Durante esta última semana, o Repórter Junino acompanhou o dia a dia dos barraqueiros que perderam tudo no incêndio do dia 30 de junho no Parque do Povo. Um quarteirão, composto por 24 barracas, foi destruído pelo fogo, cuja causa ainda permanece sem definição por laudo pericial, que só deve sair em 30 dias. Em questão de minutos, todo o investimento angariado pelos comerciantes para os trinta dias de festa desapareceu, restando a eles, então, reerguer as forças e lutar contra o tempo, superando as expectativas nos sete dias finais de São João.
Mal o dia amanheceu, o local da fatalidade já havia sido limpo e os entulhos, despejados no bairro do Pedregal. Com o maquinário emprestado, a comerciante Joelma Nascimento, 46, perdeu toda a estrutura que tinha para produzir seus petiscos. “Parecia cena de filme. Não sabíamos o que fazer ou como salvar o pouco que tínhamos. Agora, vou ter que pedir novamente a outras pessoas material para passar esses últimos dias até o encerramento”, comentou na noite da terça-feira, dia 03 de julho.
Enquanto organizava os ajustes da tenda improvisada, fornecida por uma das patrocinadoras do evento, conversou desesperançosa com a equipe de reportagem. Segundo ela, já no domingo, a Prefeitura cumpriu a promessa e disponibilizou tendas brancas, “aquelas de festas”, como falou, para que se estabelecessem. Mas poucos foram os barraqueiros que as aceitaram. “No domingo, acho que só dois de nós vieram. Além de estarmos muito abalados, não aceitamos as primeiras tendas porque eram muito precárias para o tipo de comidas que temos”, disse referindo-se ao fato de que muitos comércios serviam comidas preparadas na hora com fogão e gás. E continuou: “ontem (segunda-feira), foi que essas (da patrocinadora) chegaram, mas mesmo assim, sem shows no palco principal, não abrimos. Estamos esperando que a partir de quarta a gente consiga lucrar algo”.
Já Elieuba Lucena, 54, barraqueira há mais de dez anos, contou sobre a esperança de ver as promessas cumpridas. “Tanto a Prefeitura quanto a empresa Aliança prometeram ajudar. A Skol deu as barracas, vinte pacotes de cerveja e cinco de refrigerante, mas sabemos que ainda é pouco para o que investimos”, desabafou em frente à tenda designada para o seu ‘Point do Caldinho’. Para ela, que vende caldos variados e petiscos como macaxeira com carne de sol, a situação é difícil, uma vez que não vendem churrasquinhos como a maioria dos outros negócios. “As tendas não são ruins, mas são muito abertas. Temos que cozinhar na hora para o cliente aprovar a qualidade e voltar. Não sei como serão esses próximos dias”, soou desanimada três dias após o incêndio.
Com a gama de atrações começando no dia posterior, quarta-feira, a programação festiva atraiu campinenses e turistas para o quartel general do forró. A realidade do fim do Maior São João do Mundo se aproximava e nos dias de festa, como na quinta com Devinho Novaes e Márcia Fellipe, e na sexta, com Dorgival Dantas e Flávio José, a possibilidade de lucro acima do esperado, após a fatalidade, aumentou.
Visando melhorar o atendimento e preservar os produtos, comerciantes fecharam as laterais das suas barracas improvisadas. A equipe do Repórter Junino procurou, no domingo de encerramento do São João, as mesmas comerciantes do começo da semana para saber um pouco mais de como foi sua semana. Joelma, quando questionada sobre os lucro, falou esperançosa: “estamos aproveitando o movimento de hoje para tentar escapar um pouco. Não estou com os mesmos produtos, mas vamos levando”.
Da mesma forma, Elieuba comentou a sua versão dos fatos. Para ela, sobre os produtos que ofertava, disse que apenas os caldinhos continuaram, mas em menor quantidade. “Temos a fava, o de charque e o de camarão, mas perdemos nossos petiscos. Como você pode ver, trocamos pelo churrasquinho, mas estamos tendo um bom retorno”, confirma revezando nas respostas entre a equipe de reportagem e os fregueses.
Elieuba também comenta que a Prefeitura e a empresa Aliança Comunicação e Cultura depositaram durante a semana um valor como indenização, mas ainda existem outras promessas que serão cumpridas ao longo do ano. Quando questionada sobre a possibilidade de ter tido um telão para que as pessoas pudessem assistir ao jogo do Brasil, na sexta-feira, exposto em frente à sua barraca, respondeu: “Teria sido muito bom. Alguns de nós abririam mais cedo e o movimento até compensaria em certo ponto, mas choveu, então a televisão teve que ficar no mesmo lugar de sempre mesmo, para nossa falta de sorte” lamentou.
Aproveitando os derradeiros dias de festa, o campinense Sérgio Carlos, 37, levou a família para o Parque do Povo para lanchar nas tendas a fim de ajudar, de alguma forma, aos barraqueiros. “Viemos ajudar, fazer nossa parte. Eles perderam tudo e, mesmo assim, estão lutando pra ganhar alguma coisa e não sair com as mãos abanando. É o mínimo que podemos fazer”, disse, sendo seguido pelo aceno positivo de sua esposa.
Quem também estava passeando e desfrutou das mercadorias expostas pelos comerciantes foi Everton Porto, 34. O morador de Campina comentou que já havia ido ao Parque do Povo antes do incêndio, mas que não havia comparação: as tendas atuais estavam melhor do que a estrutura anterior. “Prefiro 10 mil vezes como está agora. Muitas vezes, eu não entrava nas barracas porque eram muito fechadas. Agora, está uma praça de alimentação. Escolho o que quiser, sento, vejo todo mundo. Está bom demais!”, contou entre mordidas de seu espetinho de carne, item recorde de venda entre os barraqueiros.
Vindo de João Pessoa, o geólogo e historiador, Paulo Matias, 59, disse ser sua primeira vez no quartel general do forró. Devido a agenda de trabalho, a única brecha foi neste final de semana. Paulo comentou que soube muito pouco sobre o incêndio até chegar ao local. Após uma breve explicação, comentou que havia notado a diferença do quarteirão com o cenário total do Parque do Povo. “Soubemos agora do que houve. Paramos para ver e acabamos vindo comer por aqui mesmo. Espero que consigam sair mais fortes desse episódio”, comentou.
Os dados oficiais fornecidos pela organização do evento atestaram a grande quantidade de visitantes que passaram pelo Parque do Povo nestes últimos sete dias. Como reflexo, as barracas que, antes destruídas pelo fogo, conseguiram, de alguma forma, minimizar os danos totais sofridos após a fatalidade que marcou o local e a mente dos comerciantes a ferro e fogo.