançar uma quadrilha, não apenas participar da festinha junina, que realmente também nós fazemos, mas essa festinha junina, essas quadrilhas, são culminâncias de estudos, porque o importante realmente é essa formação do educando, e aí entra toda essa parte dos conhecimentos.” Destacou.

No total, das 126 escolas do município, estão matriculados 1100 alunos na educação especial, sendo possível encontrar em cada escola de uma até cinco crianças, adolescentes, jovens e adultos com Transtornos Globais de Desenvolvimento, e alta habilidade/Superdotação.

Segundo a coordenadora de Educação Especial/Inclusiva, Iara de Moraes (SEDUC-CG), o número de alunos cresceu consideravelmente com a efetivação de uma política inclusiva, que contém cerca de cinquenta Salas de Recursos Multifuncionais para o Atendimento Educacional Especializado (AEE) desses estudantes. Essas salas especiais contam com 67 professores e 190 cuidadores, no acompanhamento de 178 alunos.

Faz parte do processo educativo da região um atendimento especializado no curso de libras e Formação Continuada para os professores das Salas Regulares e de Recursos Multifuncionais e Cuidadores, como também um acompanhamento aos alunos dos municípios do Polo de Campina Grande, no Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade.

A professora de uma das Salas de Recursos Multifuncionais, Luzia Débora Feitosa, da Escola Municipal Ageu Genuíno da Silva, no bairro da Ramadinha, explicou pra gente como funciona o seu trabalho com os alunos da Educação Especial.

“A inclusão na nossa escola acontece no cotidiano, nas rotinas que são elaboradas junto aos professores da Sala Regular, em todas as ações pedagógicas, em tudo que é desenvolvido no currículo interno da escola as crianças Público Alvo da Educação Especial fazem parte, elas são protagonistas das próprias histórias.”

Além disso, ela enfatizou que as crianças são estimuladas a desenvolverem autonomia, identidade e a participarem de forma ativa em apresentações, o que se vincula ao processo de inclusão, então no período junino todas as salas participam das apresentações.

Segundo ela, no ano de 2016 as crianças (que tem o direito de participar da grande quadrilha ou de peças teatrais), foram protagonistas e coadjuvantes da peça escolar “Pombinha Branca”, e em 2017 optaram por participar da quadrilha.

“A peça tinha a temática do casamento junino, do amor junino, da diversão junina. Para essa vivência das crianças é também uma forma de diversão, trabalhando assim a inclusão dos alunos aos demais participantes da escola, onde eles são valorizados, vistos e prestigiados por toda a comunidade escolar.” Afirmou a professora.

Letícia e a família sempre estão juntos no São João. Foto de arquivo pessoal

Letícia e a família sempre estão juntos no São João. Foto de arquivo pessoal

Por falar em diversão, que também é a cara do São João, batemos um papo com Maria Ducarmo Oliveira (42), Mãe de Letícia Oliveira (13), que faz parte dos alunos com deficiência do ensino público da cidade. Desde o nascimento Letícia tem Paralisia Cerebral, devido a complicações no parto, o que acabou prejudicando sua visão, coordenação motora e o desenvolvimento da fala.

Nos últimos três anos Letícia estudou e participou do São João em uma escola próxima a sua casa, segundo Ducarmo: “É uma coisa que ela gosta, se diverte, ela tem uma audição boa, então tem coisa que ela entende e absorve bem, isso aí já nos deixa muito feliz e ela é uma criança feliz também, Letícia tem contato com muita gente”.

Esse é o primeiro ano da estudante na Escola Municipal EF Lions Prata, e a mãe já destaca: “Ela vai participar da quadrilha, uma amiga minha falou que tem quadrilha lá, então se tiver, com certeza ela marcará presença.” Ao ser questionada sobre as atividades juninas preferidas da filha, Ducarmo responde:

“Como eu convivo vinte e quatro horas com Letícia, temos uns códigos, adquiri uns códigos pra gente, o que ela gosta mesmo é de dançar; Ela ama dançar! Também gosta de Canjica, pamonha, bolo de milho… a gente está sempre procurando o melhor pra ela e no período junino ela gosta bastante de se divertir.”

No geral é possível dizer que o São João além de exaltar a cultura popular nordestina do Brasil, também acaba sendo didático para as crianças, que através da educação encontram nesse e outros períodos culturais suas representatividades e desenvolvimentos sociais.

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