Trios de forró, uma identidade cultural

Campina Grande, 9 de junho de 2018  ·  Escrito por Inaldete Almeida  ·  Editado por Bruna Martins  ·  Fotos de Inaldete Almeida

Do sucesso a  batalha para manter a tradição

A história dos trios de forró começa com o rei do baião, Luiz Gonzaga. Exímio tocador de sanfona, Gonzaga sentiu a necessidade de um acompanhamento que marcasse o ritmo da música em suas apresentações. Inspirado pelas bandas de pífano que havia no sertão e nos instrumentos de couro utilizados no Rio de Janeiro. Gonzagão incluiu a zabumba em sua performance. Mas o resultado ainda lhe inquietava, faltava algo que fosse de encontro àquele som “abafado” produzido pelo couro. E a solução veio do “ting-ling” que um menino fazia com um triângulo pelas ruas do Recife chamando atenção para os biscoitos que vendia. Ao ouvir a cadência com que o garoto tocava aquele instrumento, o rei do baião definiu: “pronto, achei o marido da zabumba!”.

Desde então, o trio passou a fazer parte da identidade cultural da música nordestina. Alguns trios de forró conseguiram alcançar a fama, como o Trio Nordestino, os Três do Nordeste, Trio Mossoró entre tantos outros que fizeram sucesso em todo o Brasil e ainda mantêm um grande número de fãs.

Trio Fulô de Mandacaru. Foto de arquivo pessoal.

Trio Fulô de Mandacaru. Foto: Inaldete Almeida.

Novos nomes vêm ganhando visibilidade no cenário nacional. Um grande exemplo é o trio Fulô de Mandacaru que nasceu  em Caruaru – PE. O trio foi campeão em um concurso nacional de música transmitido pela Rede Globo, o Superstar, consagrando o sucesso que o grupo já fazia em todo o nordeste.  

O trio foi formado em 2001, por Armandinho, na época com 15 anos, Pingo com 10 anos e Diego César com 15 anos. Os três adolescentes começaram a tocar nas festas de amigos no São João de Caruaru e logo conquistaram uma legião de fãs. Hoje o trio é composto por Armandinho do Acordeom, Pingo Barros e Bruno Mattos.

Apesar de ser a quarta geração de uma família de músicos, o trio só começou a sentir o sucesso ao ser chamado para abrir as festividades do São João oficial da cidade de Caruaru, no ano de 2004. A partir daí ninguém mais segurou esses representantes da música popular nordestina, que já tocaram no exterior, levando a cultura musical do nordeste à Europa.

Já são  sete CDs, três DVDs gravados e cerca de vinte shows por mês. Segundo Pingo, a ousadia e a nova roupagem que eles deram a zabumba, triângulo e sanfona, tem conquistado um público de todas as idades, especialmente as novas gerações, como frisou o vocalista: “nós temos essa missão: antes de ser cultural é educacional! Nosso objetivo é mostrar para as novas gerações, mostrar pra esse jovem a cultura dos seus pais, dos seus avós e dizer que essa história também é a deles! Nós somos nordestinos principalmente, e como nordestinos nós temos que preservar essa identidade”.

OUTRA REALIDADE

Trio Expressão do Forró. Foto de arquivo pessoal.

Trio Expressão do Forró. Foto de arquivo pessoal.

Mas nem todos os trios de forró conseguem viver de sua arte. Pra quem ainda não conquistou fama e dinheiro, cada dia é uma batalha para manter a tradição do “forró pé de serra”. Durante o mês de junho o cachê é garantido, mas no restante do ano, seus integrantes precisam manter outra atividade profissional para garantir o sustento de suas famílias.

Durante o mês de junho, os trios de forró de Campina Grande e região, vivem um momento de expectativa na ânsia de conquistar alguma visibilidade. Para muitos é o momento de garantir uma renda extra, já que conseguem elevar um pouco o valor de seus cachês. Mas para quem está na batalha a tantos anos, é também o momento de sonhar com o sucesso e a possibilidade de viver seu momento de fama.

O trio pé de serra Expressão do Forró aqui de Campina Grande, já tem 20 anos de carreira. Assim como o Fulô de Mandacaru, o Expressão do Forró também é um grupo familiar, composto pelos irmãos Roberto, no acordeom, Edvaldo na zabumba e Toni que além de tocar triângulo, é vocalista. Para eles a música é uma herança familiar. Filhos e sobrinhos de sanfoneiros, os irmãos nunca frequentaram escola de música, todo conhecimento foi adquirido dentro de casa e pelos longos anos de estrada.

Em Campina Grande o forró tradicional fica adormecido durante pelo menos dez meses do ano, o que dificulta a esses artistas conseguir algum contrato para shows, tornando a música uma atividade em segundo plano.

Apesar de toda dificuldade em viver desse ofício, os irmãos não desistem da busca pelo sucesso. Segundo Toni, o mercado da música pé de serra é bem concorrido mesmo assim, alguns contratos para eventos surgem fora do período junino, com um cachê que varia entre R$500,00 e R$ 700,00, para três horas de apresentação, o que não é suficiente para manter o sustento das famílias.

No período junino, a procura é grande, cerca de  30 apresentações, com contratos que podem chegar a R$ 2.000,00, mas no decorrer do ano ficam restritos a festas de aniversários e outras comemorações, geralmente na zona rural, com um cachê bem reduzido.

Mas as despesas familiares não podem esperar pelo período junino, e para se manter, cada um precisa de outro tipo de trabalho, o zabumbeiro Edvaldo exerce a função de pedreiro, o sanfoneiro Beto vira moto taxista, já o vocalista Toni, trabalha como locutor de loja no comércio da cidade.

O trio Expressão do Forró se orgulha de já ter aberto shows de bandas famosas como Cavalo de Pau, mas almeja o seu próprio espaço ao sol. O vocalista Toni, falou sobre a falta de apoio: “nós não temos empresário, eu mesmo faço os contatos, divulgação e todo material artístico para tentar vender nosso show. Os empresários aqui da cidade não valorizam o nosso trabalho. Já tivemos interessados de outras cidades, já tocamos em Cabaceiras, Aroeiras, Guarabira, João Pessoa, mas na cidade, prata da casa não requer muito valor, não é muito procurado. Então cada trio é seu próprio empresário, cada um corre atrás de efetuar um bom trabalho, divulgar pra surgir mais procura. O negócio é esse!”.

Apesar de todas as dificuldades, os trios de forró pé de serra continuam sendo uma identidade cultural da música popular nordestina. Não se fala de festa junina no nordeste sem que a imagem da sanfona, zabumba e triângulo venham de imediato à mente de quem já esteve por aqui.

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